Bom jornalismo, mau jornalismo
Entre Janeiro e Abril, os jornais portugueses perderam 75 mil leitores. Esta é uma realidade dura e crua. Dever-se-á ao facto de os portugueses lerem menos? Nem por sombras. Os hábitos de leitura estão cada vez mais enraizados entre nós. Acontece, isso sim, que em Portugal os jornais são cada vez menos utilizados por pessoas que necessitam de informação. E refiro-me apenas ao conjunto dos jornais portugueses: a grande imprensa internacional, pelo contrário, tem marcado presença constante nos postos de venda entre nós. Mas é sobretudo à internet que os nossos compatriotas se habituaram a recorrer para estarem permanentemente informados.
Quem estará a errar? Os consumidores ou os produtores de informação?
Lamentavelmente, a culpa é dos jornais. E dou um exemplo recolhido da imprensa portuguesa de hoje. A propósito do falecimento da grande cantora mexicana Chavela Vargas, um dos maiores nomes da música latino-americana com expressão universal.
Eu era há muito admirador dela. E sei que Chavela tem largos milhares de fãs em Portugal.
Lamentavelmente, a sua morte passou quase despercebida na imprensa portuguesa. Procurei nos cinco jornais diários generalistas. Apenas um cumpriu neste caso a sua obrigação de informar. Foi o mais jovem de todos eles, o diário i, pela pena do jornalista António Rodrigues. Numa boa crónica inserida na última página do jornal, sob o título "Adeus, Doña Chavela. Beberei à sua memória". E com chamada de primeira página ("O último trago de Chavela Vargas").
O que fizeram os outros?
No Jornal de Notícias, nada. No Público, sempre tão zeloso dos seus pergaminhos culturais, idem aspas. No Correio da Manhã, sete linhas a uma coluna: "Chavela Vargas morre aos 93". No DN, também uma breve, também confinada a uma coluna, com escassas doze linhas de texto. E um título que não deveria lembrar a ninguém: "Cantora mexicana morre aos 93 anos".
Cantora mexicana? Que cantora?
Honra ao i, que merece os parabéns por ter cumprido o dever de informar. Ao contrário do que sucedeu com os outros. Felizmente comprei o El País e o El Mundo: ambos dedicaram várias páginas à "cantora mexicana", figura de fama planetária que ficou quase esquecida na nossa imprensa.