Vamos então falar de PAC ???
O Presidente francês, François Hollande, afirmou hoje que "a Comissão (Europeia) não dita" o que a França tem de fazer, depois de Bruxelas ter pedido a Paris que iniciasse a reforma das pensões este ano. (...)
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O Presidente francês, François Hollande, afirmou hoje que "a Comissão (Europeia) não dita" o que a França tem de fazer, depois de Bruxelas ter pedido a Paris que iniciasse a reforma das pensões este ano. (...)
Hollande, essa grande esperança do socialismo, entende que a Grécia deve "provar a credibilidade" dos seus compromissos internacionais pois, segundo Hollande, "vive-se um momento em que é preciso assumir compromissos" e que a "Europa tem de ter consciência que já tudo foi feito" em prol da Grécia. Nem Sarkozy teria dito melhor...
editado por Pedro Correia a 26/8/12 às 00:26
editado por Pedro Correia às 15:00
Viagem a Berlim do recém-empossado Presidente francês começa mal: avião foi forçado a regressar a Paris após ter enfrentado uma fortíssima tempestade.
Num episódio da série Oliver's Twist, Jamie vai para uma ilha italiana cozinhar marisco e dá a provar o resultado aos locais. Estes acham os pratos bons, mas queixam-se de que falta sal.
Jamie Oliver não percebeu nada: em vez de aprender o modo indígena, e cingir-se à tradição, inovou e, é claro, asneirou - asneirar é o que fazem quase sempre os chefs quando inovam. Chef que é chef faz cozinha de autor, senão não é chef, é cozinheiro, e cozinheiros não ganham estrelas Michelin, o grande prémio da patetice nos tachos e frigideiras.
Mas o país das estrelas Michelin, da cozinha de autor, do cinema de autor, das revoluções e das modernidades ocas tem realmente excelente culinária, resultado da terra úbere, variedade climática, Sol e tradição.
Já os filhos da Ilha disso têm apenas a tradição dos empadões intragáveis, e parar à beira da estrada para almoçar numa vilória inglesa só não deixa más recordações a um Português que, de portas afora, viva em permanente estado de adoração perante a superioridade do alheio, a real que é alguma e a imaginária que é muita.
Mas a recente vitória de Seguro nas eleições francesas está em vias de melhorar consideravelmente o passadio inglês, de resto já revolucionado de há muito pela influência das cozinhas italiana e chinesa, além da gaulesa.
É, estes Normandos que atravessam o Canal levam dinheiro, capacidade de criação de riqueza e também apetite. E este apetite talvez ajude, com tempo, a melhorar a qualidade dos menus locais.
Os Franceses, é claro, pagarão um preço pela eleição de Seguro - a vaga de exilados é só um appetizer. Mas sem problemas de maior: que Seguro já foi a correr receber instruções ao Bocuse alemão - a ver se o assado não queima.
editado por Pedro Correia a 26/8/12 às 00:27
«Como é que alguém consegue governar um país que tem duzentas e quarenta seis variedades de queijo?»
Charles de Gaulle
Dados macro-económicos da França que François Hollande herda de Nicolas Sarkozy:
- crescimento médio do PIB entre 2009 e 2011: 1,5%
- crescimento do PIB em 2012 (previsão): entre 0,4% e 0,7%
- desemprego: 10,1%
- défice público: 5,2% do PIB
- dívida pública: 83% do PIB
Promessas eleitorais de Hollande:
- renegociação do tratado orçamental
- redução em 30% dos salários do Presidente e dos ministros
- equilíbrio orçamental em 2017 (défice zero)
- introdução na Constituição do princípio da concertação social
- concessão do direito de voto aos cidadãos estrangeiros provenientes de países extra-comunitários
- actualização do salário mínimo, indexado ao crescimento do PIB
- criação de 150 mil empregos para jovens: "contratos de geração"
- incentivos fiscais às empresas que contratem pessoas com menos de 30 anos e mantenham nos seus quadros pessoas com mais de 55 anos
- criação de 60 mil postos de trabalho no sector da educação público da educação e cinco mil na justiça durante os próximos cinco anos
- diminuição da idade de reforma para 60 anos quando houver 41,5 anos de descontos
- reforma fiscal: novo escalão de 45% para rendimentos acima de 150 mil euros e de 75% sobre os rendimentos superiores a um milhão de euros por ano
- taxa de IRC de 35% para grandes empresas, 30% para as médias e 15% para as pequenas
- renegociação dos acordos com Bélgica, Suíça e Luxemburgo que permitam cobrar impostos aos exilados fiscais
- reforma bancária, criando um banco público de investimento separado da banca comercial
- maior regulação do sistema bancário
- proibição de envolvimento da banca francesa em paraísos fiscais
- aumento de 15% do imposto sobre os lucros bancários
- congelamento durante três meses dos preços dos combustíveis e do gás
- redução da componente nuclear da produção de energia eléctrica dos actuais 75% para 50%
- manutenção do Estado nos sectores postal, dos transportes e da energia
- redução do preço dos medicamentos e maior comparticipação de genéricos
- redução para metade da taxa do insucesso escolar
- casamento entre pessoas do mesmo sexo, com reconhecimento do direito à adopção
Fica o registo. Para dentro de um prazo razoável verificarmos quantas destas promessas foram cumpridas - e em que termos. Cada vez mais os políticos devem ser confrontados entre o que propõem aos eleitores e aquilo que são capazes de concretizar assim que ascendem ao poder.
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Vinte e quatro anos depois, a França - o país da Europa que pensa mais à esquerda e vota mais à direita - voltou a eleger um presidente socialista. François Hollande derrotou um desgastado Nicolas Sarkozy por escassos três pontos percentuais, inferiores ao que prediziam todas as sondagens.
Sarkozy, que pela sua natureza e pelas suas atitudes tem pouco a ver com os conservadores clássicos, repetiu até à exaustão durante a campanha que durante o seu mandato de cinco anos nunca a França esteve um trimestre em recessão, apesar da crise generalizada na Europa. É verdade. Mas também é certo que o país tem um nível de desemprego preocupante e as taxas oficiais de crescimento não revelam - longe disso - uma economia dinâmica, o que ajuda a dar asas ao discurso demagógico e populista de Marine Le Pen, a dirigente da Frente Nacional que ambiciona liderar a direita francesa.
No digno discurso em que reconheceu a derrota, na noite de 6 de Maio, Sarkozy destacou a força das instituições democráticas que permitem uma alternância tranquila no poder. A vitória de Hollande projecta-se para fora das fronteiras da Europa com a força de um símbolo numa região do mundo onde a esquerda tem sido duramente penalizada nas urnas desde que eclodiu a crise dos mercados financeiros.
Para um democrata, nunca é de mais sublinhar a importância destas rotações de poder ditadas pela soberania do voto popular. Num continente onde crescem de modo alarmante as forças extremistas "anti-sistémicas", indiferentes às lições da História bem evidenciadas nas décadas de 20 e 30 do século passado, um democrata convicto tem o dever cívico de proclamar esta sua condição. Que implica a aceitação dos resultados eleitorais, sejam eles quais forem. O exercício do direito de voto torna as sociedades mais fortes contra as investidas de todos quantos pretendem suprimi-lo invocando para esse efeito palavras tão apelativas e tão manipuláveis como povo, pátria, nação ou classe.
A economia francesa não está bem. Mas a política mantém-se de boa saúde e recomenda-se. Prova disso foi a grande afluência eleitoral: mais de 80% dos franceses inscritos nos cadernos de recenseamento acorreram às assembleias de voto na segunda volta das presidenciais.
Uma boa notícia para a União Europeia, que está tão carente delas. E uma responsabilidade acrescida para o novo inquilino do Eliseu, que amanhã toma posse. O seu primeiro passo como Presidente é significativo: voa de imediato para Berlim, onde será recebido por Angela Merkel.
A política vive muito de símbolos. Este é tão forte que fala por si. De forma mais expressiva do que todas as torrentes de retórica em que a França sempre foi fértil. Como costumava dizer o general De Gaulle, "nada grandioso será alguma vez conseguido sem grandes homens - e os homens só se engrandecem quando estão determinados nisso".
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O mundo, tal qual o conhecíamos, mudou. O advento desta crise económica e financeira a par da incapacidade dos Estados e dos chamados “poderes instituídos” para compreenderem as suas causas e lidarem com as suas consequências, puseram a nu as alterações estruturais na ordem mundial e na dimensão histórica das relações internacionais. A globalização trouxe consigo uma certa ideia de enfraquecimento do poder estadual, do poder hegemónico do estado sobre o seu território e o seu povo. Paulo Rangel (Estado do Estado, Dom Quixote, 2009) fala numa “ordem política pautada pela fragmentação do poder, pela sua descolagem do Estado e por uma desvinculação da base territorial”.
Uma diferenciação que recorda “o mundo político medieval, a sua estrutural diversidade e a sua condição radicalmente interdependente”. Não se cura, todavia, do meu ponto de vista, de uma nova idade média na visão caótica de Alain Minc (A Nova Idade Média, Difel, 1994) mas antes, como sublinha Paulo Rangel, de um novo equilíbrio, de uma “multiplicidade avassaladora de poderes […] que tendem para um equilíbrio espontâneo, natural e dinâmico em constante mudança e modificação”.
Do ponto de um Estado como o nosso - uma pequena economia europeia, aberta, exposta às vantagens e às desvantagens da globalização e, para mais, sujeita à intervenção externa do FMI e das instituições europeias, não há como não esbarrar a cada passo com essa realidade da pulverização dos poderes estaduais por diversas organizações do espaço internacional, de índole diversa e, ainda que indirectamente, por outros estados soberanos, tal é a interdependência entre os vários actores internacionais.
Vem isto a propósito da forma como, este fim-de-semana, seguimos de perto as eleições gregas e francesas. Não por acaso. A periclitante situação grega, a crescente influência das franjas extremistas à esquerda e à direita e a patente incapacidade dos partidos do arco do poder formarem governo – para mais num cenário de minoria parlamentar – faz temer pelo equilíbrio delicado da Grécia no espaço europeu. E, como na teoria do caos, o bater de asas de uma borboleta em Atenas pode bem provocar um segundo terramoto em Lisboa e, já agora, em Madrid e em Roma. Desengane-se quem julga que – à semelhança da Bélgica – a Grécia pode aguentar-se uns tempos sem governo. Se alguma vez deixou de o ser, a Grécia volta a ser a principal preocupação da Europa. E é, não vale a pena escamoteá-lo, uma preocupação séria para Portugal.
Por outro lado, a chegada de François Hollande ao Eliseu virá, com elevada probabilidade, evidenciar a inexequibilidade de muitas daquelas que foram as suas bandeiras eleitorais e com isso esmorecer a euforia do Partido Socialista português e de históricos como Mário Soares que clamam agora um “rompimento com a troika”.
Não se julgue, porém, que a Europa sairá da lógica de directório que Cavaco Silva abundantemente critica, porquanto a actual crise europeia não encontra enquadramento adequado nos tratados nem na orgânica das próprias instituições. Contudo, a vitória de Hollande poderá dar um impulso decisivo numa agenda de crescimento que vinha já a desenhar-se mas que, encontra assim, novo pretexto.
Algures na forma como a Europa for capaz de desembaraçar o nó grego e compatibilizar o socialismo europeu com a direita alemã se desenhará também o futuro português. Numa clara demonstração do impacto decisivo que podem ter “cá dentro” acontecimentos que antes só aconteciam “lá fora”.
(artigo publicado no Jornal Notícias de Guimarães)
editado por Pedro Correia às 10:58
Seguro, em relação a Hollande, está a querer ser o que Paulo China era para o Luís Figo.
editado por Pedro Correia às 18:15
Resultados do envolvimento do PS nas eleições francesas: franceses que votaram em Portugal deram vitória a Sarkozy.
editado por Pedro Correia às 18:15