Hoje, no Público (pág. 43) tropecei num artigo de opinião de Manuel Sampaio Pimentel intitulado “Desculpe Dr. Menezes, não posso votar em si (II)”. Pecando por não ter lido a parte I, só posso supor que a primeira não deve ter sido muito diversa no seu objectivo final.
O actual Director do Centro Distrital do Porto da Segurança Social, nomeado pelo actual governo, compara o endividamento da Câmara do Porto com o da Câmara de Gaia e, perante tal cenário, chega a uma conclusão definitiva: Luís Filipe Menezes não pode ser o próximo Presidente da CMP ou, coisa mais prosaica, pelo menos não o será com o seu voto.
Este militante do CDS, ex-vereador de Rui Rio não aprecia LFM. Está no seu direito. Não gosta da obra de LFM em Gaia. É a democracia. Porém, é bom lembrar que LFM governa Gaia em coligação com outro partido, o de Manuel Sampaio Pimentel e, pelo que sei, nunca vi o CDS de Gaia nem a Distrital do Porto do CDS criticar a gestão de LFM em Gaia. Bem pelo contrário. Nem sei se Manuel Sampaio Pimentel, quando foi nomeado para a CCDRN, em 2003, evitou aprovar ou se opôs a candidaturas de Gaia ao QREN que ajudaram, certamente, ao avolumar do tal endividamento de que agora fala tão crítica e preocupadamente. Não sei.
O problema não está, obviamente, em Sampaio Pimentel não apoiar uma candidatura de LFM (mesmo que o seu partido, aposto, o vá fazer). Não. É um direito seu e que merece o respeito de todos. O problema é outro: comparar o endividamento de Gaia com o do Porto. Seria o mesmo, para facilitar a compreensão de todos, que comparar o endividamento do FC Porto com o do Vitória de Guimarães. É intelectualmente desonesto fazê-lo.
Em pouco mais de 15 anos, Vila Nova de Gaia transformou-se de forma incrível. O valor do património que a CMGaia tinha em 1997 e aquele que hoje tem cresceu mais do triplo, atingindo um valor superior a 600 milhões de euros; foram construídas/remodeladas mais de 50 novas escolas; o apoio social à população menos favorecida ultrapassou os 160 milhões de euros; o número de empresas mais do que duplicou e o mesmo se refira quanto ao número de turistas não nacionais. O saneamento básico passou de praticamente inexistente a uma taxa exemplar em termos europeus, próxima dos 100% e, pelo caminho, Gaia tornou-se um dos territórios europeus com melhor taxa de m2 de área verde por habitante. E que dizer da recuperação da frente marítima e ribeirinha de Gaia? Ou o investimento feito no desporto, na cultura, em suma, na qualidade de vida da população?
Quando olho para Gaia lembro-me de um outro exemplo, anterior, a Maia e Vieira de Carvalho. Quando a Maia atingiu patamares de excelência que a tornaram uma referência europeia e Vieira de Carvalho um autarca modelo ainda hoje recordado pelo seu legado, os seus críticos apontavam o valor da dívida. Em 2002, Vieira de Carvalho faleceu e muitos vaticinaram o declínio da Maia por força do valor da sua dívida. Hoje, passados 10 anos, a Maia diminuiu o seu endividamento sem colocar em causa a qualidade de vida dos seus habitantes. Porquê? Porque a obra estava lá, a taxa de saneamento básico com cobertura de 100%, as infraestruturas que permitiram a continuidade do progresso no seu concelho como a Zona Industrial, o Parque Escolar, as rodovias, etc., ficaram. Bastou gerir o património deixado (vendendo até determinadas partes com enorme mais-valia) sem ter de fazer investimentos avultados pois esses já tinham sido realizados.
Luís Filipe Menezes em Gaia, como antes Vieira de Carvalho na Maia, souberam investir, estar à frente do seu tempo e apostar na qualidade de vida das respectivas populações. Querer comparar Gaia com o Porto é um duplo erro. Por um lado, porque em Gaia tudo estava por fazer e ao comparar fragiliza-se a posição e os mandatos de Rui Rio. Por outro lado, seria comparar necessidades orçamentais diversas e legados de qualidade de vida das populações muito diferentes. Jogam em campeonatos diferentes pois são duas realidades distintas.
Por último, não consigo perceber se existem dois CDS diferentes no distrito e por isso mesmo, fico na dúvida, qual a parte do CDS nesta história que me escapou?
Nota: Podia ser Pimental mas não é, é mesmo Pimentel. E "De" Sampaio Pimentel que nestas coisas temos sempre de ser rigorosos...