Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Forte Apache

Agradeço, com todas as letras

Pedro Correia, 15.06.13

 

Venho agradecer a todos que nas últimas semanas noticiaram ou comentaram o meu livro, Vogais e Consoantes Politicamente Incorrectas do Acordo Ortográfico. Hoje fica a referência - ainda incompleta - aos blogues, pedindo desde já desculpa por alguma eventual omissão, que prontamente corrigirei.

 

A Barbearia do Senhor Luís

A Bem da Nação

A Dignidade da Diferença

A Ronda dos Dias

A Viagem dos Argonautas

Açúcar Amarelo

Ainda que os amantes se percam...

ALCA

Andanças Medievais

Antes que eu me esqueça...

Atentado ao Pudor

Aventar (1, 2)

Bandeira ao Vento

Bibliotecário de Babel

Biblos - AEFCR-BE

Bic Laranja

Blog do Bianchi

Bloguítica (1, 2)

Books Around the Corner

Cá Entre Nós

Cabeça de Cão

Carlos Emerson Junior

Cidadão do Mundo

Colóquios da Lusofonia

Core Catholica

Corta-Fitas

Crónicas de Além Tejo

Declínio e Queda

Descomplicómetro

Dias Imperfeitos

É Fartar, Vilanagem

És a nossa Fé

Estado Sentido

Eternas Saudades do Futuro

Fio de Prumo

Floresta do Sul

Forte Apache

Grande Hotel

Isto e Aquilo

História Maximus

José Cipriano Catarino

Lados A/B

Luminária

Ma-Schamba

Meditação na Pastelaria

Memória Virtual

O Andarilho

O Bacteriófago

O Escafandro

O Jornaleiro

Palavrossavrvs Rex

Perca Tempo - O Blog do Murilo

Ponte Vertical

Por A mais B

Portugal dos Pequeninos (1, 2, 3)

Português de Facto!

Praça da República

Quousque Tandem

Rabiscos de uma Leitora

Rangers & Coisas do MR

Real Associação da Beira Litoral

Risco Contínuo

Robssoares's Blog

Scriptum

Tertúlias à Lareira

Um Jardim no Deserto

2711

 

Nos próximos dias darei aqui nota dos ecos que a obra foi tendo nos órgãos de informação, designadamente em colunas de opinião e de crítica literária.

 

(actualizado)

O que torto nasce nunca se endireita

Pedro Correia, 27.05.13

Numa semana de Outubro de 1990, dúzia e meia de sábios iluminados reuniram-se no velho edifício da Academia das Ciências de Lisboa para mudarem a ortografia de uma língua falada por mais de 200 milhões de pessoas. Foi assim, neste ambiente de secretismo, quando não havia nenhuma demanda social para esse efeito, que nasceu o acordo ortográfico.

Nasceu torto. E, como diz o povo, o que torto nasce tarde ou nunca se endireita. O acordo nasceu torto desde logo por ignorar a esmagadora maioria dos pareceres técnico-científicos sobre a matéria. Foram produzidas notáveis peças de análise crítica por parte de escritores, professores, linguistas - e todas acabaram no fundo de uma gaveta, olimpicamente ignoradas. O poder político fez tábua rasa dos alertas da comunidade científica - não só portuguesa mas também brasileira - que advertiam para as suas inúmeras deficiências técnicas, para as suas incongruências conceptuais, para os seus clamorosos erros.
Temos, portanto, um acordo que quase ninguém defende, que quase ninguém respeita, que quase ninguém aplica na íntegra. O Presidente da República, que o promulgou, confessa numa entrevista que em casa continua a escrever como aprendeu na escola. O Ministro da Educação, que o faz aplicar no sistema lectivo, admite que não gosta de mudar a maneira de escrever. O secretário de Estado que o assinou em nome do Governo português continua a escrever, em blogues e jornais, na correcta grafia anterior ao convénio de 1990.

Este acordo pretendia unificar o nosso idioma, na sua versão escrita, mas acabou por consagrar grafias diferentes. Hoje o Estado angolano, por exemplo, tem uma grafia diferente da do Estado português. E este, por sua vez, acolheu como boas mais de 200 novas palavras que passam a ser escritas de forma diferente entre Portugal e o Brasil. Palavras como recepção ou excepção, que viram cair o p nos documentos oficiais portugueses, enquanto mantêm o p que sempre tiveram no documentos oficiais brasileiros.
Entre nós, em resultado das chamadas "facultatividades" reconhecidas pelo acordo, vai-se abolindo o carácter normativo da escrita, dando lugar a uma espécie de ortografia à la carte, ao sabor da subjectividade de cada um. Assim é possível ver órgãos de informação pertencentes ao mesmo grupo editorial escreverem nuns casos sector, com c, e noutros setor, sem c. Há jornais que adoptaram o acordo, mas adiantando desde logo várias excepções à regra, continuando por exemplo a pôr acento na palavra pára. Ainda há dias, a propósito da co-adopção, registámos quatro grafias diferentes desta palavra: com p e sem p, com hífen e sem hífen.
E porque não haverá de se instalar a confusão geral na escrita jornalística se ela impera no próprio Diário da República, onde já foram consagradas na letra da lei expressões como fato ilícito ou união de fato?
 
O acordo acabou por conduzir, portanto, ao caos ortográfico.
O que fazer?
Aquilo que deve ser feito quando alguma coisa não está bem: mudá-la.
Deve ser constituída sem demora uma comissão de revisão do acordo, com carácter muito alargado e reunindo especialistas dos mais diversos saberes, de modo a produzir um dicionário ortográfico e regras claras, que não violem a etimologia das palavras, como no absurdo espetador em vez de espectador, e não separem famílias lexicais, como na frase «há egiptólogos no Egito».
Enquanto não houver essa revisão profunda e enquanto não for produzido esse dicionário, o acordo deve ser suspenso. E naturalmente a sua aplicação obrigatória, prevista para 2016, deve ser adiada para nova data, como aliás o Brasil já fez.

 

Alguém me perguntava há dias por que motivo não se ouvem as vozes dos defensores do acordo.
A resposta é simples: essas vozes não se ouvem porque os defensores deste acordo são em número muito diminuto. Basta folhearmos livros que vão sendo publicados, de escritores das mais diversas tendências, das mais diversas escolas estéticas e de todas as gerações para se perceber que fazem questão em escrever estas suas obras na ortografia anterior ao acordo ortográfico de 1990. Isto sucede não apenas com escritores portugueses: ainda agora foi editado um livro póstumo de Antonio Tabucchi, intitulado Viagens e Outras Viagens. Lá vem a advertência, na ficha técnica: «Por vontade expressa dos herdeiros do autor, a tradução respeita a ortografia anterior ao actual acordo ortográfico.»
O mesmo sucede nos jornais: mesmo naqueles que aplicam o acordo, aliás cada qual a seu modo, não faltam colunistas e articulistas que insistem em escrever na ortografia pré-AO.
Em todos os sectores da sociedade portuguesa a rejeição das normas acordísticas é claríssima. E maior seria ainda se não houvesse a imposição de adoptá-las na administração pública, incluindo nas escolas, onde são largos milhares os professores que se opõem às regras ortográficas emanadas do AO. A estes professores, tal como a todos os utentes qualificados da língua portuguesa, o poder político tem a estrita obrigação de reconhecer e garantir o estatuto de objecção de consciência.
 
Vou terminar. Mas antes gostaria de contar um episódio que protagonizei e do qual me lembro sempre que ouço alguns dizerem que não vale a pena discutir o acordo por ele ser irreversível. Já tenho anos suficientes para ter visto enterrar muitas coisas consideradas irreversíveis. Em 1984, estava eu no início da minha carreira jornalística, escrevi uma carta aberta a José Ramos-Horta que terminava assim: «Um dia hei-de abraçá-lo num Timor livre e independente.» O jornal onde eu trabalhava tinha uma linha editorial de apoio à integração de Timor na Indonésia precisamente por a considerar irreversível.
Afinal não era irreversível. E vinte anos depois dessa carta aberta, em 2004, pude abraçar de facto Ramos-Horta - já então galardoado com o Nobel da Paz e exercendo as funções de primeiro-ministro do seu país, num Timor livre e independente.
Os timorenses souberam resistir.
Nós devemos continuar a resistir também. Em nome daquilo em que acreditamos. Por isso dedico este livro à minha filha Joana, aqui presente. Porque nós, os mais velhos, somos fiéis depositários de valores culturais que temos o dever de legar às gerações futuras. E nenhum valor cultural é tão nobre e tão inestimável como a nossa língua.
 
Texto lido na apresentação do meu livro, dia 21, em Lisboa.

Saber escrever, saber falar

jfd, 03.01.13

Tenho muito respeito por Edite Estrela:

a) porque me ensinou a falar melhor português

b) porque me ensinou a escrever melhor português

c) porque sempre me ignorou como troll no seu twitta e nunca me bloqueou

d) porque sabe marcar jantares com classe e gente importante

 

Só tenho pena que ainda não haja a versão Novo "Edite Estrela" Acordo....

 

Quando a norma equivale ao erro

Pedro Correia, 29.06.12

«Invejo a burrice, porque é eterna.»

Nelson Rodrigues

 

O que dantes era emendado como erro básico de ortografia, próprio de gente burra, agora é mantido solenemente em artigos de jornal por vir com a chancela quase oficial da agência Lusa, primeiro órgão de informação a substituir o português pelo acordês. Os resultados estão à vista: a palavra contacto, que nem o "pacto de submissão" aos interesses das editoras brasileiras previa, é amputada duas vezes no mesmo texto de origem (e felizmente emendada no título do jornal). Na dúvida, opta-se pela burrice à boleia do tal acordo destinado a suprimir consoantes.

Começa-se pelas chamadas "consoantes mudas" e logo se transita para a caça às sonoras, que assim deixam de o ser. Até cada um passar a escrever como lhe der na real gana. Sem norma, com imensas "facultatividades", sem a noção básica da etimologia. Como António Guerreiro sublinha aqui, a propósito de panóptico, palavra que «nunca teve outra pronúncia que não fosse a da 'norma culta'» e que apesar disso passou alarvemente a escrever-se panótico por imposição dos "corretores ortográficos" em acordês.

À falta de um vocabulário ortográfico comum - promessa nunca concretizada pela brigada acordista - passa a valer tudo: erro e norma tornam-se irmãos siameses. «O AO, estúpido como é - de uma estupidez cómico-grotesca -, promove constantemente erros de hipercorrecção, sem fornecer meios que os possam evitar. E, hipertélico, acaba por ir além dos seus próprios fins e anulá-los. Sem o 'p' a palavra refere-se à audição, e não à visão, ou então é utilizada no campo da química para designar um corante», sublinha Guerreiro, crítico literário do Expresso.

Sábio - nesta matéria, como em tantas outras - era Fernando Pessoa. Que escreveu, cheio de razão: «A ortografia é um fenómeno da cultura, e portanto um fenómeno espiritual. O Estado nada tem com o espírito. O Estado não tem direito a compelir-me, em matéria estranha ao Estado, a escrever numa ortografia que repugno, como não tem direito a impor-me uma religião que não aceito.»

Sobretudo quando procura impor uma norma que equivale ao erro.

Publicado também aqui

O (Des)acordo Ortográfico

Miguel Félix António, 12.06.12

Ontem ao almoço nas novas instalações do IDL - Instituto Amaro da Costa (http://www.institutoamarodacosta.com/A-mesa-do-IDL-com-Vasco-Graca-Moura-n146.htm), foram dilucidadas de forma clara por Vasco Graça Moura as contradições do (Des)acordo Ortográfico.

Bom seria que os governantes ponderassem o que dizem especialistas e estudiosos nesta matéria como o Presidente do Centro Cultural de Belém.

Que pena os políticos, com algumas excepções, se refugiarem na "langue du bois" para não terem que tomar posição sobre aspectos fundamentais da vida do nosso país. Sim, porque há mais Portugal para além da "troika" e da voragem fiscal que nos suga o que já não temos.  

Olhos nos Olhos

Maurício Barra, 23.05.12

Olhos nos olhos, a Professora Maria do Carmo explicou-nos a última peça que faltava para compreender o abrolho do acordo ortográfico: é um tresolho, ou seja, é filho do eduquês que infectou  - e ainda infecta -  toda a política de educação, na qual as crincinhas não devem ser perturbadas na sua compreensão, não as devemos esforçar para aprenderem as palavras, a gramática das palavras, a história das palavras, não precisam de literatura, basta a linguagem simples da rua, onde todos somos iguais, onde não é preciso aprender mais do que Ói, Bora, Bomba aí, meu. 

Vai daí, um conjunto de aventesmas, liderados por um carantonha, esbardalharam um pinchavelho a que chamam acordo. Mais valia chamarem-lhe chiripiti, pois as criancinhas quando crescerem ficam limitadas à linguagem de tasca.

Acordo? Patacoada, é o que é. E façam o favor de lhe tirar o Ortográfico: é uma ofensa à lingua e aos escritores portugueses.

Entre as brumas da informática

José Meireles Graça, 02.04.12

Li isto da minha inimiga de estimação Joana Lopes e fui, lampeiro, aos comentários, a ver se a Joana me ensinava o truque.


Mas nada, não consegui comentar porque não atinei - sou meio info-excluído.


Venho assim, envergonhado, pedir publicamente à Joana que explique às pessoas como eu o caminho das pedras, a fim de, quando for o caso, poder dizer mal dos textos dela com a grafia pré-Acordo, que com a moderninha não me entendo.