O mal (3) A sétima porta
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Nas notícias que tentam demonizar Viktor Orban, a confusão entre extrema-direita e direita é um clássico. Muitas reportagens são feitas de forma preguiçosa. Imagine-se um repórter húngaro que viesse a Portugal e só entrevistasse pessoas ligadas ao Bloco de Esquerda e ao PCP, sindicalistas da CGTP e sociólogos de Coimbra. O que tenho lido sobre a Hungria é deste género.
Os órgãos de comunicação húngaros funcionam segundo a velha tradição da Europa Central, com os jornais a definirem-se à direita ou à esquerda. Aliás, o jornal mais lido é de esquerda. Em Portugal a prática considerada boa é a de jornais que fingem ser neutros, embora as publicações tenham a cor da sua redacção e as preferências de quem controla o recrutamento dos jornalistas. Mas a questão nem sequer pode ser discutida, por isso fecho este parêntesis e regresso ao castelo do conde barba-azul.
Outra dificuldade nesta questão é a da língua: o húngaro não só é impenetrável, mas é também uma língua sintética, difícil de traduzir para idiomas indo-europeus. Muitas citações são distorcidas durante a tradução. Os finlandeses têm, aliás, sofrido com o mesmo fenómeno. Estes posts vão demasiado longos, mas ainda não expliquei aqueles que são, a meu ver, os elementos mais estranhos do debate, a contradição da esquerda, a teimosia da direita e o problema europeu. Para o Governo húngaro, pelas razões expostas mais acima, um confronto com as autoridades europeias tem potenciais vantagens. A discussão mais recente deu origem a uma subida nas sondagens que, a um ano de eleições, coloca Orban no caminho da maioria absoluta (o Jobbik cai, a esquerda tenta formar uma frente unida, mas há dois galos para o poleiro e a unidade será provavelmente difícil).