« Sabe que quantas naus esta viagem
Que tu fazes, fizerem, de atrevidas,
Inimiga terão esta paragem,
Com ventos e tormentas desmedidas!
E da primeira armada, que passagem
Fizer por estas ondas insufridas,
Eu farei d’improviso tal castigo,
Que seja mor o dano que o perigo!»
" Que seja mor o dano que o perigo ". Esta estrofe dos Lusíadas resume bem o momento que vivemos.
Num país "que quer acreditar" que o actual Governo nos pode salvar do abismo em que o anterior nos colocou - e aqui convém sublinhar que os que querem acreditar ultrapassam largamente em número os "que querem votar" -, as medidas anunciadas pelo Primeiro Ministro foram difíceis para o corpo e ácidas para a compreensão.
Que o "corpo teria de sofrer" era esperado, depois da decisão de inconstitucionalidade da trajectória de ajustamento que estava em curso. A qual tem origem na irresponsabilidade do PS de "atirar a pedra e esconder a mão" para proteger o seu grupo eleitoral do sector público, engordado durante treze anos numa distorsão social que eliminou a equidade com quem trabalha no sector privado e que nos custou a todos o Estado sobredimensionado que nos levou à porta da bancarrota.
Mas que se descure a compreensão das medidas que a realidade impõe já é responsabilidade do actual governo.
O aumento de desconto para as SS reverte para melhoria da reforma de quem desconta ?
Ou é só um pagamento "imposto"?
Qual é a projecção total do seu valor e quanto representa no ajustamento do deficit ?
Os ordenados mínimos vão ter medidas compensatórias ?
A baixa da TSU das empresas, diminuindo o pay check e aumentando a produtividade, quanto representará em investimento e emprego ?
Ou só é para apoio à tesouraria, já que a a banca se recusa a financiar as PME's invocando esse argumento ?
As "gorduras" do Estado continuam saturadas ou vão ser liofilizadas ?
É que falar em gordurar do Estado em Portugal é falar da distorsão de um mercado não concorrencial onde monopólios, duopólios ( agora os privados querem construir mais um nas televisões ) e oligopólios usam e abusam dos portugueses, como muito bem escrevia o actual Ministro de Economia. Qual é a contribuição para ajustamento em curso das PPP's, SCUT's, Fundações e das famosas e onerosas rendas excessivas ?
E, sobretudo, quando é que o "saco de pedras" que todos temos de carregar fica menos pesado ? Quando e em que condições veremos os direitos económicos das famílias, desprezadas por esta Constituição, defendidos por um Governo em que queremos acreditar ?
Confundir determinação com bom senso, neste momento, pode ser particularmente grave. O momento exige a máxima determinação e o máximo bom senso para explicar os objectivos dessa determinação.
Só assim " os que querem acreditar " podem continuar a acreditar.