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Forte Apache

A vã glória de aborrecer

José Meireles Graça, 22.07.12

Lembrei-me dele por causa deste post, no qual um interminável soporífero é recomendado, sem piedade, a indefesos meninos e meninas.


É triste, mas as coisas são o que são: na ordem natural das coisas, Manuel de Oliveira não durará muito mais. Antecipo, para quando morrer, uma longa série de declarações oficiais, uma comoção nos meios de comunicação social, horas e horas de entrevistas, recensões de publicações no estrangeiro, bandeiras a meia haste e o mais de que se lembre quem há muito o promoveu a génio.


Enquanto é vivo, posso ainda dizer: Manuel de Oliveira é um realizador cujos únicos méritos consistem em fazer filmes de tal modo maus que quase ninguém acredita que possam ser tão maus como parecem, teimar em fazê-los para lá de todo o enjoo e toda a indiferença de quem não o tolera mais de dez minutos, e durar há décadas. Esta durabilidade é em parte chave do sucesso - em Portugal qualquer artista que produza tenazmente e ultrapasse os quarenta tem pelo menos talento e, se ultrapassar os setenta, passa automaticamente ao estatuto de génio - é a genialidade em regime de diuturnidades.


Fosse eu a personagem importante que com grande pena minha não sou, estas linhas singelas mereceriam um coro de indignados protestos de quanto intelectual profundo leu dez livros da moda e viu uma dúzia de clássicos da VII Arte; não falando dos que defendem a produção artística a golpes de subsídios, que são quase todos os que têm importantes mensagens a comunicar aos seus contemporâneos distraídos.


Se houver porém quem goste genuinamente das estopadas que Oliveira regularmente debita, relevar-me-á o atrevimento se se lembrar que, como contribuinte, paguei; e era o que mais faltava se, além de pagar, não pudesse refilar.

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