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Forte Apache

A perversão da multiplicidade de órgãos de comunicação social

Miguel Félix António, 08.04.13

À primeira vista poderá parecer bom dispor-se de uma ampla e diversificada oferta no que respeita a órgãos de comunicação social. Desde os denominados generalistas, a outros mais específicos e direccionados para públicos determinados, qualquer que seja a área de actividade.

 

Muitos sustentarão que com esta diversidade estará garantida a pluralidade de pontos de vista e a cobertura praticamente total do que de mais relevante se passa na nossa aldeia global, desde o mais recôndito local do planeta até à nossa rua.

 

Este posicionamento alicerça-se na convicção de que quanto mais títulos houver, maior será a probabilidade de o tratamento noticioso ser abordado sob diversos prismas e, portanto, haver mais democracia e, por outro lado, nada escapar de relevante ao nosso conhecimento.

 

Contudo, talvez não seja bem assim. 

 

A circunstância de haver uma miríade de órgãos de comunicação social faz com que se tenham que utilizar as inúmeras páginas nos jornais e revistas, e tempo nas telefonias e televisões, com notícias, com reportagens, com entrevistas, com comentários, com opiniões e com análises e, claro, com contra-análises, com especulações e com tudo o que possa ser aproveitado, no critério do editor, para não deixar espaços vazios.

 

Há, pois, muito campo por preencher e, assim, muita informação que tem que se dar, muita opinião para colher, muito por estimular, para que não haja páginas brancas ou silêncios prolongados.

 

Mas tal situação leva-nos a um ciclo que pode ser perverso, já que a divulgação de notícias, reais e não fabricadas terá sempre um limite. E, por vezes, a diferença entre o que realmente aconteceu e sempre aconteceria, independentemente dos ecos que haja ou não na comunicação social, e aquilo que se fabricou para aparecer, é muito ténue.

 

Na política, no desporto, na economia, o efeito é indutor de realizações, de factos, de novidades, de conferências, de almoços, de “números” para a comunicação social, porque existindo horror ao vazio, haverá que encher… nem que seja com acontecimentos que só se realizam precisamente porque há que lutar contra o espaço desocupado.

 

A lógica assenta no princípio de que “se não formos nós ” outros necessariamente o farão. E ocuparão o espaço tão apetecível.

Assim, se forma o ciclo vicioso e pernicioso, gerador das maiores perversões. 

 

Acontecimentos que apenas têm lugar porque há tantos órgãos de comunicação social que há que marcar o território, vazando notícias a um ritmo que acaba por ser alucinante mas, em muitos casos, vazias de conteúdo e de um interesse real.    

 

No que toca aos comentários, opiniões ou análises, tantos são os autores, tanta a intensidade e periodicidade com que escrevem, que acabam por ter que perorar por tudo e por nada, sobre aquilo e aqueloutro, caindo muitas vezes na gritaria, que é o que finda por se ouvir no meio de tanta informação e contra informação.

 

Por isso não é de admirar que não poucas vezes vejamos sair da pena ou da boca de pessoas ilustres, cultas e inteligentes, verdadeiras bojardas e críticas muito puco fundamentadas.

 

Há que preencher os espaços e às tantas não temos sempre coisas importantes e sustentadas para transmitir.

 

A reflexão, o estudo e a ponderação são inimigos figadais dos novos tempos comunicacionais.

Era tão fácil não escrever sobre isto...

Fernando Moreira de Sá, 19.02.13

 

Ontem, em Gaia. Hoje, em Lisboa. Amanhã vamos todos, como castigo pelo politicamente incorrecto do momento, a trabalhos forçados para o gulag a ser criado por estes "democratas".

 

Pode Miguel Relvas ser criticado? Pode e deve, faz parte da vida política (e da vida em geral). Pode Miguel Relvas ser apupado? Pode ele e qualquer outro político, árbitro, juíz, médico, polícia, blogger, etc. Faz parte da liberdade felizmente adquirida com a democracia. Pode Miguel Relvas ser impedido de falar/discursar nas cerimónias para as quais é convidado? Poder pode, só não é democrático. Chama-se censura, é violentar o direito à livre opinião.

 

Eu discordo de Miguel Relvas nalgumas coisas. Ele discorda, pelo menos que eu saiba, numa das minhas ideias, a regionalização e na questão da RTP foi público e notória a nossa divergência. Porém, cada um de nós pode, civilizadamente, discordar. E já aconteceu. Miguel Relvas só não foi impedido, ontem, de expressar as suas ideias, as suas convicções por menos de um fósforo. Hoje, a tirania imperou. O que se passou no ISCTE foi censura, pura e dura. Foi o total desrespeito pela liberdade de expressão. O resto é treta. É folclore.

 

Era tão fácil não escrever sobre isto. Era, não era? Só que eu nasci numa terra e no seio de uma família que sempre me ensinou os valores da Liberdade, os mesmos que hoje ensino à minha filha. Eu nasci no Porto onde podemos trocar os "v" pelos "b" mas nunca trocar a liberdade pela servidão.

 

Aqueles que agora fecham os olhos à intolerância serão os mesmos que, amanhã, dela se vão queixar. E se vamos pelo caminho do "olho por olho, dente por dente", citando Gandhi, " o mundo ficará cego e sem dentes...".