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Forte Apache

Realidade ou ficção?

Joana Nave, 28.07.12

Distinguir a realidade da ficção pode ser uma odisseia bem complexa para o ser humano. Desde pequenos somos motivados a desenvolver a nossa criatividade e imaginação. Ao longo da vida a originalidade é premiada com louvor e glória. Se queremos ir mais longe, temos de ser mais ousados, mais afoitos, mais criativos. Criar é assim um acto de tornar em matéria um simples pensamento, que surge na nossa cabeça de forma mais ou menos espontânea. Parece pois absurdo que seja precisamente a imaginação desenfreada a causa de tantas doenças do foro psicológico. A panóplia de enfermidades é tão ou mais criativa que a própria imaginação: Esquizofrenia, Parkinson, Alzheimer, TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), Hipocondria, Narcolepsia, Bipolaridade, Anorexia Nervosa, Bulimia, apenas para nomear algumas.

A questão que me perturba é a forma como estas doenças são muitas vezes usadas com elevada inteligência pelos seus portadores, influenciando a realidade em que vivem e induzindo aqueles que os rodeiam. Confesso que tenho alguma dúvida em relação à cura destas doenças, pois uma mente perturbada muito dificilmente encontrará forças para se libertar ou será permeável a ajuda externa.

Há um filme que ilustra na perfeição este tipo de patologias neurológicas – “À la folie... pas du tout” de Laetitia Colombani, com Audrey Tautou e Samuel Le Bihan. O filme conta a história de uma jovem mulher (Angélique), artista plástica, com uma carreira promissora pela frente, que se apaixona por um homem casado (Loïc). Na mente de Angélique, Loïc corresponde ao amor que ela lhe tem, trocam presentes, planeiam uma viagem, mas ele não deixa a mulher e ela sofre com isso e espera… Enquanto espera, a sua obsessão leva-a a atropelar a mulher de Loïc, que espera um filho deste, e que Angélique julga o verdadeiro entrave à separação do casal. Quando vemos a realidade através da mente de Loïc tudo se torna claro e é bem visível a doença que perturba Angélique e a faz confundir a imaginação com a realidade, tornando-a perigosa, mas irresponsável pelos seus actos…

O que é que o Romário tem para me ensinar?

Francisca Prieto, 21.03.12

N-A-D-A, era o que eu achava.

 

Há seis anos, poucos meses depois de eu ter tido uma filha com Síndrome de Down, a imprensa brasileira anunciava que o Romário tinha sido surpreendido, também ele, com um cromossoma a mais na descendência.

Mas como é que um futebolista com cara de analfabruto, ainda que deputado federal (só no Brasil, meu Deus), podia ter alguma coisa para me ensinar? Pfffff.

 

Hoje, no dia Mundial da Síndrome de Down, poucos dias depois de ter visto este vídeo, venho pespegar-me publicamente dois pares de estalos e penitenciar-me pelos meus preconceitos. Porque o Romário verbaliza num discurso claríssimo, usando todas as palavras nos lugares certos, todos os sentimentos que, nos últimos seis anos, têm saltitado da minha alma para o meu coração, sem que lhes tenha conseguido dar forma. Parece que afinal sou eu, que tenho tanto jeito para redacções, que sou a analfabruta. E deve ser por isso que, muito provavelmente, nunca chegarei a deputada federal.

 

(Romário a partir do minuto 1.50)

Congrats Lauren

Francisca Prieto, 14.02.12

 

Em 1974, Emily Kingsley, uma das argumentistas da famosa série televisiva Rua Sésamo, teve um filho a quem foi diagnosticado Síndrome de Down logo nas primeiras horas de vida.

 

Foi-lhe dito pelo médico assistente: “Your child will be mentally retarded. He’ll never sit or stand, walk or talk. He’ll never read or write or have a single meaningful thought or idea. The common practice for these children is to place them in an institution immediately”. O médico foi tão longe que chegou a aconselhá-la a ir para casa e dizer aos amigos e familiares que a criança tinha morrido à nascença.

 

Em 2012, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, convidou a actriz Lauren Potter, portadora de Síndrome de Down, para assessora do Comité para Portadores de Deficiência Intelectual.

 

A actriz, famosa pela sua participação na série televisiva Glee, partilhará com o líder mundial os seus pontos de vista sobre temas tão relevantes como a educação, a posse de habitação ou a profissionalização de pessoas com este tipo de deficiência.

 

Potter irá juntar-se a outros 33 oficiais do governo para trabalhar na mudança e Obama sente que se trata de um elemento com uma enorme mais valia. Afirma “Sinto-me grato por estas talentosas e dedicadas pessoas terem concordado em desempenhar este papel e dedicarem o seu talento para servir o povo americano. Estou desejoso de trabalhar com eles nos próximos meses e anos”.

 

Não sei quantos pais, mães, professores e técnicos foram precisos durante estes trinta e oito anos para passar de um extremo a outro. Mas sei que serão precisos outros tantos e mais trinta e oito anos para que um dia as Lauren Potters deste mundo já não sejam notícia.

Que é isto?

Luís Naves, 03.02.12

Peço desculpa aos leitores pelo abuso da vossa paciência, mas ocorreu-me esta reflexão sobre a hipocrisia. Enfim, é um pouco mais alargada, tem outros temas, tenciono proceder aos devidos desenvolvimentos, a ideia andava por aqui a bailar há uns dois anos e assumiu esta forma ainda precária. Não quero parecer um calimero, mas as visitas são escassas e temos de fazer pela vida...