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Forte Apache

Os bancos II

José Meireles Graça, 09.08.12

Houve um tempo em que não se podia sair do país com mais de 7.500$00 (façam as contas para Euros, eu ainda estou pela moeda antiga e quero que Vocês se lixem). Então como agora, os senhores das alfândegas o que queriam era uma lei idiota para remexer nos bens do próximo, em particular se tivesse o bom aspecto com que a Divina Providência bafejou alguns de nós.

 

Nessa época viajava bastante em trabalho e abri uma conta em Inglaterra - o tal limite era um inconveniente sério e o Banco de Portugal não hesitava em inquirir (aconteceu-me) o que se foi fazer e com que resultados.

 

Deixei de movimentar essa conta há bem mais de quinze anos. E, tendo perdido o livro de cheques, fiquei com um saldo de 35,64 libras. Pois recebo ainda hoje um extracto mensal com o tal saldo intocado, e anualmente dois cartões de débito, para cuja activação é necessário ligar para um número de telefone, o que por preguiça nunca fiz. Custo? Zero.

 

É por isso que esta notícia: "Até ao final de Maio os bancos já tinham devolvido 4,8 mil milhões de libras aos seus clientes" - não podia ser de uma história passada entre nós. Os bancos a operar em Portugal competem entre si para inventar maneiras de extorquir dinheiro aos clientes singulares e às empresas sob os mais diversos pretextos. Parece que chamam a isso marketing, concorrência e não sei quê.

 

Apesar disso, alguns têm prejuízos e de todos se suspeita que os balanços devem estar entupidos de imóveis que davam para alojar todos os habitantes da ex-possessão de Macau.

 

É justo: durante anos a fio foi mais fácil encontrar financiamento para um empregado comprar uma casa, e o patrão dele um Bentley, do que para fazer um investimento produtivo sério, salvo se fosse para uma empresa pública ou uma fantasia modernaça qualquer à sombra do Estado, tipo TGV para ir à Calle Serrano num repente ou Magalhães para jogar Free Cell, ou lá o que é que os putos jogam.

 

As luminárias que então presidiam aos destinos dos bancos não só eram entusiastas da adesão ao Euro que permitiu e incentivou este estado de coisas como continuam alegremente a somar inépcia à estupidez: se o mercado que dizem existir funcionasse boa parte dos bancos ou tinha fechado ou mudava de mãos, donde concluem que o mercado está enganado. E eles, mais a nominal superintendência deles, tinham razão então e têm razão agora, quando foram de um extremo ao outro - dantes toma lá dinheiro mesmo que seja para consumires ou comprares a casa que não sabes se vais poder pagar, ou ainda para encher os montes de corrupios, e agora não te empresto nada mesmo que seja para investires.

 

As empresas sobreviventes habituar-se-ão a viver sem bancos - que remédio. E daqui a dez, ou vinte, anos, virá de novo o assédio dos homens da gestão prudencial, na feliz expressão desse engenheiro da banca, do Euro, e da carreira dele, que é o Vice-Presidente do BCE, para que as empresas e as famílias se endividem, porque sem volume de negócios não há resultados e sem resultados os prémios de gestão da banca, em vez de subirem à mesosfera, ficam-se pela estratosfera - uma grande maçada.

 

"Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície."

 

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