Olímpicos (11)
A poucos segundos do arranque da prova, o atleta vestido de amarelo pede silêncio às bancadas. Depois, no seu lugar, benze-se num gesto rápido. E parte imparável para a conquista de mais uma medalha olímpica. Foi assim que há poucos minutos Usain Bolt conquistou o ouro nos 200m - repetindo a marca alcançada há quatro anos, nos Jogos Olímpicos de Pequim. Nunca antes deste jamaicano de 25 anos atleta algum especializado em velocidade havia duplicado medalhas em Olimpíadas sucessivas. Bolt acaba de o fazer, numa final acompanhada por centenas de milhares de pessoas em todo o globo, disputada a uma velocidade estonteante. Três vezes medalha de ouro em Pequim (100m, 200m e 4x100m), duas já obtidas em Londres. Apenas o seu compatriota Yohan Blake procurou dar-lhe alguma réplica, embora sem sucesso. Bolt deu-se ao luxo de voltar a mandar calar alguém (certos críticos, presume-se), a poucos metros da meta, enquanto corria, como se lhe fosse indiferente o tempo efectuado: 19.32 (com o recorde do mundo em 19.19).
Depois do máximo olímpico obtido nos 100m, percorridos em 9.63 (segunda melhor marca de sempre, após o recorde estabelecido pelo próprio astro jamaicano nos mundiais de atletismo em Berlim, há três anos), Bolt arriscava-se a sair de Londres como uma das duas figuras cimeiras destas Olimpíadas - a outra, naturalmente, era o campeoníssimo Michael Phelps. Sublinhei isso mesmo aqui, com a devida antecedência. Os factos deram-me razão, comprovando que a tradição ainda é o que era. Vencer na piscina e vencer na pista, superando barreiras de velocidade, vem ao encontro do genuíno espírito olímpico, que nos interpela a ultrapassar todas as certezas antes afirmadas.
Com Phelps e Bolt, a distância entre o que era e o que passou a ser tornou-se ainda mais curta. Primeiro em Pequim, agora em Londres. Ambos entraram na lenda, podendo proclamar a plenos pulmões: Citius, altius, fortius. Imprima-se a lenda, pois.