O fim da humanidade
Tranquem as crianças, escondam as mulheres e os metais preciosos, porque o Dita Dura é católico. Sim, não tenho problemas em afirmá-lo publicamente e resolvi agora falar dos problemas e desafios da Igreja do século XXI. Não é um tema monótono porque diz respeito a todos e, acima de tudo, não devemos ter vergonha de falar naquilo em que acreditamos. Porque se é preciso ter Fé para crer que Deus fez o mundo em seis dias e descansou no sétimo, o que dizer da tese científica que afirma que, do nada e por razão nenhuma, existiu uma explosão que fez tudo?
A Igreja é uma das instituições mais antigas do mundo contemporâneo, mas está a fechar-se cada vez mais, a tornar-se um clube exclusivo para meia dúzia de iluminados, uma sociedade recreativa que se afasta progressivamente do resto do mundo. Em vez dos padres serem eremitas no meio do deserto das cidades, é preciso urgentemente que se envolvam, que sejam verdadeiros missionários em cada paróquia, que se interessem e actuem sobre os verdadeiros problemas das comunidades e das pessoas.
Num mundo cada vez mais relativista e superficial, a Igreja tem a mensagem para combater o egoísmo predominante. Mas tem de primeiro chegar junto das pessoas. E depois precisa de ser eficaz. Não pode continuar a deixar que lhe seja imputada uma imagem retrógrada e conservadora, para depois cair ela própria na retórica auto-comiserada da perseguição, que apenas leva a mais isolamento. É preciso arriscar, ser atrevida, errar se for preciso. Para sair deste autismo canceroso. E colocar um travão nas tentativas ridículas de popularizar sem direcção, que apenas tendem a criar cisões e provocar a fuga para cismas protestantes com menos senso teológico mas mais efectividade. A cerimónia é o ponto central da fé católica, mas não pode ser o seu princípio e o seu fim; tem de ser complementar a um conjunto de actividades junto de toda a comunidade. E para isso é também preciso acabar com a pretensão exclusiva de “estar junto dos que mais precisam”. É necessário deixar de fazer só caridade e começar a encontrar verdadeiras amizades, colocar o paternalismo de lado e reiniciar uma relação com a sociedade que seja genuinamente fraterna.
Neste momento, o padre paroquiano é um trabalhador como qualquer outro: entra ao serviço a certas horas, faz a sua cerimónia, tem as actividades que se arrastam até ao picar do ponto e depois vai o mais depressa possível para casa. Se era isto que a Igreja queria evitar ao impedir que os padres se casassem, talvez seja a altura para rever esse pressuposto. Mas há uma alternativa: a ambição de voltar a querer mudar o mundo com uma mensagem para todos, com o mesmo comprometimento, atitude, força e coragem de um jovem carpinteiro e os seus doze amigos, há dois mil anos atrás.
O enclausuramento da Igreja tem tido efeitos cada vez mais devastadores. Em primeiro lugar, transforma as paróquias em verdadeiros mosteiros de recolhimento. Depois, está a criar-se uma hierarquia parecida com os quartéis, com demasiada política e jogos de cintura, distanciando-se cada vez mais dos objectivos a que se propôs inicialmente. Por último, resultado do afastamento progressivo das necessidades e anseios das pessoas reais, a Igreja está a deixar que a legislação secular e a prática corrente se afastem dos princípios básicos do cristianismo, como a defesa da vida humana. A sociedade ainda não percebeu que quanto mais se afastar destes princípios, mais perto caminhará para o seu fim, ou o início de uma nova humanidade robótica, assente no culto do materialismo, da beleza ariana e da destruição dos mais fracos. E estamos todos sentados a deixar que isso aconteça.