Contra o partido dos fidalgos...
O regime da extorsão para taparmos os buracos do BPN, das rodovias, da Madeira, das ventoinhas, das parcerias e do financiamento clandestino aos partidos, continua a insistir nas mesmas vítimas: jovens com esperança de início de vida, trabalhadores que tiveram o Estado como patrão, velhos e todos os que acreditaram nas instituições de serviço público, até como companhia de seguros a que se pagaram prestações. As abstenções contam como votos a favor.
O que é uma empresa de regime? É a que nos suga em impostos clandestinos, fingindo que não é verdade a renovação do vota em mim primeiro, paga depois. Não há ventoinhas grátis. E nunca se lixa quem o mexe, mexeu e mexerá. Quem se lixa é mexilhão do impostado, mesmo que lhe chamem consumidor. Preferia ser cidadão, mesmo sem ser à luz das velas.
Não se vislumbra, entre os principais ministros e os principais oposicionistas, alguém que tenha tido carreira pública, conseguida com concursos públicos. Os que podem invocar a qualidade, só a consideram remanescente e acumulativa. Espero que a presidente do PS, uma excepção à presente regra, lhes faça recordar que sempre existiu um partido dos competentes contra o partido dos fidalgos, velhos e novos, no Portugal Contemporâneo. Pena que os becas e os tropas, dois dos subsistemas do público, já não tenham força.
24 de Agosto de 1820 foi feito por funcionários públicos (v.g. Manuel Fernandes Tomás), tal como o 25 de Abril de 1974 (v.g. Salgueiro Maia). O resto são aproveitadores do "day after". O primeiro era do partido dos becas. O segundo, do partido da tropa. Porque cada regime gera os seus fidalgos. Estes são sempre conservadores do que está, pintando os privilégios como reformas estruturais.
A revolta não virá dos proletários, dos jovens indignados, da classe média ou da mera federação de classes organizadas. A revolta virá dos que, um dia, perceberão que não podem continuar a comer gato por lebre, quando descobrirem que o Estado a que chegámos não é uma pessoa de bem, mesmo que pessoas de bem, por incompetência, pensem que o estão a comandar, quando apenas são agentes do rolo unidimensional que nos esmaga.
Comparemo-nos com França. Até aquele filho de "pieds noirs" com nome de parte dos países baixos que vai comandar a esquerda é mais um dos altos funcionários públicos enarcas. Aqui contentamo-nos com quadros recrutados por favor de certos grupos económicos e com jovens políticos das universidades de verão das jotas...
O nosso drama continua a estar na falta de adequados olheiros e seleccionadores de elites, os principais reveladores da falta de organização do trabalho nacional. Logo, comandam os compadres e as comadres do país oficial da partidocracia, com um ou outro deslumbrado que vive nas nuvens e acede por acaso às operações triunfo e chuva de estrelas que precedem o recrutamento das ministerialidades e dos assessores do Estado Paralelo dos gabinetes governamentais, onde se diluem entre os candidatos jotas a políticos profissionais.