Solidariedades na Europa
Muitos defendem que a ultrapassagem da crise das dívidas soberanas na zona euro passaria pelos eurobonds, onde na prática haveria uma compartilha das dívidas soberanas entre os Estados pobres e o ricos. Reconheço que isto seria de facto uma forma de solidariedade interestadual na eurozona. Todavia, goste-se ou não, seja justo ou não, esta ideia esbarra sempre com preconceitos em confronto:
- a desconfiança dos mais ricos de que os mais pobres perante a solidariedade não se sabem conter e assim continuam a gastar mais do que podem; e
- a ideia de que a crise não é da responsabilidade dos mais pobres, pelo que é justo que os ricos a paguem e sejam solidários, até porque precisam dos mais pobres.
Penso que nas ideias extremadas nunca está a verdade e no que toca à solidariedade entre povos em nada distingo o facto da Finlândia e a Alemanha não quererem eurobonds para não pagarem os “excessos” sulistas; do reacender da ideia independentista da Catalunha mais rica que não quer contribuir solidariamente para outras províncias mais pobres do reino de Espanha, apesar de não ter sido capaz de não se endividar com dinheiro que lhe coube nesta repartição solidária das riquezas pelo domínio de Madrid; e das regiões Autónomas Portuguesas serem muito rápidas a pedir solidariedade nacional ou protestarem sempre que Lisboa não lhes cobre as dívidas e lhes exige austeridade ou ainda, quando beneficiária dessa solidariedade, não se endivida a curto-prazo e se recusa a sacrificar-se em favor do todo Nacional.
Na política real europeia e independentemente da escala, todos apelam à solidariedade e fogem de cumprir os encargos assumidos quando em dificuldades, mas recusam-se a ser solidários quando a crise bate à porta do vizinho, isto porque se criou um modelo de democracia que promete apenas uma melhoria continua da qualidade de vida associada ao poder de compra de forma ilimitada num planeta limitado e num Continente que durante milénios sacrificou povos e continentes para que países e impérios seus enriquecessem.