O Velho do Restelo
Todas as eras, todas as gerações e todos os regimes têm os seus Velhos do Restelo.
Muitos ainda nos lembramos de, pouco tempo antes de 25 de Abril de 1974, os generais, que ficariam conhecidos pela brigada do reumático, fazerem preito de fidelidade à ditadura que iria acabar dai a poucos dias. E do velho deputado Cazal Ribeiro, na Assembleia Nacional de então, a vociferar contra a ala liberal, onde pontificara Sá Carneiro, por estes não aceitaram a verdade única que o regime de Salazar impôs e que Marcello Caetano “evoluiu na continuidade”.
O regime em que actualmente vivemos também tem um notório Velho do Restelo : Mário Soares.
É confrangedor constatar que, sendo Mário Soares um dos mais ilustres políticos que em 1975 lutou contra a tentativa de controlo do poder por parte do PC, se afunde na incongruência e desonestidade intelectual (estava no Governo na bancarrota de 1982 e o PSD ajudou-o a sair dela), e se remeta hoje à figura patética de esmolar ao mesmo PC (e BE) apoio político, confessando que “anda a falar com toda a gente para derrubar este governo”. Um Governo eleito, sublinhe-se.
O que Mário Soares já percebeu foi que a credibilidade do regime de que se intitula “pai fundador”, o tal regime a “caminho do socialismo” que em 39 anos provocou três bancarrotas e levou à penúria os cidadãos portugueses, é um regime cuja validade caducou e que nunca mais vai poder esbanjar dinheiro para o financiar. Os portugueses já estão fartos de serem sempre esportulados para pagarem os erros da gestão pública e a Europa, a tal Europa que lhe andava sempre na ponta da língua, também já não financia países mal geridos que, de mão estendida, querem manter projectos de poder ineficientes e injustos, sobredimensionados à medida das nomenklaturas que neles se foram revezando.
Daí o ódio. O ódio, a acrimónia, o ressentimento que todos os velhos do Restelo têm. O ódio de quem prefere o caos em vez de apoiar os que lutam para solucionar os graves problemas económicos e financeiros que Portugal actualmente sofre. Porque ele sabe que, ultrapassados os sacrifícios, virá também o fim do regime esbanjador que protegia o seu poder, o poder de quem usa ideologicamente o Estado ao abrigo de uma Constituição que aceita o nepotismo e a irresponsabilidade, porque não respeita nem protege os mais elementares direitos individuais dos cidadãos portugueses.