Há uma eternidade que me habituei a ouvir o Dr. Carvalho da Silva a preopinar, com superioridade e sapiência, sobre a gestão do capitalismo em geral, e das empresas privadas em particular.
O fenómeno sempre me pareceu incongruente: não se ensina a melhorar o sistema que se quer destruir; e como nunca nenhuma PME foi à falência, na opinião do gestor Carvalho, por outras razões que não a notória falta de formação dos patrões portugueses, a sua criminosa rapacidade e o característico desprezo pelo bem-estar e interesses dos trabalhadores - então a única explicação para quererem passar da condição de exploradores à de falidos é, na fase moribunda, um violento e inexplicável ataque de masoquismo.
Em tempos, quando tinha tempo para passear nas caixas de comentários do Arrastão, dei de conselho a um assanhado sindicalista que a CGTP salvasse, para exemplo, umas quantas PMEs à beira do precipício, pelo expediente de as recapitalizar (a maior parte dos trabalhadores não estão sindicalizados e é por isso fácil aumentar as receitas, conquistando novas adesões) e contratando gestores devidamente formados, que as Universidades despejam no mercado às dúzias.
O conselho caiu em saco roto - um facho diz coisas de facho, nada que preste.
Bons tempos; que o novo líder putativo da classe operária nem parece intelectual, nem diz coisas profundas, e é bem comunistazinho, previsivelzinho e chatinho - o Arménio do nosso bocejo.
Mas a Vida não pára, benza-a Deus. E agora, por aqueles lados (os do Arrastão, entenda-se) acha-se que, ultrapassado um certo nível de taxas de impostos, a cobrança, em vez de aumentar, diminui. Ou seja, para diminuir o endividamento do Estado, é preciso cortar na despesa.
Pelo menos foi isso o que percebi. E isto é o mundo às avessas - ... e o universo/Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.