O peso do imobilismo no poder local
Quando um autarca invoca como cartão de visita estar "há 37 anos" -- 30 anos dos quais como presidente da câmara -- a prestar serviço na mesma autarquia, isto diz quase tudo sobre a urgência em reformar o chamado poder local. Há 37 anos, o primeiro-ministro português chamava-se Vasco Gonçalves, o inquilino do Palácio de Belém era o general Spínola e Pedro Passos Coelho acabara de fazer o exame da 4ª classe. Foi o ano do 25 de Abril, da demissão forçada de Richard Nixon devido ao escândalo Watergate, o ano em que Giscard d' Eistang derrotou François Mitterrand nas presidenciais francesas. Foi o ano em que Brejnev expulsou Soljenitsine da URSS devido à publicação no Ocidente do Arquipélago de Gulag, proibidíssimo em território soviético. O ano em que Francis Ford Coppola ganhou o Óscar de melhor realizador pelo seu filme O Padrinho II, o ano em que Yazalde recebeu a Bota de Ouro e os Abba venceram o Festival da Eurovisão.
O mundo era totalmente diferente do actual. E no entanto aquele autarca já pontificava então no município onde ainda hoje serve. Símbolo vivo do imobilismo, contesta a reforma em curso na administração local - como poderia ser de outra forma? Vindo de quem vem, o contrário é que seria de admirar.