Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Forte Apache

Cisão? Que cisão?

Pedro Correia, 19.07.13

Cisão? Que cisão? Em mais de 30 anos de democracia, tenho visto muitos membros do PCP engrossar as fileiras do PS mas não me lembro de um só movimento na direcção contrária. Alguém até hoje rasgou o cartão de filiado no PS para se tornar militante comunista ou bloquista?

Não vale a pena mencionar nomes: poderia indicar aqui largas dezenas de ex-militantes do Comité Central do PCP, de antigos autarcas, sindicalistas ou deputados do partido da foice e do martelo que passaram a rever-se no conteúdo programático do PS. O próprio Mário Soares, que agora acena com esse tigre de papel, fez esse percurso: trocou o comunismo pelo socialismo democrático. E até este, no momento próprio, foi remetido para o fundo de uma gaveta.

Quando certas frases são proferidas, convém enquadrá-las com o mais elementar conhecimento histórico. E o natural sentido das proporções.

 

ADENDA: Também Felipe González lança farpas ao actual líder do PSOE, Rubalcaba: o mundo gira, imparável, mas nem todos se apercebem disso.

Hoje vou dormir descansado

Fernando Moreira de Sá, 05.05.13

É verdade, depois de ler esta notícia, estou mais optimista e descansado. Obrigado Jean-Luc....

 

 

Milhares de militantes de esquerda desfilam, em Paris, esta tarde, contra a austeridade imposta pelo Presidente François Hollande e "contra a infame troika". "Não deixaremos que matem Portugal nem nenhum outro país", diz ao Expresso o líder, Jean-Luc Mélenchon.



Dois deputados que deixaram saudades

Pedro Correia, 25.04.13

                            

 

É curioso: o 25 de Abril fez-se para fundar uma democracia representativa em Portugal, sufragada pelo voto universal e livre dos cidadãos. Mas raras vezes, ano após ano, vejo homenagear esse órgão concreto da democracia - com o qual tantos sonharam durante gerações - que é a Assembleia da República, símbolo supremo do nosso regime constitucional.

Espero que este lapso seja corrigido e que em 25 de Abril de 2014, quando a Revolução dos Cravos comemorar quatro décadas, possam ser homenageados 40 deputados, de diferentes partidos. Deputados que nunca foram ministros nem secretários de Estado nem presidentes de câmara nem presidentes de governos regionais: apenas deputados. Seria uma excelente forma de assinalar a instituição máxima da democracia portuguesa.

Fui repórter parlamentar do Diário de Notícias durante cinco anos e, nessa qualidade, tive o privilégio de conhecer competentíssimos deputados em todas as bancadas. E hoje, a pretexto do 25 de Abril, quero distinguir dois desses parlamentares que conheci pessoalmente: Maria José Nogueira Pinto e João Amaral. Ela claramente de direita, ele inequivocamente de esquerda.

Em legislaturas marcadas por fortes combates políticos, nenhum dos dois alguma vez cessou de tomar partido, envolvendo-se convictamente no confronto de ideias que é função cimeira do órgão parlamentar: sabia-se ao que vinham, por que vinham, que causas subscreviam e que bandeiras ideológicas sustentavam. Mas também sempre vi neles capacidade para analisar os argumentos contrários, com elegância e lealdade institucional, sem nunca deixarem as clivagens partidárias contaminarem as saudáveis relações de amizade que souberam travar com adversários políticos.

Porque a democracia também é isto: saber escutar os outros, saber conviver com quem não pensa como nós.

Lembro-me deles com frequência. Lembrei-me hoje deles também a propósito das sábias palavras que Giorgio Napolitano proferiu segunda-feira passada, em Roma, ao tomar posse no segundo mandato como Presidente italiano. "O facto de se estar a difundir uma espécie de horror a todas as hipóteses de compromisso, aliança, mediações e convergência de forças políticas é um sinal de regressão", declarou neste notável discurso Napolitano, de longe o político mais respeitado da turbulenta e caótica Itália, que festeja a 25 de Abril o seu dia nacional.

Palavras que certamente encontram eco entre os italianos.

Palavras que também deviam suscitar meditação entre nós. Palavras que a conservadora Maria José Nogueira Pinto e o comunista João Amaral seguramente entenderiam - desde logo porque sempre souberam pôr os interesses do País acima de tacticismos políticos.

Quis o destino, tantas vezes cruel, que já não se encontrem fisicamente entre nós. Mas o exemplo de ambos perdura, como símbolo de convicções fortes que - precisamente por isso - são capazes de servir de cimento para edificar pontes. E talvez nunca tenhamos precisado tanto dessas pontes como agora.

 

Publicado também aqui

Nicolás Maduro, um Berlusconi de esquerda?

Carlos Faria, 14.03.13

A esquerda por norma tão tolerante com todos os comportamentos liberais dos cidadãos, tem uma intolerância arrogante com todas as gaffes ou ideias (que não subscrevo) xenófobas, sexistas, homofóbicas e afins vindas de líderes de direita cuja indignação se alastra de forma viral nas redes sociais e não só. Berlusconi, por culpa própria devido ao seu comportamento brejeiro enjoativo e princípios de ética demasiado duvidosos, foi o exemplo máximo dessa atitude vinda esquerda.

Como no melhor pano cai a  nódoa, eis que Nicolás Maduro, ainda não eleito presidente, já protagonizou demasiados casos que mostram que comportamentos infelizes e inaceitáveis também acontecem em pessoa de esquerda:

Já expressou a sua masculinidade como argumento político insinuando incertezas de virilidade do seu oponente, assumindo assim um culto homofóbico como trunfo político;

Já assumiu a idiotice de Chavez doente, moribundo e já falecido ter influenciado o conclave para a eleição do Papa Francisco;

Já promoveu o culto da personalidade do modo típico das ditaduras com a decisão de embalsamar Chavez e exposição do corpo em museu e teve de recuar devido a problemas de ordem técnica que deveria ter verificado antes de tornar pública essa opção;

Aceitou tomar posse do cargo de Presidente em condições duvidosas para a Constituição da República Bolivariana da Venezuela que terá jurado cumprir ao ser empossado e quando não tinha necessidade disso por ser candidato dentro de 30 dias com grande probabilidade de ser o vencedor; e

Tem o desplante de condicionar um debate político a questiúnculas de guerrilhas privadas entre o seu opositor e a família do seu antecessor.

Tudo isto em escassos dias, sem ainda ter sido eleito, mas já a demonstrar o seu vazio de inteligência política, a existência de preconceitos perigosos, o provável desrespeito pela Constituição do seu País e a admiração por ditadores, aspetos perigosos para o futuro da Venezuela, mas suspeito que veremos a esquerda tão liberal nos costumes, despreconceituosa, tão suscetível em se ofender, ignorar toda esta asneirada de Nicolás Maduro.

O que a Direita tem de ensinar à Esquerda

Francisco Castelo Branco, 08.03.13

Aquando da morte de Jaime Neves, a esquerda radical não prestou a devida homenagem republicana ao ter votado contra o voto de pesar aprovado pela maioria mas também pelo PS. Hoje o Parlamento aprovou quatro votos de pesar pela morte de Hugo Chavez. Ao contrário do que sucedeu com um dirigente que lutou contra o comunismo, a esquerda radical não teve dificuldades em homenagear um comunista. A falta de ética e sentido republicano por parte do PCP e BE é gritante e demonstra bem que estes dois partidos não respeitam as regras democráticas. A Direita tem de ensinar a Esquerda a fazer política e mostrar sentido de Estado e estatura. Enquanto que a Direita alinha pela cordialidade, respeito independentemente da cor política, a Esquerda continua ligada a um passado que ainda deixa marcas. Marcas que são reflectidas nas atitudes tomadas e nem num simples gesto de pesar conseguem separar as ideologias. É por estas atitudes que tanto PCP como BE nunca irão ter votações relevantes e muito menos serão soluções governativas. Enquanto o primeiro se arrasta há 30 anos com o mesmo discurso, o segundo está perdido numa liderança bicéfala que nem os fundadores aceitam. Porquanto se fala muito em liberalismo, capitalismo selvagem e outros itens, são estas pequenas tomadas de posição que describilizam uns mas credibilizam outros. 

O congresso das alternativas sem alternativas...

Carlos Faria, 06.10.12

As esquerdas reuniram-se pra refletir sobre alternativas e parece que... As principais ideias do Congresso Democrático das Alternativas (CDA) que decorreu ontem na Aula Magna em Lisboa são três: denunciar o Memorando de entendimento, renegociar a dívida pública e demitir o governo de Pedro Passos Coelho

Resumindo: Tudo passa pela negação: não ao memorando, não aos termos de pagamento da dívida e não ao governo em exercício.

A única coisa que os une é o não ao que há neste momento e sempre que alguém discorda, desunem-se, pois é muito mais fácil dizer que não quero ir por aí, do que assumir um outro caminho para se ir.

Denunciar o memorando é bonito de se dizer, mas com isso, como renegociariam uma dívida em melhores condições perante os credores?

Pode-se dizer "não pagamos", mas será que um povo que nem na alimentação é autossuficiente pode dizer hoje que não paga e amanhã comprar cereal para o seu pão ao exterior?

Podemos sempre demitir o governo, mas sem eleições qual a sua legitimidade? Com eleições, quem lhes garante que terão a união no essencial para formar um governo se nem num congresso conseguiram acordo de ideias?

Vitor Gaspar é alemão....

Pedro M Froufe, 07.05.12

Segundo Boaventura Sousa Santos, o "(...) nosso ministro das Finanças, Vítor Gaspar, tem passaporte português mas é alemão. Foi criado pelos alemães, foi educado por eles no Banco Central Europeu. Este homem vê o mundo pelos olhos da Alemanha".

Tal e qual! Boaventura deve saber do que fala. Também ele tem passaporte português, mas, seguramente, será cubano, boliviano, chavèziano (rectius, venezuelano, etc., etc.).

O panfleto

José Meireles Graça, 26.04.12

Documentário disponível em todos os blogues de esquerda perto de si? Nada, nada, também se arranja de melhores proveniências - foi que o encontrei.


Mas não é um documentário. É uma peça de propaganda: Eugénio Rosa, economista comunista, com perdão da cacofonia e da contradição nos termos, e Fernando Rosas, um historiador neo-marxista pós-moderno, ilustram a explicação de como no Portugal do séc. XIX até hoje a upper class viveu e medrou com a promiscuidade com o Estado.


Não explicam se, sem o condicionamento industrial e o proteccionismo, teria sido possível criar uma base industrial; se as relações familiares dentro da pequena tribo de plutocratas eram uma originalidade portuguesa; por que razão a enormidade de recursos concentrada nas mãos de poucas famílias foi adjuvante para o atraso do País, ao contrário do que sucedeu noutras paragens; e se as taxas de crescimento de Portugal nos anos 60 (não obstante uma guerra colonial que chegou a consumir 40% do orçamento do Estado, sem aumento significativo do endividamento público) se explicam por obra e graça do Espírito Santo (o da trilogia, não um prócer da família homónima).


Não explicam isto nem uma quantidade de outras coisas. Mas dão a entender que o relativo atraso de Portugal poderia ser anulado se se acabasse com a promiscuidade através do expediente de eliminar os grupos económicos privados.

.

Simples, não é? Foi experimentado noutros lados e nunca resultou. Mas aqui poderia - quem sabe? - resultar. É uma questão de fé, e isso não discuto. Agora, panfletos em formato de documentário, lá isso - discuto.

Os laboratórios da opinião isenta

José Meireles Graça, 20.02.12

"O problema de Portugal não é de défice demográfico, mas de défice estratégico. Quando uma nação não tem um projecto de futuro, quando os salários não permitem uma vida familiar digna, quando reina a incerteza no emprego e na habitação, os potenciais pais e mães retraem-se. Ninguém, no seu perfeito juízo, quer lançar uma criança num mundo hostil. Portugal não precisa de aviltantes medidas de incentivo à natalidade. Elas ressoam à pecuária humana das 'mães parideiras' de Hitler e Estaline."

Viriato Soromenho Marques, com a típica pesporrência de uma certa esquerda à la Maio de 68, pega num problema real e vira-o de cabeça para baixo. Começa por taxar de ignorantes e atrevidos "alguns demagogos políticos e religiosos". E defende a sua dama, apresentando-a como filha do conhecimento científico e da política realista e equilibrada.

Ou seja: VSM não defende opiniões ideológicas nem políticas discutíveis, porque lá no gabinete onde passa os dias fazem-se estudos sociais sérios num laboratório cheio de computadores e de pipetas. Chegados a conclusões absolutamente seguras, é só divulgá-las nos meios de comunicação social e em conferências e o universo da política, rendido, passa a subscrever o programa de VSM e de todos os outros iluminados do aquecimento global, dos planos estratégicos, dos projectos de futuro, do emprego certo e da habitação garantida.

Peço licença para não dar para este peditório e antes comprar teses de "demagogos" que me saem de graça. Porque boa parte do que VSM defende levou a que os nascituros tenham um gigantesco calote. E isso, mesmo sem papers, agências governamentais e teses sortidas, é que é o pano de fundo em que "os potenciais pais e mães se retraem". Porque, sem isso resolvido, nada o será.

Mas isto não espero que o cientista social entenda - é demasiado simples.