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Forte Apache

O Algarve cheio, "por causa da crise"

Pedro Correia, 01.08.13

"Ao contrário das previsões, o Algarve está quase esgotado neste início de férias de Agosto. Nesta altura já é praticamente impossível encontrar alojamento. A taxa de ocupação em hotéis e empreendimentos turísticos aumentou porque milhares de portugueses decidiram fazer férias em Portugal por causa da crise."

Lançamento de notícia no Primeiro Jornal da SIC

Já não somos o que éramos

Francisca Prieto, 03.09.12
 

 

Por alturas do Ciclo Preparatório abracei a ginástica desportiva com grande entusiasmo num clube aqui da zona. Nadia Comaneci tinha arrecadado uma data de medalhas nos Jogos Olímpicos de Moscovo e eu tinha a certeza de que, com três treinos semanais, conseguiria tranquilamente equiparar o feito.

De maneira que se seguiram vários verões a fazer pinos e rodas na praia sem nunca ter chegado a tirar um mísero flic-flac da cartola.

 

Nessa altura ainda não sabia que, tal como me veio a acontecer quando resolvi ter aulas de viola, não tinha qualquer talento para a actividade e foram precisos vários treinos para me dissuadir de chegar à glória olímpica (ou à Orquestra Filarmónica de Lisboa, no segundo caso).

 

Há um par de anos lembrei-me que seria giro fazer um pino contra a parede para mostrar aos meus filhos de que raça a mãe era feita. Foi quando se deu um fenómeno inesperado. Por mais que puxasse pela cabeça, não conseguia perceber que raio de ordem o cérebro tinha de dar ao corpo para efectivamente atirar os braços ao chão e as pernas para detrás das costas sem incorrer em danos hospitalares.

 

Lembrei-me disto a propósito de, este ano, a ala masculina ter resolvido organizar um torneio futebolístico na praia. Pais, tios, filhos e sobrinhos a correrem de um lado para o outro, pelo meio do areal, com pares de chinelos a definirem a área das balizas. Dia após dia.

 

No primeiro, solteiros e casados, o que significa que havia uma equipa constituída por quarentões e, outra, por miúdos abaixo dos dez anos, reforçada por um sobrinho de dezasseis. Parece que ganharam os casados mas, dizem os minorcas, com muita batota, já que a partir do meio do jogo a equipa de anciões começou a ficar pelos bofes e já só davam corridinhas no meio campo de lá. Segundo a criançada (e passo a citar) “só ganharam porque ocupavam tanto espaço que tapavam a baliza”. Em sua defesa, os adversários, foram peremptórios em afirmar que os tinham “esmagado” (embora todos soubéssemos que a única coisa que ficou esmagada foi a hérnia discal do tio João e a coxa do tio António que teve de ser socorrido com sacos de gelo provenientes directamente da Camping Gás)

 

No dia seguinte resolveram misturar as tropas, e assim se seguiu um rol de jogos equilibrados por mais uma jornada. Só que, a meio do campeonato, as lesões começaram-se a agravar até se tornar claro que, para não haver mortos, era melhor acabar com o saudável desporto vespertino.

Inclui-se no saldo um dedo mindinho deslocado, um tio que confessava chegar a casa e não conseguir calçar sapatos por ter a sola dos pés queimada e um outro que pontapeou várias vezes a areia, sem nunca conseguir tocar na bola.

 

A criançada ficou desiludida mas, depois de participar no miserável espectáculo de encarar um adulto em agonia, com o pé enfiado numa manga de refrescar garrafas, não teve outro remédio senão acatar as desistências. Os casados suspiraram de alivio mas, como são homens, acharam só que estavam em baixo de forma. Nunca admitiram que talvez já não sejam o que eram. 

O direito ao massacre

José Meireles Graça, 23.08.12


 

 

Agora que as minhas férias estão a acabar, suspeito que estou em numerosa companhia quando o digo com um acanhado suspiro de alívio. Que milhões de cidadãos se estendam na areia debaixo de um sol inclemente, a frigir durante horas para terem sensações de queimadura apesar de borrados com unguentos pegajosos, desafia o entendimento; e que para isso façam longas viagens de automóvel no meio de um movimento infernal, parando em áreas de serviço onde ele é reles e os preços anormais; ou, pior, que se sujeitem a ser tratados como gado em aeroportos para chegar a um destino onde se come lixo exótico nos intervalos do estorricanço - só se explica como um ecuménico delírio colectivo.

 

Há, é claro, outras férias: ir ver monumentos célebres, países distantes, museus famosos. A prova de que tais destinos não se recomendam é que estão inçados de turistas. E eles tiram, furiosamente, fotografias. E como todo o lugar que vale a pena está abundante e superiormente documentado, o papel das fotografias é o de um certificado: estive lá, vi isto e aquilo, ai que bom que foi. Toma lá visitante, que nas noites de Inverno vou-te atazanar a paciência com o álbum e, pior, o filme das últimas férias em Bali.

 

Mesmo o cidadão pacato que tome as suas disposições para se pôr ao abrigo das contrariedades, fugindo do circuito normal, indo para sítios onde os turistas não enxameiam, tomando precauções quanto às instalações e passadio no destino, descobre que outros tiveram a mesma ideia; e o restaurante justamente conhecido pela sua qualidade tem, mesmo que a mantenha, o que não é certo, mesas esgotadas a horas decentes; além do que a minoria dos maduros a querer férias civilizadas é demasiado numerosa, por causa da concentração nos três meses de Verão.

 

Os trabalhadores conquistaram o direito a férias. Óptimo. Falta ainda que conquistem o direito a ter férias quando os outros trabalham. Como isso se fará, ignoro; que já não faço pouco em saber o que não convém.

 

Manta Rota

José Meireles Graça, 03.08.12

Com perdão da snobeira, não me passaria pela cabeça passar férias na Manta Rota. Nem aliás em nenhum outro sítio onde seja preciso disputar cinco metros quadrados para estender uma tolha para nela frigir em grande desconforto, com sérios riscos de aumentar as probabilidades de cancro da pele, e com prováveis infiltrações de areia nas partes pudibundas. Isto enquanto as crianças gritam, os banhistas espadanam água alacremente e não se dá dez passos sem ter que evitar a inevitável bola dos inevitáveis desportistas.

 

Mas isto sou eu. Passos Coelho sempre foi, parece, para a Manta Rota em gozo de férias, pelo que presumo gosta. E pelos vistos gosta o suficiente para acrescentar ao incómodo que eu teria e ele não tem a curiosidade pública, os guarda-costas, as fotografias e filmagens indiscretas, e as reportagens tolas.

 

Numa destas reportagens, na Sic-N, uma popular insurgia-se contra a guarda policial, dizendo irada: Quem julga ele que é? Não é mais ca nós!

 

Olha, ó minha concidadã regateira: o teu "nós", pela aragem, deve ser o "nós" do BE ou do PCP. Porque confundes o teu direito de voto, que é como deve ser igual ao de Passos e ao meu ou qualquer outro, com o tratamento igual de situações desiguais: ninguém te quer agredir, ou insultar, ou atacar, ao contrário do que acontece ao PM.

 

Ignoro se Passos quis marcar um ponto político, dizendo ao eleitor comum: não sou diferente de ti. Ou insistir no seu direito a não alterar os hábitos por causa da sua nova condição.

 

Espero que não seja o primeiro caso, ainda que tivesse a minha admiração pelo sacrifício; no segundo tê-la-ia pela teimosia.

Disco ao ano ou ao mês?

Diogo Agostinho, 03.08.12

Todos os anos a novela continua. O Algarve de Verão recebe milhares de portugueses. Como sempre todos querem estar onde estão todos. Só isso justifica o excesso de proximidade entre as toalhas na praia ou as discotecas a abarrotar. 

 

Mas este ano lá voltou o acontecimento. De um lado as discotecas que estão abertas todo o ano, do outro os estabelecimentos que fazem um mês apenas. 

 

E quem ganha são as providências cautelares todos os anos!

Constituinte me confesso

José Meireles Graça, 26.07.12

A nossa Republica tem vindo a registar assinalável progresso económico, superavits crescentes tanto na execução orçamental como nas balanças de bens e serviços, taxas de juro favoráveis ao investimento público e privado, abundância de capitais disponíveis, forte taxa de natalidade de empresas, diminuição da taxa de desemprego, já sustentadamente próxima da natural, o que tudo explica o geral clima de euforia que perpassa todas as camadas da nossa sociedade.

 

Infelizmente, esta prosperidade não tem sido distribuída equânimemente, desequilíbrio que cumpre corrigir em obediência à construção da sociedade socialista que este diploma consagrou no dia glorioso de 2 de Abril de 1976.

 

O Daniel decreta, e eu promulgo, para valer como Lei, a seguinte nova redacção da alínea d) do número 1 do artº 59º da Constituição da Republica Portuguesa:  Ao repouso e aos lazeres, a um limite máximo da jornada de trabalho, ao descanso semanal e a férias periódicas pagas em Cancun ou outro destino onde não se possa aceder senão de barco ou de avião;

 

Publique-se asinha.