A Estratégia da Aranha
O neo-realista residente do Largo do Rato Arons de Carvalho, os comentadores da RTPN, o tremendista Miguel Sousa Tavares, a primeira página do Expresso, o "editorial" do Ricardo Costa, a notícia direccionada do Público (que iniciou há duas semanas uma campanha para criar divergências entre o PSD e o CDS), a SICN, a redacção da RTP1 (*), todos eles juntaram-se ao PC e ao BE na crítica à privatização da RTP. O PC que desde 1974 quer (e em certas fases conseguiu) controlar a RTP. Na redacção, na edição, nos sindicatos, sempre o PC enquadrou a RTP (e a RDP) como o "seu" meio por excelência para transmitir a "sua mensagem", formatando ideológicamente a informação a que os portugueses tinham direito. Ramalho Eanes enfentou-os em 1974, mais tarde Sá Carneiro obrigou-os a recuar, mas depois com as televisões privadas (contra as quais estiveram sempre contra mas a que rapidamente "aderiram") e o sucesso que estas rapidamente obtiveram baseadas em puro trabalho jornalistico e na credibilidade, o impacto da informação condicionada da RTP perdeu escala de valor.
Todos eles estão, não contra o modelo de privatização, mas contra qualquer privatização. Tout court.
Eis como um "complicómetro" (**) levantado por uma "lebre" do Governo acabou por levantar e juntar os interesses corporativos e políticos que ao longo da nossa "democracia " se mancomunaram para nos controlar.
A perturbação é evidente. Todos vão perder parte do poder que actualmente dispôem para controlar a informação que chega aos portugueses. Um novo player obrigará a que todos possam vir a ser avaliados pelo mercado em termos de credibilidade e formatação ideológica da informação.
Daí o pânico que grassa sobretudo nos partidos não democráticos de esquerda e, infelizmente sem surpresa, nos "órgãos oficiais" da Impresa/Balsemão, onde a estratégia da aranha dos actuais directores, que demorou anos a tecer para controlar o principal grupo privado da imprensa portuguesa, transformando-o em informação mais "amiga" da esquerda do que amiga da verdade, pode ir todo por água abaixo.
(*) aqui não incluo o realizador António Pedro de Vasconcelos, porque a sua questão principal é o financiamento do audiovisual português a partir de uma plataforma pública, assunto que terá de ser equacionado seja qual for o modelo de privatização que o Governo entenda accionar.
(**) de facto o Governo aparentemente ligou o complicómetro para resolver este assunto. Em vez de seguir em frente com a proposta consensual de privatizar a RTP1, RTPN e RDP, reservando a RTP2, a RTPMemória, a RTPInternacional e RTPÁfrica para o "serviço público" que a Constituição "consagra", decidiu-se por um caminho absurdo que levantará dúvidas até para quem quer a privatização da RTP . Como diz Carlos Fiolhais " queremos acabar com as PPP's e agora com a RTP querem fazer mais uma". Voltamos a uma velha tradição portuguesa : quando há a hipótese de decidir de uma forma clara e enxuta, prefere-se avançar para soluções a dar tiros nos pés.