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Forte Apache

Revolução na imprensa

José Meireles Graça, 14.11.12

Eles fecham, despedem jornalistas, pagam mal a fornecedores, aos próprios jornalistas e articulistas, eliminam as edições em papel ... um novo jornal é, em princípio, uma boa notícia. E ainda por cima grátis para quem o quiser ler, uau.

 

Mas a publicidade é um pouco equívoca. É em papel ou não é em papel? Que com o iPad ainda não se embrulham castanhas nem se acende a lareira. E é para andar nas paredes, de mão em mão, e de boca em boca?! Ó chefe, nas paredes só se for para não sujar os lambris quando se refresca a pintura - isso é raro, o stock de jornais velhos chega perfeitamente. E de mão em mão, vírgula: que muitos de nós não querem papéis sebentos.

 

De boca em boca deve ser sentido figurado - está bem. Mas para isso quer-se notícias fresquinhas, opiniões inovadoras, e aspecto atraente. Ora, que diz o editorial? Diz isto:

 

A paz, o pão,

Habitação,

Saúde, educação.

Só há liberdade a sério quando houver

Liberdade de mudar e decidir

Quando pertencer ao povo o que o povo produzir.

 

Acho, snif, que vai falir. Que jornal da Associação Portuguesa de Arqueólogos já há.

A História incompreendida

José Meireles Graça, 13.07.12

Esta notícia é chata - muito chata. Se o saldo positivo resultasse unicamente de quebra nas importações, dir-se-ia, e seria verdade, que a redução de salários, o aumento do desemprego e a contracção do crédito - numa palavra, a diminuição do consumo - explicavam a evolução. Mas havendo crescimento das exportações; sendo a taxa desse crescimento genericamente maior que a dos países nossos concorrentes; e continuando a Europa em crise: como explicar a evolução?

 

Não pode ser por causa do Governo: excepto pela revisão das leis do trabalho não houve nenhuma medida que aliviasse as PMEs do seu fardo fiscal ou regulamentar, muito pelo contrário; e a banca continua a distinguir-se pela mesma inépcia que demonstrou desde a adesão ao Euro, financiando o que não devia, agora não sendo capaz de financiar o que deve.

 

É certo que os sindicatos incomodam pouco - as greves são lá uma coisa de sectores protegidos, companhias majestáticas e função pública. Mas os sindicatos já não incomodam há muito - os trabalhadores que correm o risco de perder o emprego ignoram-nos, excepto no dia das acampadas nos portões das fábricas, quando o caldo já entornou irremediavelmente e o sindicalista do costume vem dizer as coisas do costume. Também é certo que a pressão para aumentos de salários ou regalias está próxima do nível do mar; e nunca os trabalhadores tiveram tão boa vontade em viver os dramas das empresas que têm dramas.

 

Mas tudo isto explica pouco. E eu, embora pudesse, também não explico, que não estou para aí virado. Mas estou virado para pasmar com isto: a riqueza da argumentação e do enquadramento histórico para explicar por que razão houve um superavit em 1943 (a Europa estava em guerra e vendíamos a Deus e ao Diabo, no essencial) funcionam no sentido precisamente oposto ao pretendido, porque tornam ainda mais notável a performance de agora.

 

Em 1943, os preços eram oportunistas e o povo era sereno e miserável. Agora, o povo continua sereno (enfim, a maior parte) mas não se vende a quem precisa desesperadamente de nós, vende-se a quem foi conquistado com uma relação qualidade/preço que a concorrência internacional não acompanha.

 

Isto é estranho. Tão estranho que Irene Pimentel não entende.

 

Não esperava que entendesse.

Miguel Relvas ilibado pela ERC

jfd, 19.06.12

Lê-se assim no Expresso, edição on-line, hoje pela tardinha. Sim cara Catarina. O Expresso, sempre ele. Nutro porventura, da mesma simpatia que terás pela linha editorial, que considero paradoxalmente fora e, ao mesmo tempo, dentro do armário. Por vezes a veia de oráculo chega a ser por demais surreal.

Desta vez diz-se haver um relatório de técnicos da ERC. Desmentido por esta. Mas aquele terá ainda de ser votado naquela. Claro está que é facto jornalístico realçar que o Ministro tem na ERC uma amiga. Facto do mais relevante que existe. Enfim. Mas o que espera o jornalista do Expresso? Que a ERC vote contra um alegado documento contendo factos que a própria encomendou? Documento esse que vai de encontro aquilo que o Expresso fez questão de fazer rodar e rodar nas suas páginas? Até gente anónima de esquerda estranhou tanta afinidade com o assunto!

Quero acreditar que a ERC não é o Público, e que na ERC não se passará aquilo que naquele diário passou cá fora e indignou muito boa gente.

 

Da necessidade da inquietação

jfd, 10.06.12

Fico incomodado com a forma como se está subtilmente a querer fazer parecer que há uma revolta no lume, de um cozinhado que não passando das mãos de chefs de franjas agarradas ao passado não têm nem reflexo nas massas nem olhos naquilo que é presente nem futuro.

O pior é que esta gente, a bem ou mal, vai tendo espaço de antena para os seus pratos. Haja liberdade de expressão, dizem eles. Muito bem, concordo eu. Mas e que tal aquela liberdade da maioria de pessoas que se estão cagando para apelos velados de revolta e que querem apenas que o que agora sofremos valha de algo e passe depressa?

 

Nos jugulares é com os brandos costumes.

No cinco dias são surrealismos.

No arrastão, e aproveitando a legitimidade de outros que se dizem apartidários, apela-se à retirada do conforto ao Governo...

Diz-se que é o tiro pela culatra

jfd, 13.05.12

Pois é, caros do Jugular. De facto, o Tiro pela Culatra.

Que bonito é brincar às frases e palavras e tirar as coisas de contexto.

Que bonito é não ver the big picture mas sim fazer análises de ocasião que servem de gasolina para uma fogueira que lentamente consumia o nosso país e que este Governo nada mais tem feito que, com cabeça estruturada e sustentada, atirado água.

Que bonito que é ver Seguro no seu novo discurso alimentado desde as pilhas novas compradas em Paris. Esqueceu rapidamente o antigo.

Que prestígio para aquilo que sempre foi, ao lutar com aquilo que agora é e terá de ser a bem de todos nós.

Pedro Passos Coelho falou. Para um novo Portugal. Para aquilo que temos de ser. Deixar de ser coitadinhos. E avançar para a frente.

Como pais, filhos, avós, netos, sobrinhos, temos um dever para com os nossos familiares e com o nosso futuro. Não baixar os braços e ao invés de ir pedir pelo fim do capitalismo, encarar os novos tempos como o mais corajoso dos forcados. Esta é a hora de acção e de mudança e não de repetição de fórmulas e discursos passados.

 

 

(...) Defendi que tudo deveríamos fazer para transformar as crises numa nova oportunidade (...)

A fé dispendiosa

José Meireles Graça, 22.02.12

Não sei se a Ministra "tá a ver". Compreende-se: também sou um daqueles que não têm nada a ver com a fé da Ministra.


Com duas diferenças: i) Não vejo por que razão ela, Ministra, estará impedida de invocar a sua fé dela; ii) A fé da Ministra sai-nos de graça; a fé da blogger nos poderes salvíficos do Estado costuma sair-nos cara.

A língua de pau

José Meireles Graça, 15.02.12

Toda a gente se queixa da língua de pau dos políticos, palavreado recheado de fórmulas que não querem dizer nada.

Os spin doctors que, cá como em todo o lado, aconselham candidatos a lugares de eleição política, ensinam sobretudo a arte de não afastar ninguém do universo de possíveis eleitores e prometer o quanto baste para ganhar o voto, de modo suficientemente vago para mais tarde não haver acusações de quebra de promessas.

Resulta: Todos os Presidentes da Republica foram tanto mais populares quanto mais se refugiavam em declarações genéricas e discursos jesuíticos. Estes últimos, se ninguém os perceber, melhor: que cada partido ou fazedor de opinião interpreta como lhe dá jeito, o cidadão imagina-se burro ou ignorante e o Presidente cavalga triunfante as sondagens.

Cavaco, neste segundo mandato, tem-se aventurado a dizer coisas de improviso, o que no caso dele é um risco acrescido, e já deve ter sido aconselhado a, quando inquirido, desejar compungidamente o bem de todos os Portugueses e sofrer com eles em silêncio, se quiser acabar o mandato em ombros.

Mas não é de Cavaco que quero falar. Um deputado do CDS teve hoje a ideia peregrina de afirmar que "os funcionários públicos que não concordam com maior mobilidade dos trabalhadores do Estado podem negociar a rescisão de contrato", acrescentando, para agravar o caso, que "o Estado não pode pedir aos contribuintes para pagarem impostos para terem funcionários públicos que não são precisos e que não estão a prestar o seu serviço".

Caiu-lhe o Carmo e a Trindade em cima. Esta Senhora, por exemplo, promete-lhe encharcados. E Bagão Félix, um correligionário informal e pessoa que tenho na maior consideração, opina que não se pode falar assim quando há pessoas em jogo, além de que a medida pode tropeçar, por exemplo, na indisponibilidade de casas para arrendar.


Eu acho que a Lei pode e deve contemplar razões atendíveis, a do arrendamento entre outras. Mas entendo também, com a devida vénia, no meu caso genuína, ao Dr. Bagão Félix, que é precisamente assim que se deve falar.