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Forte Apache

O desconto

José Meireles Graça, 05.09.12

Mário Soares tem uma longa história de consistência na defesa do PS, no interesse do qual já defendeu nacionalizações e privatizações, o socialismo à luz do dia e na gaveta, o marxismo como instrumento de análise da realidade social e o anti-marxismo nos factos e nas decisões políticas, a independência no exercício da Presidência da Republica e a utilização daquela magistratura como instrumento de guerrilha ao Governo - tudo, e ainda o contrário de tudo, desde que o PS ganhe.

 

Está bem, a gente dá um desconto e automaticamente interpreta o que ele diz a esta luz.

 

Por baixo desta forma de coerência, digamos assim, partidária, há porém uma outra: e essa é a da defesa da Democracia e da Europa Federal, ideais ao serviço dos quais prestou relevantes serviços, no primeiro caso em 75 e no segundo desde antes da adesão à CEE.

 

Sucede que ninguém discute a Democracia há muito tempo: a maioria da população não conheceu outro regime, não havendo nenhuma corrente organizada que a ponha em causa (salvo o PCP e ocasionalmente o BE, mas sem deixarem de lhe aceitar as regras). E da Europa Federal não se sabe o que pensa o eleitorado, porque nunca foi perguntado.

 

Mas não é um passo arriscado imaginar que o eleitorado estará  receptivo a qualquer doutrina - qualquer - que lhe permita acreditar que a austeridade vai acabar e o País recomeçar a crescer; e só não compra o discurso da extrema-esquerda porque existe a válvula da emigração e a ambição difusa de ser a Suécia, ou a Dinamarca, ou uma pequena França ibérica - mas não uma Cuba temperada. Nem compra, para já, o discurso do PS porque a memória está fresca da rebaldaria despesista de Sócrates.

 

A Europa Federal poderia ser engolida, e creio que seria sem hesitações, se fosse a garantia de não haver troikas, nem desemprego galopante, nem falências, o que evidentemente não é nem será. Nada porém que aflija o genuíno federalista que Soares é.

 

Quando porém desaparecesse a aflição, outra geração quereria fazer marcha-atrás - os engenheiros de pátrias nunca, a prazo, têm razão.

 

E é por isso que estas declarações de Soares ("faz apelo patriótico contra privatizações") são chocantes. Apelos patrióticos?! Na boca de Soares?!

 

Não há desconto que chegue.

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