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Forte Apache

"What we've got here is (a) failure to communicate"

Alexandre Guerra, 18.05.12

Embora cansado e já sem a gravata que tinha levado para o Conselho de Ministros, foi num registo informal e de boa disposição que Álvaro Santos Pereira, ministro da Economia, recebeu alguns bloguers para um jantar num restaurante em Lisboa, ontem à noite, depois de um dia que o próprio considerou de “histórico”, por causa das medidas aprovadas que visam cortes de 1.800 milhões de euros até 2020 nas rendas excessivas pagas às produtoras de electricidade.

Mais uma medida que Álvaro Santos Pereira considera inédita e que nenhum outro Governo tinha ousado até agora adoptar. Aliás, foi interessante ver o ministro liberto das amarras protocolares que a sua função o obriga, para assumir um registo mais desafiante face à Endesa, empresa que ontem reagiu criticamente às medidas anunciadas pelo Governo.

Álvaro Santos Pereira acredita que as medidas anunciadas ontem representam um abanão no “status quo” que estava instalado, sobretudo entre o Estado e as eléctricas, nomeadamente a EDP.

António Costa, no Diário Económico desta Sexta-feira, parece partilhar, de algum modo, essa ideia: “Tudo somado, o Governo fez o que nenhum outro tinha feito. Cortar 1.800 milhões de euros de apoios às produtoras eléctricas até 2020 corresponde a poupar às famílias e às empresas o pagamento de 1.800 milhões de euros na factura de electricidade.” 

O problema é que apesar dos bons propósitos de Álvaro Santos Pereira e da sua eventual vontade de enfrentar interesses instalados, o ministro da Economia reconhece que não está a conseguir chegar às pessoas. A mensagem simplesmente não passa. E não passa porquê? Perguntou Álvaro Santos Pereira aos bloguers.

A verdade é que as razões são várias, mas, acima de tudo, o ministro da Economia terá que perceber que se, por um lado, os portugueses têm uma grande capacidade de resiliência para encaixar as mais duras medidas e encontrar formas de responder à “crise”, por outro lado, as pessoas precisam de se sentir confortadas pelos seus líderes e ouvir da sua boca palavras inspiradoras.

Quando se trata de chegar à mente e ao coração das pessoas, por vezes, é preferível dar menos enfoque nas “medidas” e nos “indicadores” e ser-se mais emotivo, de modo e envolver a comunidade.

Até porque nalguns casos, mais do que as medidas impostas, os portugueses ficam é revoltados com o silêncio absoluto do Governo perante situações que enfrentam no seu quotidiano, tais como as greves e as chantagens infindáveis das empresas do subsector dos transportes, quase todas falidas, que prejudicam milhares de pessoas. Este é apenas um exemplo entre muitos.

Os portugueses esperam que os seus políticos dêem um “murro na mesa” e partilhem com eles a sua indignação perante situações objectivamente condenáveis e injustas. Mas nada disso acontece.

Pelo contrário, a maioria dos membros do Governo, independentemente das medidas tomadas, limita-se a palavras de circunstância, refugiando-se no enquadramento legal e jurídico, não fazendo qualquer ruptura com o discurso tradicional (neste campo, muito há a aprender com a forma de se fazer política nos Estados Unidos e em Inglaterra).

Perante isto, as pessoas sentem-se revoltadas e desinteressam-se de tudo o resto, das "medidas anunciadas", por mais meritórias que sejam. É por isso importante que o ministro Álvaro Santos Pereira compreenda que uma coisa é demonstrar a sua vontade reformadora num jantar com alguns bloguers, outra coisa é exteriorizar essa sua determinação e emoção para os milhões de portugueses. 

 

Texto publicado originalmente no PiaR.

Há certa malta que sempre gostou do cacete embrulhado em homilia...

José Adelino Maltez, 28.03.12

 

A decadência não é uma causa, é um sintoma, onde a quantidade não rima com a qualidade, não porque a massificação seja pior que o elitismo da sociedade fechada, mas porque a meritocracia não consegue furar o esquema salazarento que esmaga a democracia. Logo, fragmentados por conflitualismos sectários, passámos a ser dominados por lutas de poder pelo poder, onde os jogadores pensam que ganham tanto quanto os adversários perdem e onde a unidade se transforma em unicidade centralista e concentracionária e a diferença, em dissidência a abater pelos vigilantes que estão ao serviço do verticalismo.

 

Há momentos de apetecer desistir, são exactamente aqueles onde importa lutar ainda mais. Sobretudo quando vendem produtos políticos falsificados, de total ausência de autenticidade, dos que proferem teorias e nós sabemos vivencialmente que, na prática, a teoria sempre foi outra. A do habitual taxímetro e a do sistema clássico de compra e venda do poder. Com música celestial. Basta medirmos os efeitos. Sem os salamaleques de quem quer abocanhar, nem que seja o croquete do evento.

 

Um situacionista de sucesso é aquele que apostou em todos os cavalos, que traiu todos os cavaleiros, que retirou o cavalinho da chuva, quando estavam a molhar a respectiva capela. E que, na altura certa, se passou para o cavalo do novo poder, quando este precisava de mostrar que até se dava com alimárias que fingiam ser da outra cavalariça. Só que cavalo em cima de cavalo apenas dá cavalgadura e o lombo, com molho, nem com condimentos se safa. Sabe sempre a palha.

 

Por seu frutos os conhecereis. Mesmo uma árvore que se diga de causas mede-se sempre pelas consequências. Pelos espinhos que gera e pelas consequências que ela própria escolhe. Antecipando os maus frutos.

jfd @ tv - Game Change

jfd, 16.03.12

Sendo um fanático pelo politico made in USA, aliás como o meu caro colega de forte Francisco, não poderia deixar de comentar a recente adaptação do livro Game Change ao pequeno grande ecrã.

Delirei, como é claro, com o relato de David Plouffe sobre as marcantes eleições de 2008. Uma visão muito democrata e com todos os detalhes possíveis de relatar que me remeteram para aqueles tempos de mudança e luta política renhida. Partilho também a leitura que teve o meu caro Nuno Gouveia do mesmo livro. Caro este, que escreve no Era Uma Vez na América e que é um blog obrigatório para pessoas que partilhem da minha patologia.

Depois com a leitura de Game Change, tive uma visão mais ampla da coisa. Confirmei as coincidências e preenchi os vazios. Fui um insider e partilhei aquelas eleições com aqueles protagonistas. Voltei ao passado e senti na pele da imaginação a pertença no espaço em que comentaram Keith Olbermann, Bill O'Reilly, Rachell Maddow, Sean Hannity ou o respeitável e infelizmente já falecido Tim Russert do Meet the Press, entre muitos outros que são actores num palco que muito me ensina e diverte (ênfase aqui!).

 

Mas o assunto aqui é TV, e foi a TV que já me tinha dado a ver o espectacular filme sobre a recontagem de votos Bush vs Gore na Florida, que me trouxe, pelas mãos do mesmo realizador, o Game Change. E ainda bem que assim foi. Está muito bom e é um excelente pedaço de televisão. Para junkies como eu então, viciante e demasiado excitante para ser visto com quem não partilha nem um pouco da experiência e paixão.

 

Claro que para muitos o expoente máximo é uma Julianne Moore que interpreta Sarah Palin como nem Tina Fey o fez nos divertidos momentos de SNL. Mas o filme é muito mais que isso. É sobre o processo, é sobre McCain e os seus assessores e como lidaram com a escolha para VP. Principalmente a personagem de Woody Harrelson, Steve Schmidt - o estrategista principal e a forma como lida com todas as nuances que advêm da escolha de Palin. Este foi recrutado para a campanha por um McCain moribundo mas que rapidamente ganhou fôlego, a nomeação e, com a escolha de Palin para VP, ganhou um balanço cujo o resto é história.

Recomendo.