El comandante João Baião
Ausentei-me do país e da blogosfera por uns dias, em trabalho: fui para uma terra prestigiada, cujos habitantes se alimentam de batatas pré-congeladas e carne excelente, que, por razões misteriosas, se abstêm de temperar. Excepto quando a preparam segundo uma receita mal traduzida do Francês ou Italiano, com acrescento de ervas aromáticas, caso em que a mixórdia passa a merecer a descrição de cuisine gourmet. Fruto desta maneira de estar na mesa, e do hábito de ir a todo o lado de bicicleta, as locais são geralmente coxudas, grandes e em permanente estado de justificarem a suspeita de com mais algum tempo passarem a vénus de Willendorf. Elas. Eles são grandalhões, modernaços, europeístas e chatos. Pode-se sempre, como se vê, contar comigo para descrever um país em meia dúzia de frases, com um rigor analítico que, se houvesse justiça, me faria objecto dos maiores encómios.
Mas não é da Holanda que quero falar, o assunto do dia que vim encontrar entre nós é a morte de Chávez. Prematura, essa morte, quer-me parecer, que se Chávez se tivesse deixado de lérias esquerdistas e tivesse ido para a Clínica Mayo, teria talvez comprado um suplemento de tempo de vida.
É difícil porém dizer alguma coisa sobre Chávez, por falta de superfície: odiava Americanos, achava que se acabasse com os ricos acabava com os pobres, fazia discursos intermináveis, admirava ditadores, comportava-se de forma geralmente grotesca e era um militar da variedade coronel Tapioca. Chega.
Se descontarmos o respeito pela Igreja, a levar possivelmente à conta de oportunismo e prudência, o homem não tinha mistério nem densidade. Deixa um país mais igualitário, o que explica a simpatia de todos os trogloditas da esquerda; fez algumas coisas boas, parece, pela educação e a saúde pública, com as receitas do petróleo; e a economia fica em pantanas, sem recuperação à vista porque nem a corrupção foi seriamente abalada (apenas mudou de protagonistas) nem foram criadas as condições - pelo contrário - para uma economia privada sã poder florescer.
Daniel Hannan acha que Chávez não está tão longe como isso e, pior, que o exemplo pode encontrar imitadores aqui para estes lados, dado que as causas que o levaram ao Poder estão a materializar-se no Sul da Europa. Nas palavras dele: "But don’t imagine that it couldn’t happen closer to home. We need only look at the eurozone’s stricken Mediterranean members to see similar conditions forming. Representative democracy is still a relatively new phenomenon in some countries. It may prove more fragile than we think".
Parece-me que se esqueceu que o Mediterrâneo não nos banha. E que exagera: ditadores ainda vá, mas com gravitas, não Joões Baiões da política.
Mas lá que o ponto merece reflexão - merece.