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Forte Apache

Descubram as diferenças

Pedro Correia, 18.07.13

Em Espanha, durante 35 anos de regime democrático, foram votadas apenas duas moções de censura no Parlamento. A primeira em 1980, suscitada pelo Partido Socialista de Felipe González, então principal força da oposição, contra o Executivo centrista de Adolfo Suárez. A segunda em 1987, promovida pela conservadora Aliança Popular, contra o Governo socialista de González.

Repito: apenas duas.

 

Em Portugal, só nos últimos nove meses, houve quatro moções de censura ao Governo. Duas apresentadas em Outubro de 2012, pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP. A terceira em Março, apresentada pelo PS. A quarta será discutida e votada hoje, por iniciativa dos 'verdes', um partido que não existe. Será a 25ª moção de censura apresentada na Assembleia da República desde 1976.

 

É uma estatística que diz muito sobre duas formas antagónicas de fazer política. Lá e cá.

"Espanhóis"?

Fernando Moreira de Sá, 08.12.12

Ao ler o post da Daniela dei por mim a pensar sobre o que os espanhóis pensam ou deixam de pensar sobre nós. 

 

Bem, procurar saber o que "os espanhóis" pensam de nós é, desde logo, assumir que existem "espanhóis". Erro. Meio erro, melhor escrito. Existem galegos, bascos, catalães e, dou de barato, espanhóis. Quanto mais conheço os habitantes de Espanha (assim contorno a questão dos "espanhóis") mais me apercebo que, sobre nós, eles pouco pensam. Lido, sobretudo, com as novas gerações e com vários universitários. Com imenso prazer, confesso. Espantado com o desconhecimento sobre o que se passa mesmo ao seu lado. Poucos sabem quem foi Camões ou Pessoa. Ignoram os nossos cantores, pintores, pensadores, etc. Falar com eles sobre os nossos políticos é verdadeira conversa de surdos. Bem, sabem quem é Pinto da Costa, Futre, Figo, Ronaldo ou Mourinho. E, claro, existem excepções. Que não deixam de o ser. Daí concordar com a Daniela. O ódio a Mourinho ou Ronaldo existe? Claro! Sobretudo dos adeptos de outros clubes. Os do Real, tirando meia-dúzia, idolatram. Enquanto um lhes der vitórias e o outro golos. Como em todo o lado. Olhem, eu, ainda hoje, não suporto o Figo nem pintado de azul e branco pois recordo-me quando o peseteiro insultou o meu Porto. E mesmo o Ronaldo, desde aquele golo de outro mundo no Dragão pelo MU, que não me passa da garganta...Coisas da bola.

 

Voltando ao tema: existe um profundo desconhecimento sobre Portugal. Em Madrid passo, invariavelmente, por galego. Em Barcelona já me aconteceu pensarem que era de castela (livra!) e no país basco já me olharam de lado. Em todos estes locais, depois de dizer que era português a reacção do outro lado foi...de alívio. Com excepção de Madrid onde foi, apenas, normal/natural. Só na Galiza percebem que sou português. Melhor, percebem que sou português do Norte de Portugal pois, para grande prazer meu (confesso o pecado) dizem-me que conseguem "perceber qualquer coisinha enquanto que com os de Lisboa não percebem nadinha". É raro encontrar um, excepto na Galiza, que conheça o Jornal de Notícias, o DN, o Expresso ou mesmo a SIC e a TVI. Enquanto muitos de nós sabemos bem (e até somos consumidores) que existe o El Pais, o Faro de Vigo, o La Vanguardia ou o ABC. Admiram a nossa facilidade em falar inglês, arranhar o castelhano (o velho portunhol) e, nas novas gerações, ficam espantados com a nossa forma de estar nos concertos - há dias, uns colegas referiam o seu espanto e admiração nos concertos em Portugal ao verem a multidão a cantar as músicas em inglês. Nos últimos tempos, por via do Brasil se ter tornado um novo "el dorado", já começam a querer aprender a nossa língua. Não por nossa causa, é certo.

 

Obviamente, os nossos vizinhos mais dados ao "nacionalismo regional", sobretudo galegos e catalães, costumam ser a excepção. Estão mais atentos ao que se passa por cá, estudam sobre alguns aspectos da nossa história e fazem gala em saber o máximo possível sobre Portugal. Sobretudo, nos meios mais universitários e intelectuais. Uma minoria. Por isso, pensar que "os espanhóis" são racistas para com os portugueses é uma enorme estupidez. Enorme. Não é esse o sentimento. O problema deles em relação a nós é outro: desconhecimento e/ou falta de interesse. Embora, fruto da crise, até se fale mais sobre Portugal agora do que antes de 2010. Só os motivos é que não são os melhores. 

 

Primeiro, olharam para nós do género: coitados, estão a ficar pobres. Passado uns tempos o olhar era outro: será que nos vai acontecer o mesmo? Hoje: "joder" estamos pior...

 

Contudo, é preciso dar algum desconto a Josep Pedrerol. Como é preciso dar, de igual forma, um certo desconto ao que escrevi. É que isto de generalizar, como dizem os nossos vizinhos, "es una mierda". 

Por estes dias...

Fernando Moreira de Sá, 26.11.12

 

 

No Chicago Tribune, podem ler um artigo bastante crítico a Hollande e aconselhando-o a seguir o exemplo do governo português. Não fiquei surpreendido. Como sabem aqueles que leram os meus últimos escritos sobre o governo e as medidas que estão a ser seguidas, continuo muito céptico das opções fiscais seguidas pelo ministro das finanças. Não tenho nem evitado nem escondido as minhas sérias dúvidas (ler os artigos "Matar o doente com a cura").

 

No último fim de semana, na TSF, tive a oportunidade de ouvir o discurso de Pedro Passos Coelho na Madeira. Salvo melhor opinião, esta foi a sua melhor intervenção dos últimos meses. Explicou com clareza e foi, finalmente, um discurso político. É raro ver um político assumir e defender um caminho que, obvimente, é impopular. O objectivo dos politiqueiros é ganhar sempre e a qualquer custo. Os políticos a sério e sérios preferem fazer o que ainda não foi feito e precisa de o ser, mesmo que seja impopular. A sua decisão terá, na minha opinião, consequências terríveis para o seu partido já nas autárquicas de 2013. A minha dúvida reside apenas num ponto e que ponto: será este o caminho correcto para endireitar o país? Será desta forma que vamos ter uma economia saudável? Não sei. Na minha opinião, a política fiscal seguida por Gaspar vai prejudicar toda a estratégia (o melhor exemplo é o IVA da restauração). Não acredito que com esta gigantesca carga fiscal se recupere as finanças e a economia. O IVA e o IRS podem representar a morte da já diminuta classe média. Vamos ver. Posso, espero, estar enganado. 

 

Contudo, os portugueses, demonstram a sua inteligência. A oposição, sobretudo o PS, não apresenta alternativas. O Partido Socialista está enredado numa pouco discreta luta interna de poder com Seguro a fazer verdadeiros "pactos internos com o Diabo" e Costa a somar apoios atrás de apoios, até nas hostes de Seguro. Hoje, para mal dos nossos pecados, temos um Secretário-geral do PS que sempre que faz uma intervenção política está a falar para dentro, a procurar retirar espaço aos seus opositores em vez de falar para o país e se constituir, a si e ao seu partido, como uma alternativa. Ironicamente, faz mais oposição ao governo o CDS (simulando estar fora quando está dentro, bem dentro) do que Seguro.

 

Neste ano e meio de governo PSD/CDS muito foi feito. Externamente somam-se elogios. Internamente pairam as dúvidas. A crise em Espanha é bem mais profunda do que se pensa. Os nacionalismos (Basco, Catalão e Galego) podem fazer implodir o nosso vizinho. O caminho que hollande está a trilhar em França é um prenúncio de desastre. E as eleições na Alemanha tardam...Numa Europa adiada é caso para concluir que nada ajuda. Nada. Fica a coragem de Pedro Passos Coelho.

 

Por estes dias, só espero que a teimosia fiscal de Gaspar não deite tudo a perder...

 

Suárez não sonhou com esta Espanha

Pedro Correia, 25.09.12

 

Adolfo Suárez, o homem que mais fez para devolver a democracia a Espanha em 1977-78 (juntamente com D. Juan Carlos), completou hoje 80 anos. Curiosa ironia: isto sucede no preciso dia em que desceu à rua uma das mais expressivas manifestações de protesto contra o actual rumo da democracia representativa no país.

Há razões para protestos? Seguramente. Com 25% de desempregados - e 53% da população com menos de 25 anos sem trabalho -, a sociedade espanhola revolta-se contra as oligarquias políticas que têm confiscado o sistema democrático e traído a confiança dos eleitores nas urnas. Em vésperas de ser alvo de um resgate financeiro que a colocará sob tutela internacional, com pelo menos cinco comunidades autónomas em situação de pré-falência, uma dívida pública ultrapassando o máximo histórico e o risco real de secessão da Catalunha (a que pode seguir-se o País Basco), esta não é seguramente a Espanha que Suárez sonhou ao reconciliar as mais divergentes forças políticas nos dias turbulentos da transição e conseguir aprovar, em clima de raro consenso nacional, a exemplar Constituição de 1978.

Os protestos são, portanto, não apenas legítimos mas podem até constituir um imperativo de cidadania. O que não nos deve fazer esquecer esta evidência: com todos os seus defeitos, a democracia representativa é o sistema que assegurou períodos mais longos de paz e prosperidade nas sociedades humanas. Criticá-la nas suas debilidades, nas suas perversões e nos seus erros é um direito e em certos casos até um dever. Mas atacá-la nos seus fundamentos, rejeitando o sistema de representação 'um homem, um voto' e contestando os deputados enquanto legítimos representantes da soberania popular, é totalmente inaceitável.

As liberdades democráticas já foram suspensas demasiadas vezes no país vizinho. A última suspensão ocorreu na década de 30 e os povos de Espanha pagaram por ela um preço altíssimo: mais de 600 mil mortos e 40 anos de ditadura, uma das mais férreas da Europa. "Aqueles que não se lembram do passado estão condenados a repeti-lo", advertia o filósofo espanhol George Santayana. Verdade lapidar, que deve servir de alerta a todos - aos que integram as instituições democráticas sem atender às aspirações populares e aos que se manifestam nas ruas visando por igual todos os políticos nas suas indignadas proclamações contra o sistema. A democracia é um bem frágil: custa muito mais a edificar do que a deitar por terra.

Também aqui

Olímpicos (4)

Pedro Correia, 31.07.12

 

Portugal permanece em branco quanto a medalhas olímpicas sem se registar nenhuma comoção nacional. Foi algo a que nos habituámos durante demasiadas edições das Olimpíadas e conseguimos sobreviver a isso. Mas basta dar um pulo a Vigo, Badajoz ou Ayamonte para se perceber que entre nuestros hermanos é tudo bem diferente. O fracasso da selecção olímpica de futebol espanhola, à qual resta agora apenas a hipótese de um resultado honroso contra Marrocos antes de fazer as malas, está a causar quase tanta polémica como a contínua subida do montante da dívida e das taxas de juro. O saldo não podia ser pior, apesar de os olímpicos espanhóis contarem com estrelas como Jordi Alba, Juan Mata e Javi Martínez: duas derrotas consecutivas, contra essas irrelevâncias do futebol mundial que são o Japão e as Honduras, e nem um golito marcado para animar a malta. O Guardian conseguiu resumir tudo numa frase atirada aos futebolistas espanhóis: "São mortais."

Por estes dias, só falta ao treinador que é o rosto mais visível destas derrotas, Luis Milla, ser açoitado na praça pública: está a ser mais criticado do que o presidente do Governo, Mariano Rajoy. Mas o governante espanhol também não tem motivos para respirar fundo: se contava com eventuais medalhas olímpicas para anestesiar a opinião pública, já certamente se desiludiu. Nesta matéria Espanha permanece em branco. Ao contrário de países como a Mongólia, a Moldávia, o Azerbaijão, a Lituânia, a Geórgia e o Catar.

A crise começou ainda antes das Olimpíadas, ao ser anunciado que o campeoníssimo Rafael Nadal, por lesão, não compareceria em Londres: era o adeus antecipado à mais que provável medalha de ouro no ténis. Depois foi o que se sabe. Além do desaire no futebol, também a nadadora Mireia Belmonte, que chegou a ser apontada como esperança para um lugar no pódio, fracassou nas meias-finais dos 200 metros estilos. De tal maneira que as atenções até já se viram - vejam lá - para o pólo aquático. Mas nem aí as coisas estão a correr bem.

Nos Jogos de Barcelona, em 1992, Espanha recolheu 22 medalhas. Há quatro anos, em Pequim, os nossos vizinhos voltaram a transbordar de orgulho: subiram 18 vezes ao pódio. Desta vez, está visto, não sucederá nada semelhante. Os resultados estão a ser inversamente proporcionais ao investimento: Espanha enviou a Londres um contingente de 281 atletas - é o nono país nas Olimpíadas em termos de participantes. Até por isso o mau humor dos espanhóis é mais compreensível. E neste caso nem podem atirar as culpas para cima de Angela Merkel...

De novo o reconhecimento internacional do sacrifício dos Portugueses

jfd, 19.07.12

A centralidade e autoridade de que Vítor Gaspar dispõe no Governo português e o “mantra neoliberal” que consistentemente é entoado pelo primeiro-ministro são ensinamentos que Espanha devia retirar do vizinho mais pequeno, que já leva um ano de intervenção externa.

A conclusão é da Reuters, que ontem divulgou um longo texto de análise intitulado “Líder de Espanha podia aprender algumas lições de Portugal”, depois de constatar que nem a promessa europeia de ajuda à banca, nem o novo pacote de austeridade, deram alento aos investidores, que continuam a cobrar prémios de risco crescentes para financiar o Estado espanhol. (...)

 

Mais uma notícia para ser comentada com desdém por quem não respeita o que nós portugueses estamos a passar e o que se está a fazer pelo futuro.

Vamos aguardar pela ruptura dos pensos rápidos franceses e pela queda das promessas populistas, para depois também os podermos chamar de fascistas.

Ó pobre e retórica esquerda, onde te esconderás? Como te justificarás?

Nunca, de facto, foi tão pertinente dizer que os cães ladram...

Do IVA da restauração.

jfd, 13.07.12

A Associação da Hotelaria e Restauração de Portugal (AHRESP) elogiou a decisão do Governo espanhol de subir o IVA de 8 para 10 por cento, ao contrário de Portugal, que “insiste num insuportável IVA de 23 por cento.

Para esta Associação corporativista e negativista de nada servem os dados e respostas apresentadas em sede própria pelo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. E com um argumento que é extraordinário; o aumento dessa mesma receita não deveria ser na ordem dos +100% mas sim o dobro - o Governo engana!

Valha-nos o bom senso dos fascistas espanhóis. A realidade é que a receita é necessária, e não vinda dali, algum outro sector será o sacrificado pelos malvados governantes que querem certamente asfixiar e matar a economia espanhola.

 

O fecho no comercio é inevitável. Infelizmente o desemprego que o acompanha também o é. Há que pensar na realidade de quem tem estabelecimentos abertos cumpridores de todas as regras; desde licenças ao programa de facturação certificado e, em contraste, quem tem o seu café, restaurante ou similar, há anos, no mesmo local, não investindo e sem sequer ter de levar em conta a renda como grande parte dos custos fixos. E nem vou mencionar facturas e recibos. Impostos e inspecções.

É duro retratar; mas se há dois, três ou quatro na mesma rua, tal não poderá acontecer. Assim como aqui, acontecerá nas farmácias, aconteceu nos balcões dos bancos e etc..

 

A economia tem de se reinventar e não de se perpetuar numa fotografia que nada augura para o futuro.