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Forte Apache

O que não se fala sobre as novas medidas de austeridade

Carlos Faria, 08.09.12

Contrariamente ao que se especulava há muito tempo sobre o provável aumento da austeridade já este ano para cobrir o desvio do défice de 2012, nada foi anunciado e os especuladores desse boato não assumem o seu falso prognóstico, nem os OCS que deram cobertura a tal especulação fazem agora um mea culpa.

O aumento da taxa para 18% na segurança social é aplicado 14 vezes nos privados, o que dá de facto a quase perda de um salário ou subsídio (98%), mas é de apenas 12 vezes na função pública, pois o subsídio é reposto por duodécimos, o que deve equivaler a um corte de 91% (84+7 sobre o duodécimo). Logo por esta via não é linear o corte dos dois subsídios integralmente.

Não se fala do crédito de IRS a atribuir aos salários mais baixos, aspeto que mostra preocupações sociais neste governo, não só por este pormenor não estar devidamente quantificado, mas talvez por não importar a alguns evidenciar esta circunstância de justiça para com os mais desfavorecidos.

Não se fala também, porque se desconhece em pormenor, como serão implementadas outras medidas sobre outros rendimentos conforme o Primeiro Ministro deixou claro no discurso, mas já se diz, sem se saber, que não há austeridade para os ricos e os rendimentos de capital.

Não se fala ainda, porque também se desconhece em pormenor, os efeitos das alterações de escalão de IRS, mas já se diz que vai ser desfavorável aos trabalhadores, o que é admissível, mas é ainda mera especulação.

Em resumo: as medidas são de austeridade, mas com uma comunicação social amiga procura-se branquear os aspetos que evidenciem preocupações sociais, especula-se sobre injustiças que ainda se desconhecem e ainda apaga-se da memória as especulações negativas exageradas que já se propagaram como se nada tivesse sido dito.

A Espanha também é fascista*

jfd, 11.07.12

*e Rajoy mentiu para ser eleito. Certo?

 

A taxa máxima do IVA sobe de 18 para 21 por cento e a taxa reduzida salta de 8 para 10 por cento. Os funcionários públicos espanhóis também não vão rebecer o subsídio de Natal. Estas são algumas das medidas que fazem parte de um rol de políticas fiscais que o executivo espanhol acaba de anunciar para cumprir com a meta da redução do défice.

SAPO

O tempo e a memória

José Meireles Graça, 13.03.12

Mário Soares terá, daqui a uns cem anos, direito a uma nota de rodapé, uma página ou um capítulo, consoante a espessura e o número de volumes da História de Portugal. Esta condição não partilha no mesmo plano com ninguém vivo, e por assim se intuir é que é lido com atenção, mesmo por quem não tem ilusões sobre as suas pesadas responsabilidades na situação de província distante e miserável do Império, em que nos encontramos.

Porque dos três Dês que encarnou, mais completamente que qualquer outro político, um foi um monumento de ignomínia fujona (é verdade que com muito maiores culpas de oficiais comunistas e de um povo farto da guerra colonial), outro está em regressão porque foi feito com crédito, e até mesmo a democracia, para imaginar que está sólida e não é reversível, requer alguma dose de fé no futuro.

A história de Mário Soares é a história de um falhanço parcial, e pode vir a ser a de um falhanço total; e todas as decisões que criaram o pano de fundo do estado a que chegamos (aposta acéfala e total na UE e no Euro, aprofundamento do Estado Social sem economia para o suportar, atribuição ao Estado de um papel central como motor do desenvolvimento) contaram com a bênção e o entusiasmo militante do hoje velho Senador.

Infelizmente, dar incessantemente com a mesma cabeça na mesma parede faz parte da condição humana - é pouco provável que Estaline, Hitler ou Mao, três dos maiores criminosos sociais do séc. XX, se tivessem arrependido, ainda que no último minuto. Com perdão da comparação forçada, que o nosso Mário Soares é genuinamente um Democrata tolerante e civilizado.

Tolerante, civilizado e incapaz de aprender: Portugal, depois dos Cravos, pediu por duas vezes a intervenção do FMI; e de ambas se reequilibrou, e em ambas teve recaídas, a segunda das quais não foi reconhecida como tal porque entretanto se tinha arranjado um analgésico para não curar a doença, que entretanto se agravou.

À cura Mário Soares chama neoliberalismo. E como para o crescimento, anémico embora, da última década, se encontrou quem emprestasse, e isso não é mais possível, ou reconhecia que o caminho não podia ser o seguido até ali, ou inventava um caminho novo, pavimentado a leite e mel.

O caminho parece novo mas é velhíssimo: "...sem um Governo europeu, financeiro e económico (e mais tarde político), não há austeridade que, por si só, valha à União, à beira do abismo".

Eu traduzo: os outros que paguem - entrega-se a nacionalidade, como já se deu de penhor a independência.

Grande, enorme Mário Soares. Mas, como dizia Eça, Sancho Pança - era maior.