O tripé de duas pernas
Sou um fiel da Quadratura do Círculo. A fórmula do programa é eficaz: um tipo do CDS, outro do PS, outro do PSD; a actualidade política; cordialidade, senão cumplicidade, no trato; um moderador que não dá nas vistas; e categoria dos residentes. A simplicidade e transparência do formato e o perfil dos senadores da opinião, ontem e agora, explicam a longevidade. Se o programa tivesse a pretensão de ter comentadores "independentes"; ou quisesse ter lá todo o espectro partidário, com um comunista a debitar as teses do Congresso e as directivas do Comité Central, ou um bloquista a espumar baba e ranho contra os ricos - o tédio escorria pelas paredes e o programa finava-se pela insignificância do share.
Mas com a actual maioria o tripé perdeu uma perna: Costa reclina-se satisfeito na cadeira enquanto Pacheco vai metodicamente demolindo o Governo, constituído, parece, por gente que quando não é completamente impreparada é desesperantemente idiota. Nada, absolutamente nada, se aproveita.
Isto provoca mal-estar, porque mina a convenção implícita do programa: ninguém está ali por seguidismo acrítico, passe a redundância, mas aquela gente tem, é suposta ter, e não nos incomoda que tenha, porque isso é assumido, simpatias partidárias. A gente filtra, porque a gente não semos burros.
Costa sabemos que tem ambições políticas, debita o mantra do PS em matéria económica, e acha previsivelmente este governo um desastre, por estar sob diktat estrangeiro e ter maus resultados, do mesmo modo que achava o anterior excelente por os resultados serem péssimos, mas por culpa do estrangeiro. Lobo Xavier é do CDS, a eterna e teimosa minoria cravada na garganta da desejada hegemonia do PSD. E Pacheco Pereira, hoje, é de onde?
Pacheco é da Marmeleira, onde vive. E nesse pacato refúgio congemina há anos análises profundas e teses subtis, a benefício da liderança do seu partido de há muito, que lhe emprestava um ouvido atento e deferente. E é aqui que bate o ponto, agora: ninguém lhe liga.
Eu acho isto muito mal, estragaram-me o programa. E por isso peço, desta modesta tribuna: ouçam, no PSD e no Governo, Pacheco! Que ele não precisa propriamente de lugares, precisa é de ter acesso a ouvidos poderosos. E os conselhos que pode prodigalizar em matéria de tática política são preciosos, desde que quem os receba tenha a precaução de fazer o oposto do que ele recomendar.
Assim é que não dá: ou Pacheco Pereira é nomeado para qualquer coisa, ou cai o Governo, ou eu mudo-me para a TVI 24. Tomem nota.