O perigoso mundo árabe
Alguns blogues decidiram desde Fevereiro que os países árabes não têm o direito de tentar construir democracias e que as ditaduras que estavam no poder eram bem melhores. Quem escreve a favor das primaveras árabes é ingénuo.
Os autores nunca explicam qual é a alternativa aos actuais processos no Egipto, Tunísia ou Líbia (suponho que defendem o regresso dos ditadores derrubados). E não se pronunciam sobre a repressão do regime de Bachar al-Assad na Síria (afinal, os adversários deste grande estadista são barbudos); o Iémen também fica muito bem com o seu general Saleh.
De um incidente ocorrido numa sociedade complexa extrai-se mais uma prova de que os actuais processos políticos são intrinsecamente maus. Veja-se este post em Cachimbo de Magritte ou este em O Insurgente. Fernando Martins e Rui Carmo não explicam aos seus leitores que a violência e a perseguição envolvendo a comunidade de cristãos coptas é recorrente no Egipto e que as informações sobre esses acontecimentos eram mais escondidas no tempo de Mubarak. Também nunca os vi elogiar um acontecimento favorável a estas revoluções, mas aqui seguem a saudável prática de que uma boa notícia não é notícia.
Sempre que há um incidente, lá surge um post destes, em tom de spleen fatigado de quem se fartou de avisar. Mas os autores nunca respondem às perguntas que certamente bailam na cabeça dos seus leitores: se é assim tão mau, que podemos fazer? Mubarak regressa? Proíbe-se a Irmandade Muçulmana? Deve a Europa apoiar um golpe de estado militar que sufoque o movimento de protesto iniciado na praça Tahrir? Acabar com o embrião de liberdade de imprensa? Proibir os partidos? Falsear as eleições ou, no mínimo, fazer uma chapelada? Devem as autoridades militares egípcias prender os defensores do Islão político ou de alguma forma retirar-lhes os direitos cívicos entretanto conquistados?
Podemos concluir que os autores não acreditam ser possível criar uma democracia viável no Egipto. Que o Islão é incompatível com a democracia parlamentar. Que os árabes não sabem pensar nem sabem resolver os seus problemas.
Enfim, gostava de ler uma resposta, embora saiba à partida que estas minhas perguntas ficarão assim no ar.