Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Forte Apache

Uma Previsão para Começar a Semana

Ricardo Vicente, 23.01.12

A propósito de massa, ratings e dívida soberana deixo aqui mais uma previsão: se não se levar à prática dentro de poucos meses ou talvez semanas uma grande reestruturação da dívida grega ou, pelo menos, da dívida portuguesa e se, ao invés, se ficar à espera das eleições na Alemanha, este país não manterá o seu triple A até à realização daquelas (em Setembro ou Outubro de 2013). Ou se reestrutura depressa e em grande escala ou a Alemanha perde o rating máximo.

 

Ouviste oh Merkel?!

A Semana que Passou: Lembram-se dos Eurobonds?

Ricardo Vicente, 22.01.12

A 13 de Julho de 2010 colocava no Albergue Espanhol a seguinte perguntazinha ao nosso amigo Wolfgang Münchau:

 

A minha perguntazinha é esta: mas quem é que garante que os eurobonds terão rating triple A??? É a senhora Viviane Reding que irá encostar uma arma à cabeça da Moody's e obrigá-la a dizer que os eurobonds são excelentes e credíveis e valem a pena? Pois...

 

A 14 de Julho de 2010 repetia a pergunta e previa que a crise das dívidas soberanas chegaria à França, como acabou por acontecer com o downgrading há pouco mais de uma semana.

 

Como o Münchau não me respondesse, a realidade veio a dar-me razão mais uma vez: na Segunda-feira passada as obrigações do Fundo Europeu de Estabilização Financeira sofreram um downgrade às mãos da Standard & Poor's.

 

Aquelas obrigações não são exactamente a mesma coisa que os eurobonds mas as suas garantias de solvência são aproximadamente as mesmas: os países da zona euro partilham responsabilidades em função do seu capital junto do Banco Central Europeu.

 

Ora se na sequência do downgrade francês, o FEEF também perde o triple A é pois evidente que os eurobonds nunca poderiam ter necessariamente tal rating. Os triple As não dependem de wishful thinking e os eurobonds, tal como quase tudo na União Europeia, gozavam de um excesso de optimismo por parte dos seus defensores - tal como escrevi:

 

Os eurobonds têm toda a aparência de serem um plano pelo menos tão bom como as alternativas para levar a cabo um default parcial e selectivo (...). Mas isso só por si não garante credibilidade nem triple A, talvez garanta que o rating dos eurobonds seja superior ao das dívidas nacionais, o que já não é mau; e

 

se os problemas chegarem à Espanha e/ou à Itália (...) nem em sonhos azuis com estrelinhas amarelas irão os eurobonds ter triple A.

 

Como em muitos outros aspectos da construção europeia, existe já um excesso de optimismo em relação aos eurobonds. Parece-me, apesar de tudo, que os eurobonds são um paliativo pelo menos tão bom como outro qualquer, o que já não é nada mau (aqui).

Privados a Salvo (?)

Ricardo Vicente, 13.12.11

Ainda a propósito do "pacto de estabilidade orçamental" e mantendo sempre um "parece", há a intenção de que as eventuais re-estruturações da dívida não afectem os privados. O mal disso é dificultar os necessários processos de default. Aliás, sem eurobonds e sem participação privada, um default ordenado torna-se muito mais difícil (pelo menos uma daquelas duas hipóteses terá, pois, de cair). O compromisso de que os privados não perdem tem também uma faceta positiva: o estímulo à compra de dívida nova, o que beneficia sobretudo os países que, não estando propriamente falidos, tinham um horizonte muito desagradável (Espanha, Itália, Bélgica).

Mais uma Cimeira, Mais uma Perda de Tempo (72)

Ricardo Vicente, 12.12.11

Título alternativo: Demasiado Tarde, Demasiado Cedo

O que se passou então na cimeira que, desta vez é que era, deveria ser decisiva foi isto: a declaração de uma intenção de criar uma zona de "estabilidade orçamental". Ou seja, depois das regras de Maastricht/Pacto de Estabilidade e Crescimento não terem sido aplicadas, o que permitiu ou contribuiu para que vários países se apresentassem mal preparados para fazer face a uma crise económica - são propostas agora regras mais duras e mais "automáticas". A partir daqui, vários comentários.

 

Assumindo que estas regras serão de facto respeitadas, ou seja, fazendo fé em mais este "desta vez é que é", o novo pacto de estabilidade orçamental já vem tarde: a Europa está em crise, há vários Estados na bancarrota ou a caminhar para lá e, notoriamente, há vários países que, neste momento, não estão em condições de respeitar seja que regras forem. A estabilidade orçamental reforçada chegou tarde demais.


Por outro lado, este pacto chega também demasiado cedo: na prática, as novas regras só serão aplicadas depois da crise, se o euro e a própria União Europeia, nas vertentes política e económica, sobreviverem.

Aliás é mesmo essa a minha crítica principal à "cimeira decisiva" e que já havia deixado nos comentários aos posts de Luís Naves (escritos com grande lucidez e ainda no rescaldo dos factos): a cimeira tratou sobretudo do futuro após a crise e de prevenir novas crises como a actual, admitindo que a União, a economia e as instituições sobrevivem até lá. Quanto ao presente, esta cimeira foi mais uma perda de tempo: se bem percebi, não vão ser iniciados imediatamente nenhuns processos de default ordenado; nenhuma versão de eurobonds, por muito light que seja, entrará no jogo; o BCE deu um sinal de que não está disposto a intervir muito e a descida das taxas de juro, em princípio, terá um impacto diminuto; também não houve aumento de fundos: FEEF e outros só com meio bilião não chegam; finalmente, não há a menor esperança de que a austeridade sofra um abrandamento.

Nesta cimeira não houve pois uma preocupação em resolver a crise, tratou-se apenas do futuro sem cuidar dos problemas presentes. Mais uma vez, vamos ter de ficar à espera pelas eleições na França e na Alemanha até que se possa responder ao descalabro das dívidas soberanas.

...sob pressão...

Ricardo Vicente, 07.12.11

... os anteriores erros e insuficiências, bem como a actual crise, têm de ser tidos em conta numa futura revisão dos tratados mas isso não significa que seja boa ideia revê-los agora e sob pressão. Sarkozy e Merkel não decidem sozinhos, é certo, mas a actual preponderância de que gozam (eles é que pagam) e a fragilidade dos países falidos colocam estes últimos numa situação de défice de "liberdade contratual" ou assim. Para além de todos os défices democráticos na história da construção europeia, é possível que venhamos a ter agora a aprovação de tratados por países, digamos, sob chantagem. O triste disto tudo é que se o objectivo é responder à crise das dívidas soberanas então a solução tem de ser mais rápida (alterar tratados é coisa para meses ou anos) e, por outro lado, não tem de passar, neste momento, por alterações institucionais de fundo: o que urge pôr em prática é uma versão não politizada de eurobonds que facilite defaults parciais e inteligentes que atinjam um óptimo entre minimização dos riscos de contágio e maximização da sustentabilidade dinâmica das contas públicas após o default...

...igualdade e dignidade...

Ricardo Vicente, 07.12.11

... é claro que um país na bancarrota como Portugal não é o mesmo que um com sound financial policies... mas isso de os países serem diferentes e serem tratados de maneira diferente não pode ser aplicado quando o que está em causa é a definição das regras do jogo para todos, como parece que está para acontecer ou ser tentado com uma revisão dos tratados. Nesse momento constituinte, todos os players têm de estar ao mesmo nível: isso é uma exigência política e ética mínima. Até porque se a possibilidade de influenciar as novas regras não for simétrica, então as novas regras padecerão de falta de legitimidade ab initio e em qualquer momento futuro essa condição inquinada será lembrada por aqueles que pretendem desviar-se das ditas. Logo, as regras não se aplicarão (e as velhas já terão caducado). Não sei até que ponto Sarkozy e Merkel se apercebem destas coisas ou se as ignoram ou se muito simplesmente estão-se na tintas...

Chancelerina Teutónica: Um Resumo

Ricardo Vicente, 05.12.11

O mote

 

No sítio da Rádio Renascença: "a chanceler [Merkel] quer rever o Tratado de Lisboa, e entre outras medidas, passar a impor um limite para o défice de 2% do PIB, abaixo dos actuais 3%. Esta alteração pode trazer sanções automáticas contra os prevaricadores, que podem incluir a redução dos subsídios europeus e a retirada do direito de voto".

 

 

Retirada do direito de voto

 

Isto ainda é mais bizarro do que defender que os criminosos devem perder os seus direitos políticos. Tal doutrina levada ao extremo, ou levada (quem sabe) apenas à verdadeira intenção de Merkel, pode formular-se assim: país que não respeita as regras do Reich, é anexado pelo Reich. (Publicado originalmente a 1 de Maio de 2010, republicado a 29 de Setembro de 2011).


 

Novas sanções, um mesmo problema: falta de credibilidade

 

O governo alemão erra ao acreditar que o problema está na falta de regras e de sanções não percebendo que regras e sanções já há as bastantes e o que falta é a sua credibilidade. As regras só são credíveis quando há igualdade na sua aplicação: têm de valer doa a quem doer. Se não foram aplicadas à França e Alemanha, também não serão aplicadas aos outros países. E a criação de mais regras não altera esta lógica. (Publicado originalmente a 16 de Junho de 2010).

 

Se o poder de decidir a aplicação das sanções for atribuído a um tribunal europeu, talvez se possa garantir alguma independência na tomada dessas decisões. Mas o problema principal nunca foi o de observar quais eram os países que prevaricavam (apesar do caso das contas fraudulentas gregas...) mas sim a incapacidade de aplicar sanções aos países identificados.

 

 

Os números da dívida e do défice

 

A chancelerina teutónica parece que nunca percebeu e nem nunca irá perceber que os critérios de Maastricth e do Pacto de Estabilidade e Crescimento (stock de dívida máximo de 60% do PIB, défice público máximo de 3% do PIB e regime de excepções em caso de perturbação económica) eram e são demasiado apertados para alguns países enquanto que são permissivos demais para outros.

 

Um stock de dívida de 60% do PIB é mais do que excessivo, é um mostrengo no caso de um país à beira-mar plantado que não cresce há dez anos e que não tem, actualmente, qualquer perspectiva de crescimento (se não houver default parcial e os 34 mil milhões de juros, declarados pelo actual governo, forem mesmo para pagar).

 

Já para um país com um stock de dívida de 6% do PIB (seis) e uma fortíssima expectativa de crescimento (refiro-me à Estónia), o critério do défice de 3% ou, pior, 2% não tem qualquer fundamento - isto se aceitarmos que estes critérios visam exclusivamente a sustentabilidade do euro e não a imposição de uma determinada ideologia financeira a todos os países.

 

Sarkozy e Merkel: Duas Desgraças Europeias

Ricardo Vicente, 03.12.11

 

Será possível que Sarkozy e Merkel sejam incapazes de perceber que a única maneira de dar credibilidade ao euro, tornando sustentáveis as finanças de boa parte dos países da zona, é resolver de imediato o problema da dívida de Portugal, Grécia, Irlanda e Itália? E será que eles não percebem que o modo de resolver esse problema é promovendo o crescimento nestes países? E que o único caminho para o crescimento no Sul da Europa é através de um default parcial, minimizando o risco de contágio, pois só com uma remissão de boa parte da dívida é possível relaxar as políticas de austeridade, dando folga à sociedade e criando expectativas que favoreçam novamente o investimento?

 

Sem expectativas positivas de crescimento económico não há investimento. Se o crédito não se expande não é por falta de dinheiro (a taxa de juro de referência do BCE já está nos 1,25%), é porque as expectativas estão em baixo. Injectar dinheiro só produzirá inflação. A raíz dos problemas na Europa não é monetária mas económica e financeira. E não há cura que não passe pelo default parcial das dívidas.

 

Mas eu acredito que Sarkozy e Merkel até percebem este encadeado económico. O problema está nos respectivos eleitorados, que castigarão aqueles dois caso eles consintam na reestruturação das dívidas. Mas não seria possível por uma vez ter líderes políticos que estejam acima da incompreensão económica das massas e façam o que é preciso ser feito? Sarkozy e Merkel ainda podem salvar a Europa. Se o fizerem, o mais certo é perderem as próximas eleições. Mas terão o consenso da História de que tomaram a melhor decisão.

Angela Merkel: Paralisia e Chantagem

Ricardo Vicente, 02.12.11

Segundo o Sol, Angela Merkel diz que os 'eurobonds' não são solução. Como pretende, então, a chancelerina teutónica realizar o default ordenado das dívidas grega, portuguesa, irlandesa e, eventualmente, italiana?

 

Ainda do mesmo jornal, «O governo alemão tornou claro que a crise europeia não será resolvida num ápice», afirmou [Merkel], acrescentando que a solução «é um processo e esse processo levará anos».

 

Eu traduzo: até Setembro ou Outubro de 2013, época em que se realizam as próximas eleições federais na Alemanha, Merkel não fará nada que possa pôr em causa  a sua reeleição, nem que para isso tenha de deixar o Sul da Europa em permanente agonia social e económica e toda a Europa em risco de desintegração.

 

A Europa está em condições de avançar para uma união orçamental. A afirmação foi deixada esta manhã pela chanceler Angela Merkel, num discurso perante o Parlamento alemão.  (...) Segundo a imprensa alemã de hoje, a chanceler quer rever o Tratado de Lisboa (no site da Rádio Renascença).

 

Por outro lado, Merkel mantém a União Europeia sob chantagem: ou os tratados da União são reformados como nós (ela) quer, ou não há solução para a crise das dívidas soberanas.

 

Mais uma Cimeira, Mais uma Perda de Tempo (47)

Ricardo Vicente, 02.12.11

No Diário Económico: Sarkozy revelou hoje que vai encontrar-se com a chanceler alemã na próxima segunda-feira, em Paris, para "salvar o futuro da Europa".

 

Mais uma cimeira, mais uma perda de tempo: já perdi a conta a tantas cimeiras e às respectivas mijinhas de Sarkozy e Merkel, dois políticos vulgares em tempos excepcionalmente difíceis, que estão dispostos a sacrificar a Europa inteira para não perderem os respectivos poleiros.

 

Diz Sarkozy (no Expresso): "O BCE é independente. E assim vai permanecer. Estou convencido que o Banco vai atuar face ao risco de deflacionismo que ameaça a Europa", precisando que caberá a esta entidade decidir "quando e com que meios".

 

Eu traduzo: Sarkozy quer que o BCE deixe de ser independente e se transforme numa agência do governo francês tutelada directamente por ele, Sarkozy. E o ainda presidente da França pensa que a melhor maneira de tentar que a economia europeia cresça é empurrando um fio, isto é, derramando dinheiro por toda a parte - quando a taxa de juro de referência do BCE já está nos 1,25%...

 

 

P.S.: Será que o "deflacionismo" também faz parte da política do Expresso de implementar o Acordo Ortográfico?