A "imprevisibilidade" como factor inerente à arte de governar
Talvez por ser uma pessoa minimamente exigente com aquilo que lê e ouve, o autor destas linhas conta pelos dedos de uma mão aqueles que, entre os que ocupam o espaço mediático em Portugal, têm um pensamento verdadeiramente consistente e sofisticado. Ou seja, homens que “pensam bem” e que, sempre que escrevem ou falam, merecem a atenção redobrada deste vosso escriba.
Adriano Moreira é uma dessas pessoas. Aos 90 anos é um dos poucos pensadores dignos desse nome em Portugal e, sem qualquer dúvida, uma das mentes mais esclarecidas entre todos aqueles que, por esse mundo fora da "intelligentsia", vão debitando as suas opiniões sobre o modelo de governança das sociedades actuais.
Nos últimos anos, Adriano Moreira tem abordado vários assuntos sobre os quais tem problematizado, nomeadamente, as funções do Estado e a responsabilidade dos governos.
E a este propósito, ainda há uns tempos, o mesmo Adriano Moreira desconstruía de forma magistral o argumento da “incerteza” provocada pela conjuntura internacional que o Governo português (e outros) recorrentemente utiliza para justificar eventuais desvios de previsões ou falhanço de políticas.
Ora, para Adriano Moreira, a capacidade de lidar com a “imprevisibilidade” é precisamente um dos requisitos da função de um Governo, seja em que país for. A Política assume a “imprevisibilidade” e a “incerteza” como factores naturais inerentes à arte de governar e não como “desculpas” ou “refúgios” de previsões erradas ou más políticas levadas a cabo por um Governo.