Ao ler o post da Daniela dei por mim a pensar sobre o que os espanhóis pensam ou deixam de pensar sobre nós.
Bem, procurar saber o que "os espanhóis" pensam de nós é, desde logo, assumir que existem "espanhóis". Erro. Meio erro, melhor escrito. Existem galegos, bascos, catalães e, dou de barato, espanhóis. Quanto mais conheço os habitantes de Espanha (assim contorno a questão dos "espanhóis") mais me apercebo que, sobre nós, eles pouco pensam. Lido, sobretudo, com as novas gerações e com vários universitários. Com imenso prazer, confesso. Espantado com o desconhecimento sobre o que se passa mesmo ao seu lado. Poucos sabem quem foi Camões ou Pessoa. Ignoram os nossos cantores, pintores, pensadores, etc. Falar com eles sobre os nossos políticos é verdadeira conversa de surdos. Bem, sabem quem é Pinto da Costa, Futre, Figo, Ronaldo ou Mourinho. E, claro, existem excepções. Que não deixam de o ser. Daí concordar com a Daniela. O ódio a Mourinho ou Ronaldo existe? Claro! Sobretudo dos adeptos de outros clubes. Os do Real, tirando meia-dúzia, idolatram. Enquanto um lhes der vitórias e o outro golos. Como em todo o lado. Olhem, eu, ainda hoje, não suporto o Figo nem pintado de azul e branco pois recordo-me quando o peseteiro insultou o meu Porto. E mesmo o Ronaldo, desde aquele golo de outro mundo no Dragão pelo MU, que não me passa da garganta...Coisas da bola.
Voltando ao tema: existe um profundo desconhecimento sobre Portugal. Em Madrid passo, invariavelmente, por galego. Em Barcelona já me aconteceu pensarem que era de castela (livra!) e no país basco já me olharam de lado. Em todos estes locais, depois de dizer que era português a reacção do outro lado foi...de alívio. Com excepção de Madrid onde foi, apenas, normal/natural. Só na Galiza percebem que sou português. Melhor, percebem que sou português do Norte de Portugal pois, para grande prazer meu (confesso o pecado) dizem-me que conseguem "perceber qualquer coisinha enquanto que com os de Lisboa não percebem nadinha". É raro encontrar um, excepto na Galiza, que conheça o Jornal de Notícias, o DN, o Expresso ou mesmo a SIC e a TVI. Enquanto muitos de nós sabemos bem (e até somos consumidores) que existe o El Pais, o Faro de Vigo, o La Vanguardia ou o ABC. Admiram a nossa facilidade em falar inglês, arranhar o castelhano (o velho portunhol) e, nas novas gerações, ficam espantados com a nossa forma de estar nos concertos - há dias, uns colegas referiam o seu espanto e admiração nos concertos em Portugal ao verem a multidão a cantar as músicas em inglês. Nos últimos tempos, por via do Brasil se ter tornado um novo "el dorado", já começam a querer aprender a nossa língua. Não por nossa causa, é certo.
Obviamente, os nossos vizinhos mais dados ao "nacionalismo regional", sobretudo galegos e catalães, costumam ser a excepção. Estão mais atentos ao que se passa por cá, estudam sobre alguns aspectos da nossa história e fazem gala em saber o máximo possível sobre Portugal. Sobretudo, nos meios mais universitários e intelectuais. Uma minoria. Por isso, pensar que "os espanhóis" são racistas para com os portugueses é uma enorme estupidez. Enorme. Não é esse o sentimento. O problema deles em relação a nós é outro: desconhecimento e/ou falta de interesse. Embora, fruto da crise, até se fale mais sobre Portugal agora do que antes de 2010. Só os motivos é que não são os melhores.
Primeiro, olharam para nós do género: coitados, estão a ficar pobres. Passado uns tempos o olhar era outro: será que nos vai acontecer o mesmo? Hoje: "joder" estamos pior...
Contudo, é preciso dar algum desconto a Josep Pedrerol. Como é preciso dar, de igual forma, um certo desconto ao que escrevi. É que isto de generalizar, como dizem os nossos vizinhos, "es una mierda".