A minha carta aberta a Passos Coelho
Caro Primeiro Ministro,
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Caro Primeiro Ministro,
Passos Coelho tem recebido muitas cartas abertas.
Muitos recados lhe têm sido dirigidos. Uns mais fortes que outros. Mais sentidos, mais sérios, mais humanos. Outros nem tanto. Serão todos válidos aos olhos de quem os escreve. Acompanhados da respectiva intenção.
Agora esta história de mandar o senhor emigrar junto com os seus colegas de gabinete é um pouco ridícula. Não deixo de ficar espantado como alguém perde tempo e energia com tal prosa. Afinal de contas em que é que essa retórica faz avançar a nossa situação? Será que alimenta enredos de uma esquerda reaccionária? Povo... sejam oposição credível, saudável e produtiva. É isso que todos juntos necessitamos. Agora essas farpas, farpinhas e farpazinhas incendiárias servem apenas para alimentar a espuma dos dias... e não aquela boa que se bebe com a cerveja, mas a outra; que se rejeita.
editado por Pedro Correia às 15:48
Caro Filipe Nunes Vicente
Compreendo que haja pessoas do PSD desiludidas com o seu partido. O que me escapa ao entendimento é que escrevam textos tão desencantados como este, que me parece uma mistura de desejos e devaneios. O texto cita-me apenas a mim, como se eu fosse da "campanha", como se a minha opinião fosse de "facção". Por isso, acho que todos os seus comentários me são inteiramente dirigidos.
Embora discorde da parte sobre a "truculência, trocadilhos e piadolas de café", tenho de aceitar o remoque sobre "erros ortográficos" e também a farpa sobre a "vaga superioridade moral". Estas críticas serão injustas em relação aos meus textos? Talvez, mas respeito a opinião.
Em relação à citação do meu post, afirma que a "actual política do governo, até agora, é a que foi desmentida durante a campanha". Faça favor de ler melhor: o post original fala da repetição sistemática de inverdades como método político; na altura, Março, o PSD era acusado de querer aumentar impostos e de estar na origem do aumento das taxas de juro. O meu texto foi escrito após a queda do governo Sócrates, mas antes do acordo com a troika. O executivo era de gestão há uma semana e não retiro uma linha. Leia tudo com atenção e veja se a razão não estava do meu lado. Portugal encontrava-se numa situação financeira extremamente difícil e tinha de pedir ajuda externa. O que resultou num acordo que permitiu continuar a financiar a nossa economia.
Ao contrário, no seu texto, a meu ver, o Filipe usa o velho truque de colocar o que escrevi fora do contexto de época. A frase "o que foi desmentido na campanha" constitui uma falsificação do que escrevi; esta era apenas a opinião de um autor, emitida antes da campanha eleitoral propriamente dita e antes do acordo com a troika. Na votação, três meses depois, o eleitorado pensou da mesma maneira que eu, não aceitando os argumentos do Partido Socialista, de que a culpa pela crise era do PSD. Os votantes viram na oposição uma oportunidade para formar um governo maioritário que daria alguma estabilidade financeira ao país. Daí a actual coligação PSD-CDS, que tem dois partidos e não apenas um.
O seu post começa por falar da ausência total de intelectuais a apoiar o executivo e menciona "o ódio deste PSD às elites". Estes já são dois temas mais interessantes e que vale a pena discutir. Concordo com o senhor: os intelectuais portugueses não apoiam este governo, como não apoiavam o anterior, nem o que o precedeu. Os intelectuais estão fora da política. Ou, num português mais truculento, "estão-se nas tintas". Os verdadeiros intelectuais não se pronunciam, (com muito poucas excepções, incluindo pessoas que até estão neste governo). De resto, há uns comentadores que falam nas televisões e em blogues sobre temas profundos, mas são sempre os mesmos e acho atrevimento usarmos a palavra intelectual. As pessoas que verdadeiramente pensam não costumam ser ouvidas em público, e acho que não estão muito interessadas em fazer-se ouvir, dado o actual panorama mediático, que valoriza a espuma passageira. Por isso não sei do que fala, Filipe, quando menciona o "ódio deste PSD às elites". Quais elites? E onde estão essas elites? Então eles são dos negócios ou populistas? Decida-se lá.
Não sei se sou apenas "um peão de brega" a fazer-me passar "por um jornalista celestialmente isento", mas discordo totalmente da sua tese central, de que este governo só está a tomar decisões exteriores às promessas eleitorais. Há uma promessa crucial que Passos Coelho, nos seus primeiros três meses, está a cumprir escrupulosamente: a de tentar atingir todos os objectivos do memorando da troika. E sublinho "tentar" e "até agora".
Mal chegou ao poder, este governo aumentou os impostos para além do que estava previsto no memorando de entendimento, para poder atingir o objectivo do défice e tomando uma decisão impopular. O facto é que havia um buraco nas contas de 1,8 mil milhões de euros e foram decididas medidas extraordinárias no lado da receita. Este ano, parece garantida a meta de 5,9%, o que não aconteceria sem os novos impostos, nomeadamente a metade do subsídio de Natal. Podemos argumentar que falharam uma promessa, podemos argumentar o inverso.
Se Portugal não cumprir o memorando de entendimento, o resultado será idêntico ao que a Grécia poderá sofrer dentro de dias ou semanas: declarar incumprimento. Na melhor das hipóteses, Atenas estará dez anos a pagar a sua dívida reestruturada, fora dos mercados financeiros e dependente da generosidade dos parceiros europeus; na pior das hipóteses terá de sair do euro, o que muitos juristas dizem ser o mesmo que sair da União Europeia.
Se cumprir o acordo da troika, Portugal poderá escapar a esse destino de protectorado; mas se não cumprir será a nossa ruína. Repare, Filipe, que neste ponto não estou apenas a mencionar uma crise sem precedentes, mas falo da minha ruína pessoal; fora do euro, não poderei pagar a casa onde moro e onde investi as minhas poupanças de 25 anos de trabalho, para não mencionar o estoiro dos bancos, onde está o resto do dinheiro que fui juntando.
Por isso, como certamente compreende, estou pouco ralado com a esquizofrenia do PSD, as suas facções e ódios de estimação. Estou-me nas tintas para os comentadores e intelectuais das elites que gostariam de ter gente mais polida no poder, com conversa culta e boas leituras. Em 2012 e 2013, serão aumentados impostos em mais de 3 mil milhões e haverá cortes na despesa de 8 mil milhões. É esta a nossa estreita vereda. Serão os pequenos a pagar, mas ainda não me explicaram qual é a alternativa. O mandato do novo poder é o de cumprir o memorando, ponto final parágrafo, nem que para isso só durem quatro anos.
Termino por aqui. Desculpe não ter feito citações de grandes clássicos, mas deve ser o meu ódio às elites; e também peço que perdoe este meu tom de redacção escolar...
com os melhores cumprimentos
Luís Naves
editado por Pedro Correia às 14:05