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Forte Apache

O mal (1) Um convidado no Estoril

Luís Naves, 01.05.13

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Este post de Shyznogud, em Jugular, mostra como é fácil criar uma forte indignação, mesmo dispondo de escassa informação sobre o tema. A autora faz um esforço e cita três fontes que a orientam, mas infelizmente a pesada sentença não permite recurso, nomeadamente em alguns dos comentários.

Do post podemos tirar várias conclusões: o convite ao primeiro-ministro húngaro para falar nas conferências do Estoril é “uma vergonha”, portanto não vale a pena sequer ouvir a versão do próprio. Embora lidere um partido conservador, Orbán é comparado à Aurora Dourada  grega (a comparação é absurda, mas que importa?); no post admite-se até a expulsão da Hungria da UE, algo que não seria possível sem um lento processo que exigiria decisões complicadíssimas e pelo menos ouvir os próprios húngaros (o Parlamento Europeu não tem esses poderes, de facto nem sequer tem poderes para suspender direitos de voto).

 

As lendas húngaras deram origem a um género de personagem sinistra onde se concentra o mal puro. Na ópera de Bela Bartok ‘O Castelo do Barba Azul’, um conde tenebroso mata as suas mulheres, a quem avisa para que não espreitem pela sétima porta. Nenhuma resiste à curiosidade, que é fatal, mas julgo que neste caso temos de tentar ignorar os preconceitos e as proibições. Talvez atrás da sétima porta esteja apenas um mito.

 

 

Leio Shyznogud sempre com interesse, mas este texto contém equívocos preocupantes. A autora está a falar de um primeiro-ministro de cultura democrática. Podemos acusá-lo de ser populista e até demagogo), mas não de ser um barba-azul, um “fascista” ou anti-semita.

Como jornalista segui a Hungria durante muitos anos, até por interesses familiares. Entrevistei Orban, há mais de dez anos. Não posso dizer que seja um especialista, mas disponho de alguma informação. Os leitores que seguem os meus blogues já se habituaram a secas regulares sobre o tema e, como é habitual, também neste caso haverá trivialidade e dados menos relevantes, mas o teclado flui como se fosse o grande Danúbio.

Para que seja possível haver um debate, Shyznogud terá de fazer o esforço de esquecer distorções da realidade que leu em textos manipulativos: na Hungria existe uma democracia parlamentar. O problema político e social mais grave atinge a minoria cigana. De resto, há liberdade de expressão e de imprensa e o país não está a violar nenhuma disposição dos tratados. A Comissão Europeia acredita que há problemas, o relatório de Rui Tavares citado no post também detecta problemas, mas não existe nenhum processo condenatório por violação de tratados ou não cumprimento dos critérios de adesão.

No Parlamento Europeu, a Hungria tem sido apoiada por uma maioria integrando a direita e uma parte do centro-esquerda, em blocos contendo deputados da Alemanha, Itália, Reino Unido, Polónia e uma coligação de pequenos países. Esta não é uma simples questão de esquerda e direita.

 

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