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Forte Apache

Um post ao acaso sobre Angola

André Miguel, 12.11.12
À beira de completar seis anos em Angola muita coisa há para escrever e contar, difícil é escolher e saber por onde começar, mas desde o início atribulado às peripécias do dia-a-dia, que só aqui acontecem, há algo que não mudou nestes anos: um quarto trimestre endiabrado.

Não sei se o mesmo acontece em todas as profissões, mas para quem, como eu, se dedica à logística e transportes internacionais a coisa é difícil de descrever. Este país vive do que importa e a produção local, apesar do aumento que se verifica, é ainda marginal quando comparada com as importações, sendo que estas, literalmente, disparam no último trimestre do ano; facilmente se duplica ou mesmo triplica o volume de actividade nesta fase. A correria é impressionante. Tudo se encomenda, tudo se compra e vende, com especial incidência nos cabazes de Natal, que são uma oferta de grande tradição natalícia por estas bandas. O fim de ano, pelos motivos óbvios, é uma época de grande consumo e Angola não é excepção, mas tem a particularidade de Luanda ser o seu grande centro comercial, a capital é o grande mercado abastecedor do país, pelo que o resultado é fácil de imaginar: se o Porto e o Aeroporto já são pequenos para a sua actividade normal e as ruas da cidade estão sempre congestionadas, imaginai nesta fase. A paciência de santo é quase requisito obrigatório.

E o volume de trabalho torna-se impressionante, o ritmo endiabrado, com muito pouco tempo livre. O dia-a-dia já é sempre bem recheado, pois um expatriado tem que render bem o que a empresa paga por ele, mas nesta altura do ano é coisa é indescritível.

Mas pelo menos é verão. Há sol e calor com fartura a convidarem constantemente à praia, aos almoços à beira mar e às festas nocturnas na Ilha de Luanda. Mas tanto calor também consome mais energia, pelo que o fornecimento desta fica um pouco mais irregular nesta fase. Em verdade se diga que a distribuição de energia em Luanda melhorou imenso nos últimos anos, mas ainda é usual passarmos um, dois ou três dias por semana, dependendo das zonas, sem energia eléctrica. E sem energia eléctrica podemos esquecer o duche, pois se a electro-bomba não funcionar não há como levar água até casa. Sobra o gerador, o qual, no meu caso, tem sempre a pontaria de avariar quando há mais falhas de rede. Sendo verão é também a época das chuvas, sendo que aqui quando chove vem água a sério, com todos os transtornos que podemos, ou conseguimos, imaginar numa cidade preparada para 500 mil habitantes e hoje com cerca de 5 milhões. O trânsito que já é quase tipo betão, fica pouco menos que impossível, pelo que a pontualidade para com os compromissos, que já é uma miragem, fica um mito. E depois temos as falhas de sistema; por uma incrível coincidência falha o sistema precisamente nos sítios onde temos algo a tratar naquele preciso momento.

Mas este ano, como se tudo isto não bastasse para testar a nossa resistência, uns tipos lá em Portugal, que é tão só o segundo fornecedor de Angola, lembraram-se de fazer umas graves nos portos, ou seja: já tínhamos a incerteza de quando um contentor sai do Porto de Luanda, mas agora temos a incerteza de quando o mesmo cá chega. Fantástico, não é?

Menos mal de daqui a pouco mais de um mês estarei de férias na planície alentejana e o resto é conversa...

Ainda sobre o algodão

jfd, 03.02.12

Ontem a senhora deputada Inês Medeiros exigia a presença do senhor ministro Miguel Relvas no Parlamento.

Porquê? Porque os jornalistas exigiram consequências claras e a Direcção de Informação da RDP demitiu-se. Censura politicamente orientada, ouviu-se ontem no Parlamento via João Semedo. Para mim isto tudo tem uma graça imensa. Pois de censura não se tratará. Caso fosse não teria graça nenhuma.

Mas estes arautos da transparência, verdade e liberdade dir-me-ão como reagiram num passado recente de asfixia que tanto foi por nós condenado. Mas podemos até esquecer o passado, que já lá vai.

Agora estamos noutra realidade. A realidade da transparência. Um Governo que diz ao que vem, que é consequente e que, pasmem-se!, publica quem nomeia em site público. É chato ver agora acontecer aquilo que se pediu no passado, e toca então de arranjar mais faits divers.

Estariam estes senhores incomodados com a tal falta de assunto para atacar este Governo, interessados também em publicar quanto custam as direcções e as redacções ao erário público?

Estariam estes senhores, quiça, ensombrados com a privatização no horizonte, interessados em falar ao povo qual é o ROI* que trazem ao investidor Estado e que mais-valia servem para uma audiência que claramente não os tem como preferência?

Não tinham assunto? Agora já têm!

 

*return on investment