Quando o Estado deve ser Estado!
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Eu não disse? As instâncias europeias que superiormente nos regem sabem onde estão os melhores; e põem-nos asinha a dar palpites.
Teremos portanto entre 500 e mil novos funcionários pagos a peso de ouro e com estatuto fiscal de excepção; e nos bancos nacionais ninguém será despedido - se estiverem a mais na supervisão mudam-se para a previsão económica, após a adequada formação na leitura das entranhas de animais de cor branca, devidamente imolados.
Ou seja, a Europa está dando fortes sinais de encarar o problema do desemprego. São apenas 500 postos de trabalho, mas de grande qualidade - e as dunas, mesmo as grandes, são feitas de grãos de areia.
Mas isto são os postos de trabalho directos. Porque, para responder às exigências do novo organismo, haverá um acréscimo de custos com papeladas, informática, viagens, inspecções e informações - e gente para se ocupar de tudo isso.
Nada que os clientes dos bancos não possam pagar. E não é mesmo isto que define as economias avançadas - economias de serviços?
O diabo é se os bancos com práticas pouco recomendáveis se derem ao trabalho de as esconder; e se as informações não forem fidedignas. Conforme Constâncio esclareceu aquando do caso BPN, como é que podia adivinhar práticas ilegais, nos milhões de informações que recebia?
Mas não vamos ser pessimistas: em falhando a supervisão, reforça-se a supervisão; e se isso falhar, cria-se um novo organismo. Agora o que não se pode é parar o progresso - do asneirol.
Uau, agora é que vai ser: A mesma entidade vai proceder à supervisão dos bancos, seja uma casinha discreta como o BANIF seja um gigante alemão. Ainda ficam de fora à volta de seis mil bancos, mas o tempo deles chegará - era o que faltava uma nova burocracia ter terreno para crescer e não o fazer.
Diz o indispensável Costa: "Para os bancos portugueses, a decisão tomada pelos ministros das Finanças da União Europeia (UE) na última madrugada significa que ficam em igualdade de circunstâncias com os seus parceiros europeus. Potencialmente, pelo facto de serem supervisionados pelas mesmas instituições e da mesma forma, deixarão de ser prejudicados pelo facto de serem portugueses e de existir um risco maior associado ao Estado, o que lhes pode facilitar o acesso aos mercados".
Portanto, o tipo de créditos que os bancos detêm, a maior ou menor exposição a dívidas soberanas duvidosas, as suas disponibilidades de capital e de crédito, numa palavra, a sua solidez - os mercados não vão olhar para isso. Cada uma das entidades que constitui "os mercados" (o Instituto de Gestão dos Fundos da Segurança Social, o equivalente da Cochinchina, bancos e todas as inúmeras instituições e pessoas que, em todo o Mundo, têm disponibilidades e as querem aplicar) vai olhar para o vizinho, reflectir, cair-lhe efusivamente nos braços, e dizer aos corretores, suspirando de alívio: aplique-me aí x milhões numas obrigações de um banco. Qual banco, excelentíssimo senhor - há várias emissões? Ora, no que der mais - é tudo de confiança.
Não duvido nada que para encabeçar esta supervisão se recrutará do melhor que o próprio sector oferece. E havendo milhares de candidatos com o perfil adequado, não resisto a dizer que Vítor Constâncio teria um óptimo desempenho, não obstante um ou outro deslize, como o do BPN; um ou outro frete, como a previsão do défice orçamental no tempo do negregado Santana; uma ou outra previsão errada, como todas as que fez; e algum deslize teórico, como a afirmação de que, com a adesão ao Euro, se virava uma página no capítulo das dívidas externas dos países aderentes.
Em todo o caso, parece líquido que aquilo que a supervisão americana não conseguiu, donde o sub-prime; ou a supervisão inglesa, donde o Northern Rock; ou a portuguesa, donde o BPP - será conseguido se o regulador estiver longe. E compreende-se porquê: em estando longe vê-se melhor.
Por mim, ficaria contente se este novel organismo levasse a que os bancos portugueses abandonassem certas práticas de banditismo, como taxas de juro alucinadas ou débitos por inexistentes serviços; e se o financiamento chegasse onde é necessário (aquela coisa meio obscura da exportação de bens transaccionáveis, por exemplo).
Se me é permitida uma nota pessoal indiscreta, estou com fortes esperanças. Nisso e no renascer dos cabelos que perdi nos últimos dez anos.
Ponhamos de lado o Lehman Brothers, as dezenas de pequenos bancos deixados falir, as condenações americanas nos casos de polícia, a crise do sub-prime e o que ela desencadeou. Tudo chegou cá, e ajudou a fazer os estragos que ainda não reparámos.
Mas os nossos bancos, se não andaram embrulhados na organização de pacotes de lixo imobiliário e de futuros, nem por isso deixaram alegremente de embarcar no crédito à habitação e ao consumo, além do financiamento da dívida pública, dos concessionários das PPPs e quanto delírio desenvolvimentista nos trouxe onde estamos. E ainda que os incentivos do Estado e da taxa de juro associada ao Euro recomendassem a prática, no caso da habitação e do consumo; e que o poder de coerção do Estado, nos restantes, desse garantias de alguma segurança:
Não era difícil perceber que tarde ou cedo emprestar dinheiro aos empregados das empresas para comprarem apartamentos e plasmas, ao mesmo tempo que o crédito era negado a quem lhes pagava os ordenados, não podia acabar bem; e só muita desatenção, tráfico de influências e ignorância da História, justificavam as compras de dívida pública, tanto da nossa como, pasme-se, a de outros, inclusive gregos.
Cabe perguntar então como é possível que tanta gente de fato às riscas, bom corte de cabelo e economês emproado, assessorada por tanto académico albardado de diplomas, pôde ser tão inacreditavelmente estúpida.
Haverá decerto muitas explicações. A principal, para mim, é que todo o banqueiro sabe, entre nós, que não pagará o pato: entre garantias e avales do Estado, favores de intermediação com o BCE, extorsões várias com a bênção do Banco de Portugal, e abundância da procura, sempre o prémiozinho à gestão será confortável. E com a certeza de que o pavor do risco sistémico levará a que de uma forma ou outra o Estado ponha a mão por baixo, fica completo o quadro da irresponsabilidade que recomenda o comportamento aventureiro, privilegiando o curto-prazo.
Numa PME, as regras são simples: Falhas? Então tens bandeiras pretas à porta, os trabalhadores a chamarem-te ladrão, os sindicalistas a darem entrevistas e os intelectuais da gestão e da economia confirmados no seu desprezo dos empresários de vão-de-escada.
No banco tens, na pior das hipóteses, um pára-quedas dourado. Podes ser cooptado para um conselho de administração, ir fazer consultadoria, ser requestado para entrevistas, fundar empresas, ou simplesmente gozar a vida.
Se, para não dar o triste pio, aceitares apoio público, nem precisas de estar grato: basta que te queixes do preço, substancialmente inferior ao que cobras à inesgotável clientela. E podes, com segurança e pesporrência, vir para a praça pública abundar em considerações sobre sacrifícios, inevitabilidades e medidas.
Não há o risco de falta de aplausos: os banqueiros costumam falar apenas onde o aplauso esteja garantido. E não há o risco de pessoas como eu estarem na plateia - as pessoas como eu não vão ouvir discursos de banqueiros, a menos que lhes convenha fingir que ignoram que farinha é aquela.
Mas, pelos vistos, há o risco de, por acaso, estar na plateia quem, porventura não pensando o que eu penso, nem por isso tenha paciência para aturar vaidosos, inconscientes e arrogantes. E não hesite em dizê-lo.
Há mais tempo do que o que gosto de recordar, a empresa em que trabalhava foi assaltada e os ladrões levaram o cofre, deixando umas manchas de sangue no lugar dele. O trambolho era pesado e gosto de pensar que o acidente que terá tido lugar foi a forma como a Providência me sinalizou que se ocupava do castigo, dado que a Polícia descobriria nada, como veio a suceder.
Além de papeladas que para os ladrões não teriam utilidade, o principal prejuízo resultou de uns cheques pré-datados, passados à firma, cujos emissores foram atacados naquela maré de uma amnésia aguda, que, não lhes permitindo lembrarem-se da emissão, os inibia de os substituírem por outros.
O novo cofre levou o mesmo caminho cerca de um ano depois, razão por que passei a transportar os valores numa pochette ou num saco de plástico, quando, como era o caso no fim do mês, os valores tinham importância. Isto não obstante a opinião do Revisor de Contas, que encarou com reservas o expediente - teria porventura acções numa fábrica de cofres, não apurei.
À época, pagava-se ao pessoal em dinheiro - uma coisa extraordinariamente primitiva: o trabalhador pagava as suas contas, guardava o pouco que sobrasse para os seus hábitos e no próximo vencimento o ciclo recomeçava.
Às tantas vieram os cartões de crédito e veio a pressão dos bancos para acabar com os pagamentos em dinheiro: era muito perigoso, era mais cómodo pagar por transferência, era necessário um pré-aviso, os trabalhadores já tinham, pela maior parte, conta bancária, não havia custos nem para a empresa nem para os trabalhadores...
Resisti quanto pude - já então pensava sobre os bancos o que penso sobre abutres e ofídios: são absolutamente necessários a uma ecologia equilibrada, mas não é obrigatório apreciá-los e, se possível, deve guardar-se uma prudente distância.
Bons e inocentes tempos, aqueles: que onde iria parar o desaparecimento da moeda em papel, e para o que viriam a servir os bancos, e o que em nome da sobrevivência de muitos deles teríamos que sofrer, e o papel que o Estado viria a desempenhar em tudo isto - só talvez George Orwell poderia imaginar.
editado por Pedro Correia a 8/6/12 às 08:49
Dinheirinho vs. Autorização de residência!
O exemplo irlandês, neste particular, é muito interessante! Esta ideia, uns tempos antes, teria dado especial jeito a várias pessoas…por exemplo, Kadhafi, Mubarak. E até era capaz de ser um negócio que excederia as expectativas do Governo irlandês (por exemplo, o ex-ditador líbio parece – segundo o que foi veiculado, na época, na imprensa, – que tinha umas contas e umas aplicações muitíssimo consideráveis na “nossa” Caixa Geral de Depósitos).
Será que poderemos aproveitar a ideia?
Quem é que estará interessado (excluindo ex-ditadores e/ou “cidadãos do mundo”, com problemas com a justiça dos seus países de origem) em comprar uma autorização de residência aqui, em Portugal, mediante a aquisição de 2 milhões de títulos da nossa dívida pública?… Bom, bem vistas as coisas, quanto é que vale o nosso tão precisoso sol? E o clima sempre ameno? E a gastronomia? E, e…..
editado por Pedro Correia a 1/3/12 às 00:25
editado por Pedro Correia a 12/6/12 às 23:18
Mas então a Bolsa mudou-se para o Estoril?
Shorting makes the world go round...
editado por Pedro Correia a 3/8/12 às 18:20
O Presidente da República confessa, à Bloomberg, que Portugal está comprometido com metas definidas na ajuda internacional, mas diz que as exigências para os bancos deviam ser menores.(...)
editado por Pedro Correia às 23:13
Se mesmo eu, que apoio e acredito neste Governo, acredito na boa-fé e nas capacidades deste Primeiro-ministro e tenho consciência que estamos no meio do furacão, vejo este vídeo e fico a pensar, o que acontece com os outros?
Aquilo que o anterior Governo e outros antes dele fizeram não consigo, sinceramente, perdoar. Da mesma forma que não consigo perceber como foi e é possível manter o silêncio perante a nossa banca, perante todos aqueles que, ao longo destes anos, lideraram as inúmeras empresas públicas e conseguiram gerir de forma....vou procurar escolher bem as palavras para não ser insultuoso...desastrada. Como foi possível ao Banco de Portugal não ter visto, não se ter apercebido do que se passava no BPN, no BPP ou, já muitos não se recordam, no BCP? São tantas, tantas tropelias que uma pessoa nem consegue recordar todas. E os decisores políticos das famosas e descabeladas parcerias público-privadas? Os das SCUT?
Ontem ouvi o João Cravinho e pensei: que grande lata depois de todo o mal que fez. Hoje ouvi o actual Presidente da República e pensei: uns e outros com toda a lata do mundo. Foi a geração que nos desgraçou e ainda procuram dar lições de moral. O que é isto? Agora, ao final da tarde, recebo este vídeo e fico a pensar. Fico a pensar que este tipo de coisas é o rastilho.
É preciso parar, escutar, olhar e pensar...se não vale mesmo a pena, a este Governo, apanhado no meio do furacão, sem medo, começar a contar toda a verdade. A verdade de todos os buracos que encontrou, da real situação de bancarrota e quem nos levou por este caminho e como. Eu sei que vai doer, mesmo dentro da família política do actual executivo. Porém, em nome dos sacrifícios que TODOS vamos ter de fazer, é hora de contar toda a verdade.