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Forte Apache

A química da História

Rui C Pinto, 18.10.11

2011 celebra o ano internacional da Química. Há, por esse mundo fora, inúmeras iniciativas que visam um único objectivo: comunicar a química enquanto ciência fundamental ao dispor do bem estar e do progresso social. De facto, a história do Século XX remeteu a química a um lugar sombrio: hoje é encarada como uma consequência, um custo do desenvolvimento. A indústria química é invariavelmente vista como poluente, nociva e perigosa. Esta não é a face da química no início do novo século. Hoje, a química, está empenhada na sustentabilidade dos processos e produtos da sua indústria, por forma a reduzir o seu impacto no ambiente e na economia.

Não corro risco ao afirmar que o desenvolvimento de qualquer uma das ciências fundamentais permite contar a história do Século XX e da sociedade contemporânea. É isso que arrisco fazer em meia dúzia de posts, onde me proponho ler a história contemporânea nos avanços e descobertas da química. 

 

O 4-[(2,4-diaminofenil)azo]-fenilsulfonamida (Prontosil) é um fármaco desenvolvido em 1932 pelo médico e químico alemão Gerhard Domagk. As propriedades antibacterianas desta molécula e a sua aplicação no combate à gonorreia, meningite ou pneumonia, valeram ao seu autor o prémio Nobel da medicina em 1939. O trabalho de Domagk e o de Alexander Flemming, que descobriu a actividade antibiótica da penicilina em 1928, marcam o nascimento da medicina moderna. Porém, tal como a história da época, esta não é uma história de encantar...
O Prontosil entrou no mercado em 1936 sem que a sua actividade farmacológica fosse inteiramente compreendida e ganhou enorme notoriedade ao curar uma faringite ao filho do presidente norte-americano Franklin Roosevelt Jr. Porém, ainda durante esse ano, um elixir comercializado no mercado norte-americano causou a morte a 107 pacientes devido ao uso de etilenoglicol, solvente orgânico tóxico, na sua formulação. Este facto trágico levou o congresso norte-americano a aprovar, em 1938, o “Federal Food, Drug, and Cosmetic Act” lançando as bases da poderosa FDA, Food and Drug Administration, criada em 1906 mas com poderes reduzidos até então. É esta lei que obriga, pela primeira vez, os fabricantes farmacêuticos a fazerem prova da segurança dos seus fármacos.

By the 1930s it was widely recognized that the Food and Drugs Act of 1906 was obsolete, but bitter disagreement arose as to what should replace it. By 1937 most of the arguments had been resolved but Congressional action was stalled. Then came a shocking development--the deaths of more than 100 people after using a drug that was clearly unsafe. The incident hastened final enactment in 1938 of the Federal Food, Drug, and Cosmetic Act, the statute that today remains the basis for FDA regulation of these products. 

Nos anos seguintes, surgiram inúmeras modificações à estrutura química da sulfanilamida. Um número considerável destes químicos foram desenvolvidos por cientistas nazis que conduziram, sob orientação de Karl Brandt (médico pessoal de Hitler e Comissário do Reich para a Saúde), experiências em prisioneiros nos campos de concentração, induzindo infecções bacterianas, como o tétano, nos prisioneiros por forma a testar a eficácia de novas drogas. O número de vítimias é, até hoje, desconhecido. Mais tarde 23 cientistas foram julgados em Nuremberga naquele que ficou conhecido como o “doctor’s trial”, julgamento dos doutores. Foram acusados de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Não deixa de ser irónico que um alemão, Gerhard Domagk, viesse a salvar Winston Churchill que, em 1943, enquanto delineava juntamente com Estaline e Roosevelt a estratégia de combate a Hitler na Conferência de Teerão, sucumbiu a uma pneumonia. O mesmo alemão que foi preso e obrigado a renunciar ao Prémio Nobel por Hitler. Domagk viria a receber o prémio apenas em 1947, dois anos após o fim da guerra. 

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