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Forte Apache

Angela Merkel: Paralisia e Chantagem

Ricardo Vicente, 02.12.11

Segundo o Sol, Angela Merkel diz que os 'eurobonds' não são solução. Como pretende, então, a chancelerina teutónica realizar o default ordenado das dívidas grega, portuguesa, irlandesa e, eventualmente, italiana?

 

Ainda do mesmo jornal, «O governo alemão tornou claro que a crise europeia não será resolvida num ápice», afirmou [Merkel], acrescentando que a solução «é um processo e esse processo levará anos».

 

Eu traduzo: até Setembro ou Outubro de 2013, época em que se realizam as próximas eleições federais na Alemanha, Merkel não fará nada que possa pôr em causa  a sua reeleição, nem que para isso tenha de deixar o Sul da Europa em permanente agonia social e económica e toda a Europa em risco de desintegração.

 

A Europa está em condições de avançar para uma união orçamental. A afirmação foi deixada esta manhã pela chanceler Angela Merkel, num discurso perante o Parlamento alemão.  (...) Segundo a imprensa alemã de hoje, a chanceler quer rever o Tratado de Lisboa (no site da Rádio Renascença).

 

Por outro lado, Merkel mantém a União Europeia sob chantagem: ou os tratados da União são reformados como nós (ela) quer, ou não há solução para a crise das dívidas soberanas.

 

Mais uma Cimeira, Mais uma Perda de Tempo (47)

Ricardo Vicente, 02.12.11

No Diário Económico: Sarkozy revelou hoje que vai encontrar-se com a chanceler alemã na próxima segunda-feira, em Paris, para "salvar o futuro da Europa".

 

Mais uma cimeira, mais uma perda de tempo: já perdi a conta a tantas cimeiras e às respectivas mijinhas de Sarkozy e Merkel, dois políticos vulgares em tempos excepcionalmente difíceis, que estão dispostos a sacrificar a Europa inteira para não perderem os respectivos poleiros.

 

Diz Sarkozy (no Expresso): "O BCE é independente. E assim vai permanecer. Estou convencido que o Banco vai atuar face ao risco de deflacionismo que ameaça a Europa", precisando que caberá a esta entidade decidir "quando e com que meios".

 

Eu traduzo: Sarkozy quer que o BCE deixe de ser independente e se transforme numa agência do governo francês tutelada directamente por ele, Sarkozy. E o ainda presidente da França pensa que a melhor maneira de tentar que a economia europeia cresça é empurrando um fio, isto é, derramando dinheiro por toda a parte - quando a taxa de juro de referência do BCE já está nos 1,25%...

 

 

P.S.: Será que o "deflacionismo" também faz parte da política do Expresso de implementar o Acordo Ortográfico?

A Economia Não Chega Para uma União Política

Ricardo Vicente, 29.11.11

A integração política da zona euro ou da União Europeia, se for forçada (como alguns prevêem, por exemplo aqui no Forte, e outros parecem desejar) tem de deixar de fora países que são "monetariamente sustentáveis", isto é, que não contribuem para a desestabilização da zona, antes pelo contrário. Isto porque uma economia partilhada não é suficiente para uma união polítca. Aliás, tirando a questão da moeda comum, a união económica não precisa de união política e até pede menos união, menos bruxelas, menos regulamentos, menos PAC, menos burocracia e menos Estado supra-estadual. A economia não é pois condição suficiente para uma união política e esta, por sua vez, não é condição necessária para aquela (como também se afirma amiúde). Declarando o óbvio: também há a política. Vamos a um exemplo: a Polónia.

A Polónia pode ser uma economia extremamente robusta e promissora e a chancelerina teutónica pode andar em pulgas para que aquele país adira ao euro, assim facilitando ainda mais as exportações alemãs. Mas enquanto a França e a Alemanha venderem armamento e treino militar à Rússia, a Polónia nunca aceitará uma união política que inclua aqueles dois países e, ainda por cima, tendo-os à cabeça. Nunca. Por muito economicamente desejável que possa ser a inclusão da Polónia numa nova zona euro mais restrita. E o mesmo vale para uma República Checa ou uma Estónia.

Forçar uma união política coincidente com uma zona euro mais reestrita levará ao estalar de fracturas profundas da geografia política europeia. E essas fracturas têm consequências económicas: se a Polónia fica de fora da união política liderada pela França e pela Alemanha, também ficará de fora da nova e mais restritiva zona euro. E se fica de fora desta, quanto tempo restará dentro da união económica? É por isso que, a bem da continuidade e abrangência da zona euro e da própria União Europeia, eu defendo que não se deve avançar para nenhuma união política. Caso contrário, vamos ter quatro ou cinco blocos políticos na Europa que estarão também separados economicamente. A fragmentação económica na Europa equivale à destruição daquilo que manteve a Europa em paz: uma economia comum. Não é preciso dizer mais nada.

Por tudo isto, alguns conselhos: não avançar com nenhuma união política; implementar as medidas institucionais necessárias e só as necessárias para que o euro seja um projecto credível; não deixar cair para fora da zona euro nenhum dos actuais membros, o que implica reestruturar as dívidas da Grécia, Irlanda e Portugal o mais rápidamente possível, o que por sua vez recomenda a utilização de eurobonds mas apenas com o objectivo da reestruturação ordenada e nunca com o propósito federalista.

Armadilha de Liquidez

Ricardo Vicente, 25.11.11

Não é para os próximos tempos, é para depois dos próximos. Fixem estas palavras: "armadilha de liquidez". É disto que jornalistas, blogadores, analistas, comentadores, opinadores, spinadores e políticos andarão a escrever e a falar dia e noite a seguir aos tempos mais próximos. Será mais uma daquelas expressões que, subitamente, passam da ciência sombria para o parlapiê popular (e que deveriam pagar imposto).

 

Nos próximos tempos (dentro de meses e até dois anos): o Banco Central Europeu começará a injectar mais e mais dinheiro com o objectivo de contrariar os sintomas de crise e de reduzir o valor real das dívidas públicas. Esta tendência aumentará à medida que nos aproximarmos das eleições na França e na Alemanha. (A disponibilidade de Merkel para o argumento de Sarkozy de que a independência do banco central é totalmente overrated só pode aumentar à medida que as sondagens da chancelerina teutónica se afundarem).

 

Nos tempos depois dos próximos (lá para depois daquelas duas eleições): o Banco Central Europeu, os políticos e os opinadores vão descobrir a metáfora "empurrar um fio".

Uma Novidade!

Ricardo Vicente, 24.11.11

Olha!, olha!, uma novidade! Agrada-me ler isto: Merkel e Sarkozy já não se reúnem sozinhos, agora já há mais um líder a encontrar-se com eles. Não, não é (outra vez) o Medvedev/Putin nem o Putin/Medvedev: é o Mario Monti. Agora já só faltam os outros catorze líderes da zona euro e os oito líderes dos países que, estando actualmente de fora do euro, estão obrigados a juntarem-se à zona. E ficam ainda a faltar aqueles dois que não querem o euro nem estão obrigados à sua adesão mas que também têm a ver com o assunto (afinal temos mercado comum ou não?). Portanto, a dimensão geográfica do "conceito de soberania quando aplicado aos outros" de Sarkozy e Merkel expandiu-se hoje um bocadinho: já não é nada mau.

 

P.S.: Sarkozy, que no passado muito criticou a independência do Banco Central Europeu, deve estar esta noite aos pulinhos.

Duas Mijinhas Mais Duas Mijinhas Igual a Quatro Mijinhas

Ricardo Vicente, 27.10.11

 

As duas primeiras mijinhas são o Sarkozy e a Merkel: duas fraquezas europeias em qualidade humana, política e eleitoral. Valem pouco mais do que um Berlusconi. Esse, ao menos, para o bem e para o mal lá consegue mijar tudo.

As outras duas mijinhas são o quase irrelevante default parcial da Grécia e o insuficiente aumento do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF).

O objectivo de reduzir a dívida pública grega para 120% do PIB até 2020 é pouco, quase irrelevante, deixando o problema essencialmente intocado. Em 2020, uma dívida de 120% do PIB continua a ser insustentável e impagável. A Grécia continuará insolvente e precisará de mais um (terceiro? quarto?) plano de resgate. Enquanto isso, até 2020 e para lá desse ano, a sociedade grega continuará a sofrer lentamente a asfixia económica.

Aumentar o FEEF de 440 mil milhões para um bilião (um milhão de milhões) já é qualquer coisa mas é notoriamente insuficiente tendo em conta (1) os efeitos do default português (lá para 2014), (2) a catástrofe que se vai avizinhando devido à incapacidade italiana para gerar crescimento económico (e, com isso, tornar as suas finanças públicas solventes) e (3) os efeitos que a bancarrota belga terá na sobre-endividada França. E estou a deixar de fora desta análise a Irlanda e a Espanha, que me parecem os dois casos onde a esperança tem maior justificação.

 

Lembram-se da última cimeira franco-alemã há pouco mais de dois meses? Na altura a dupla de mijadorzinhos do costume também estava convencida de que a dimensão do fundo de resgate era suficiente. Ao fim de dois meses lá perceberam agora que aquela mijadela não chegava para nada. Daqui até ao mínimo de dois biliões ainda veremos muitas mais mijinhas para acalmar os mercados os quais, obviamente, não se sentem atingidos nem se querem molhar...

 

Daí que, exceptuando o plano de recapitalização dos bancos, não vejo grandes razões para Pedro Passos Coelho se sentir muito mais aliviado depois desta... cimeira. De mijinha em mijinha ainda estamos longe do tempo em que o euro e a Europa estará a salvo de tanta mal-mijação.

Mais uma Cimeira, Mais uma Perda de Tempo

Ricardo Vicente, 26.10.11

Enquanto não chegarmos a Setembro/Outubro de 2013 - isto é, às eleições na Alemanha - nenhum cenário realista será abordado em nenhuma destas cimeiras. Por exemplo, já se devia discutir (EM SEGREDO) o default inteligente da dívida portuguesa, em vez disso discute-se ainda se a Grécia recebe ou não recebe mais uma tranche, quando esse país já deveria ter sido sujeito a um default ordenado há mais de um ano.

 

O melhor que podia acontecer neste momento na Europa seria uma antecipação das eleições na Alemanha. Até lá, todas estas cimeiras serão pura perda de tempo que, obviamente, não significam nada para os mercados.

 

"A chanceler prometeu ainda empenhar-se no conselho europeu e na cimeira de líderes da zona euro de hoje à noite "a favor de soluções sustentáveis", leio no Expresso. É muito engraçado vir agora a líder dos alemães falar de sustentabilidade. Ainda há meses, os juros acordados entre Portugal e as partes europeias da tróica eram manifestamente insustentáveis (os do FMI eram mais baixos); mais tarde, essas taxas foram diminuídas para níveis mais razoáveis. Esperemos que, no futuro, a chancelerina teutónica não volte a ter o descaramento de propor a mais nenhum país taxas de juro punitivas e especulativas.

Cavaco Silva: Muito Bom

Ricardo Vicente, 13.10.11

"Vamos constatando a emergência de um directório, não reconhecido nem mandatado, que se sobrepõe às instituições comunitárias e limita a sua margem de manobra. Este é um caminho errado e perigoso. Errado porque ineficaz. Perigoso porque gerador de desconfianças e incertezas que minam o espírito da união".

 

"Enredada numa retórica política de recriminações mútuas, evitando reconhecer a responsabilidade partilhada, ignorando a evidência dos riscos de contágio, hesitando na solidariedade, oscilando nos instrumentos a usar, promovendo uma deriva intergovernamental, a União Europeia deu guarida a uma crescente especulação sobre a zona euro, alimentando as incertezas sobre o próprio futuro da moeda única".

 

(Ler tudo aqui).

A Não-Liderança de Merkel

Ricardo Vicente, 29.09.11

Parlamento alemão aprovou expansão do fundo de resgate que também financia Portugal (daqui).

 

Durão Barroso já vem exigindo um reforço do FEEF há meses. Mais uma vez, a Alemanha agiu com muito atraso, a reboque dos acontecimentos e contrariada. Angela Merkel é um exemplo perfeito de uma não-liderança: em vez de tomar a iniciativa e antecipar-se ao mais que certo evoluir da situação económica, acaba por deixar sempre que os factos a forcem ao inevitável.

O problema é que estes sucessivos atrasos e renitências teutónicos têm custos económicos sérios. Mas Merkel não se interessa por custos económicos, apenas com os custos eleitorais. E só com os seus.