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Forte Apache

Pistas para reflexão sobre a crise: Conversa com agricultor

Carlos Faria, 31.07.12

A crise por que Portugal atravessa teve causas múltiplas, resultou de um acumular de erros que foram cometidos pela classe política e pelos agentes económicos e financeiros, mas também foi ampliada pelo comportamento de muitos cidadãos do povo.

Um agricultor conhecido meu - que abandonou a atividade há mais de uma década, quando tinha cerca de 50 anos de idade e ao abrigo da política da UE de subsidiar em Portugal a retirada de mão de obra de gente ainda válida na agricultura e nas pescas e cujos resultados igualmente contribuíram para a situação em que nos encontramos - teve nos últimos dias um diálogo do género:

- Não compensa mesmo trabalhar, estive num supermercado e encontrei um saco de 5kg de feijão por 7€.
- E então?...
- Está barato, não vale o trabalho.
- Pois!... e se fosse 1400 escudos?
- Ah, pensando assim já vale alguma coisa, mas eu penso em euros.

 

Dá que pensar este diálogo real...

Os úteis estilhaços do episódio Pingo Doce

Judite França, 04.05.12

Não há fome que não dê fartura, diz o povo. E tem razão: passo semanas sem escrever uma linha no Forte (e é só por minha culpa, minha tão grande culpa) e hoje os astros alinham-se para que eu tenha mais temas do que mãos para escrever...

 

Logo de manhã, apercebo-me que um Observatório dos Mercados Agrícolas (hã?????) já tinha topado as grandes distribuidoras. Por exemplo, 80% do preço final da alface fica na distribuição. 80%. E quando é o Observatório dos Mercados Agrícolas descobriu isto? Não interessa nada. Porque tudo se desenrola depois do episódio Pingo Doce.

Até lá, as margens de lucro da cenoura ou da pêra eram problemas de somenos importância com certeza. Mas agora, com o 1.º de Maio transformado em dia do consumidor desvairado, vamos lá falar das margens esmagadas dos produtores, sobretudo os agrícolas, que não têm armas para negociar verdadeiramente contra as grandes distribuidoras.

De cada vez que os hipermercados falam da produção nacional, e do clube dos produtores, e outras coisas que tais, basta passar pela zona da fruta e ver que os limões - sim, até os limões - podem bem ter vindo de muito longe.

O país acordou para o drama dos agricultores com anos de atraso e precisou do frenesi do 1.º de Maio para perceber que, se calhar, já se pensava em fazer alguma coisa a sério para resolver o problema. E não é preciso pensar muito: basta copiar o exemplo de alguns países europeus, que obrigam a que os hipermercados comprem alguns dos seus produtos localmente.

Simples, não? Se assim for, não será preciso negociar até à insanidade - são os produtores que ficam loucos de raiva, claro - com as distribuidoras, que acenam com as maçãs da América do Sul.