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Forte Apache

O nosso entretém

José Meireles Graça, 19.03.12

Marcelo é assim: Deus livra-o de ferir alguma susceptibilidade, ser claro ou original, afastar-se do mainstream das ideias da moda ou não recomendar um dos numerosos livros dos quais leu a badana; simpatiza com dois clubes de futebol, mas tem a maior estima pelos restantes; não é de esquerda, nem verdadeiramente de direita, antes pelo contrário; era contra o abortamento, desde que não fosse penalizado; e é claramente a favor de uma facção do PSD, que às vezes sabe qual é.


Nesta notícia Marcelo critica o prémio de Mexia na EDP, mas vai logo acrescentando que "independentemente do mérito da gestão, que não está em causa, independentemente dos lucros que tenham existido, independentemente dos resultados da privatização do ponto de vista financeiro".


Cabe perguntar: Se nada disso está em causa, por que razão o prémio se não justifica? Marcelo explica que "certas empresas funcionam como se estivessem noutro país. Como se o país não estivesse a viver as dificuldades que está a viver. Acho que isso é muito negativo".


O que eu acho negativo é que a EDP funcione tão como estando no nosso País; que os seus lucros saiam não da eficiência que não tem, mas tanto da concorrência a que não está exposta; e que Mexia, em vez de ganhar o que nunca demonstrou merecer, não ganhe o que é devido a outro qualquer político servidor do Estado em funções de topo - que é o que Mexia nunca deixou de ser.


Isto Marcelo não diz. Podia alguém não gostar, e Marcelo é extremamente gostável. Que Deus assim o guarde por muito tempo, para nosso entretém.

Faróis de nevoeiro

José Meireles Graça, 16.03.12

Ora deixa ver se percebo: i) A troika refere-se expressamente aos rentismos, à boleia da patetice verde ou das consequências do queinesianismo do alcatrão, com a recomendação de lhes cortar o cabelo; ii) Os contratos pelos quais gente dinâmica, muitíssimo esperta e bem relacionada, colocou proveitos seguros de um lado e riscos incertos do outro, comprometem-nos a nós, de um lado; e, do outro, banqueiros e investidores vários, uma parte dos quais estrangeiros; iii) Se incumprirmos ai Jesus sanções, tribunais e quebra de confiança por parte dos investidores, quer dizer de quem poderia cá vir ajudar-nos a sair do buraco da ausência de crescimento e da armadilha da dívida.


Por outro lado, parece que o preço da EDP incluía a constituição como reféns dos consumidores, isto é, a garantia de que a verdadeira concorrência é uma miragem, o parasitismo verde uma fatalidade, e o custo da energia para todos, incluindo os que produzem e exportam, um pesadelo.


Não falta por aí argumentação jurídica a gosto - e para esse peditório dou nada. Mas quanto às consequências económicas de optar pelo caminho A ou B esta muitíssimo interessante discussão entre Priscila Rêgo e João Miranda (o link é para o último post a respeito, há vários anteriores, de um lado e outro) deixa-nos o sabor algo amargo de que nenhum caminho é isento de riscos.


Por mim, o problema tem sobretudo uma dimensão moral e política, e é esta: a agiotagem é uma figura que caiu em desuso no discurso, mas não existe menos por causa disso; e um governo decente pode impôr sacrifícios aos seus cidadãos e, avaliando friamente as alternativas, tripudiar em cima de direitos em nome do mal menor; mas não pode condenar os seus cidadãos a um regime permanente de servidão sem esperança.


Traduzo, a benefício da clareza do discurso, que às vezes me falha: Apertar violentamente o cinto em nome do pagamento das dívidas que só por ignorância, imprudência, preguiça, corrupção e teoria económica delirante, foram contraídas - de acordo; meter-nos definitivamente na prisão perpétua da dívida, com carcereiros chineses ou plutocratas, nacionais e estrangeiros, por causa de papeladas e tretas que o cidadão não entende ou entende bem demais - pensem melhor.

 

Isto é, quem tem que decidir, que tanto Priscila como João fazem serviço público de qualidade em desentenderem-se inteligentemente - a mim ajudaram-me, e suponho que a muitos outros, a ver mais claro. 

O interesse público fortemente privado

José Meireles Graça, 14.03.12

Ele há o interesse nacional e o interesse partidário. Mas, se formos ver de perto, não existe um interesse nacional, existe sim aquilo que cada partido entende como sendo o interesse nacional - a sociedade bem ordenada do PCP ou dos outros não é a sociedade bem ordenada do CDS.

Isto é pacífico. Por vezes, porém, não é possível ser um homem de bem e achar que há vários caminhos e vários destinos: nesta história da EDP, dos corrupios no alto dos montes e da gente que se endividou para cavalgar a patetice verde, assino por baixo de tudo o que Henrique Raposo diz.

E acrescento: O Secretário de Estado foi sacrificado à realpolitik dos interesses; é do interesse público a preservação da coligação; mas isso não deveria ser feito a todo o preço.

Este preço é demasiado alto. E há alturas em que se tem, ou não, cojones.

Não é assim? Então expliquem, em Português que se entenda - porque o Português que lê jornais e não é parvo entende bem demais.

EDP

jfd, 10.01.12

Como não há nada importante para falar ou tratar, este é o caso do momento.

O CEO veio falar da escolha. Hoje o DE clarifica. Mas mesmo assim, os pundits do costume vêm dizer que o silêncio do PM é clarificador.

Clarificador de quê seus iluminados?

Clarificador de um Governo que não interfere no governance de uma empresa?

Agora não sejamos ingénuos, os nomes são os mesmos de sempre? Pois são. A natureza tratará de renovar a pool de escolhas possíveis. É dar tempo ao tempo, afinal não é em pouco mais de seis meses que se altera um Portugal com vícios de décadas. Mesmo com, finalmente!, um Governo que tem ideologia e não tem medo de dizer quem é e ao que veio.