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Forte Apache

Remar contra a maré

Fernando Moreira de Sá, 05.04.13

Na hora em que todos (ou quase) se juntam no largo da aldeia a atirar pedras, deixo aqui uma pequena citação do discurso de despedida de Miguel Relvas:

Tenho a plena consciência do preço que paguei ao longo destes anos, das críticas que me dirigiram e, quero dizê-lo sem rodeios, das razões que por vezes lhes assistiam, do julgamento negativo que muitas vezes foi feito quanto à minha participação ou desempenho no governo e, sobretudo, da incompreensão quanto às minhas reais motivações que apenas foram, são e serão servir o meu país.

Não se limitou a falar do que fez. Não lamentou. Não entrou em choradinhos. Foi claro, sincero e assumiu erros. Coisa tão rara na política. Coisa tão rara em Portugal. Agora que Miguel Relvas se demitiu, pode ser que o deixem em paz. Mesmo não concordando com tudo, mesmo considerando que nas críticas que lhe fiz (Regionalização, não fusão de municípios, omissão na CCDRN e RTP-Porto) a razão estava (em meu entender) do meu lado da barricada, não posso deixar de lhe enviar um grande abraço e lhe desejar que seja feliz. Sim, que seja feliz, coisa que hoje, na política, é incompatível. 

 

Além disso, eu tenho memória.

Top of the pops

José Meireles Graça, 20.02.13

Épá, toda a agente fala do Relvas, e da canção que está de novo no top of the pops, e eu aqui a trabalhar para salvar o País. Nada, vou parar as minhas mesquinhas actividades e dizer, com acerto e profundidade, da minha justiça.

 

Tínhamos um ministro que a oposição estimava porque conferia plausibilidade às suspeitas e insinuações de sobreposição de interesses privados a públicos. Mas que agora aprecia porque lhe facilita a criação de um clima insurrecional.

 

Já em Julho último pessoa excepcionalmente avisada recomendava: "Quanto ao bom do Relvas, é claro que se devia ter demitido há muito, no interesse próprio, no do Governo e no do País. Se o tivesse feito a tempo, perderia a auctoritas mas não a dignitas". E acrescento eu, agora: dignitas, onde estás?

 

A oposição faz o que lhe compete. O primeiro-ministro, porém, não fez o que lhe competia, por, imagina-se, acreditar que um governo é a mesma coisa que um clube de amigos; e agora não pode, para não dar parte de fraco.

 

Lindo serviço: não bastava a política seguida inspirar desespero e ódio a quem é por ela prejudicado; e dúvidas a quem, não acreditando que a sarna socialista que aqui nos trouxe seja a receita para evitar a coceira, tem medo de que o doente morra da cura. Fora ainda preciso que o principal trunfo da propaganda anti-situação tivesse assento no Conselho de Ministros.

 

Quanto aos incidentes que são o estralejar dos foguetes desta festa, reina a confusão das interpretações. A ver se nos entendemos: um grupo que interrompe os trabalhos do Parlamento com uma balada guevarista, ou qualquer outra coisa, deve ser expulso da sala e os seus membros punidos. Porque, se assim não for, podemos deitar fora a parafernália das eleições, e dos Partidos, e do Regimento, que a ordem dos trabalhos é determinada por quem acha que tem poderes de representação popular por nomeações de griteiro, arruadas e estratégias obscuras de comités centrais. O PM fez um comentário simpático à interrupção? Pois tem mau gosto em música, que é um problema dele, e um deficiente entendimento da dignidade do Parlamento, que é um problema nosso.

 

Já nas universidades o caso é diferente: os estabelecimentos também são dos meninos que lá estudam e quem lá vai sujeita-se tradicionalmente às reacções dos eternos soixante-huitards que aqueles moços com pouco que fazer são, e sempre foram. É uma questão de estômago. Se forem os meninos. Porque na recepção ao Ministro da Saúde, no Porto, os manifestantes já aparentavam ter idade para ser os paizinhos deles.

 

Paizinhos que têm, evidentemente, todo o direito a manifestar-se - na rua. 

uma vénia

Rui C Pinto, 20.02.13

ao Paulo Pedroso pela lucidez com que analisa as recentes "manifestações" de descontentamento que eu ainda procuro adjectivar. um texto sucinto mas expressivo. julgava ser o único a estranhar que o símbolo mais representativo de abril, que quebrou décadas de silêncio forçado, sirva agora de instrumento de censura a governantes democraticamente eleitos. Portugal está a desaprender a liberdade.

Era tão fácil não escrever sobre isto...

Fernando Moreira de Sá, 19.02.13

 

Ontem, em Gaia. Hoje, em Lisboa. Amanhã vamos todos, como castigo pelo politicamente incorrecto do momento, a trabalhos forçados para o gulag a ser criado por estes "democratas".

 

Pode Miguel Relvas ser criticado? Pode e deve, faz parte da vida política (e da vida em geral). Pode Miguel Relvas ser apupado? Pode ele e qualquer outro político, árbitro, juíz, médico, polícia, blogger, etc. Faz parte da liberdade felizmente adquirida com a democracia. Pode Miguel Relvas ser impedido de falar/discursar nas cerimónias para as quais é convidado? Poder pode, só não é democrático. Chama-se censura, é violentar o direito à livre opinião.

 

Eu discordo de Miguel Relvas nalgumas coisas. Ele discorda, pelo menos que eu saiba, numa das minhas ideias, a regionalização e na questão da RTP foi público e notória a nossa divergência. Porém, cada um de nós pode, civilizadamente, discordar. E já aconteceu. Miguel Relvas só não foi impedido, ontem, de expressar as suas ideias, as suas convicções por menos de um fósforo. Hoje, a tirania imperou. O que se passou no ISCTE foi censura, pura e dura. Foi o total desrespeito pela liberdade de expressão. O resto é treta. É folclore.

 

Era tão fácil não escrever sobre isto. Era, não era? Só que eu nasci numa terra e no seio de uma família que sempre me ensinou os valores da Liberdade, os mesmos que hoje ensino à minha filha. Eu nasci no Porto onde podemos trocar os "v" pelos "b" mas nunca trocar a liberdade pela servidão.

 

Aqueles que agora fecham os olhos à intolerância serão os mesmos que, amanhã, dela se vão queixar. E se vamos pelo caminho do "olho por olho, dente por dente", citando Gandhi, " o mundo ficará cego e sem dentes...".

Graus de separação

João Villalobos, 18.12.12

  

A coisa explica-se assim: Eu hoje fui ao café local e pedi bica em chávena fria mas veio escaldada. Moro em frente ao Parlamento. Miguel Relvas costuma ir ao Parlamento. De quem é a culpa do meu café mal servido? De Miguel Relvas, pois está claro.

Outro dia, fui ao cinema nas Amoreiras e sucedeu que o filme teve uma paragem inexplicável a meio. Meses antes, sou capaz de jurar que vi Miguel Relvas a sair da mesma sala de cinema. Quem conluiou com Rodrigo Costa para me estragar o visionamento? Pois, obviamente, Miguel Relvas.

Mais: Tenho um amigo que tem por sua vez outro amigo com quem me juraram Miguel Relvas uma vez falou. Esse amigo do meu amigo passou por mim outro dia na Baixa e não me deu bola. Estou certo de que só uma pessoa no universo pode ser responsável por essa desmedida falta de educação. Escuso-me a dizer quem só para os fazer pensar. Aliás, se o mundo acabar mesmo no dia 21 deste mês é porque Miguel Relvas esteve na América do Sul numa vida passada. Só pode.       

Mais uma do Relvas (em inglês técnico)

jfd, 18.12.12
TAP is the “Best Airline in Europe” and was honoured with the respective award in Los Angeles last December 13. A few hours earlier, the airline was also recognised as “World’s Leading Airline to South America” in New Delhi. These awards – two of the most important in the travel and tourism industry – recognise TAP’s prestige and international reputation. (...)

Tiro ao Boneco

Francisco Castelo Branco, 18.12.12

Não sou um admirador de Relvas e acho que o Ministro já há muito se devia ter demitido. No entanto, considero inaceitável esta campanha contra o braço direito de Passos Coelho. Em momento algum a oposição tem o direito de colocar em causa a honorabilidade de quem quer que seja. Isto vale para todas as oposições mas também para todos os governos. No entanto, quem quer conquistar o poder tem sempre uma ajudinha da comunicação social. É pena que a nossa politica seja assim. 

Pedagogia arrelvada

José Meireles Graça, 18.07.12

Relvas tirou um curso de favor, porque era quem era; e Sócrates um curso de favor tirou porque era quem era. Os casos não são exactamente iguais: um aproveitou uma legislação que não devia existir e somou-lhe o jeitinho português; e o outro ficou-se pelo jeitinho, acrescentando-lhe, provavelmente, uma falsificação.

 


A blogosfera dos reflexos condicionados, que é quase toda, reagiu canonicamente, crucificando uns um e outros outro. Está bem: a previsibilidade, a mim, dá-me uma certa paz.


Os dois fait-divers foram porém positivos: vieram mostrar que um diploma de curso superior não certifica coisa alguma ou, melhor, que ele há diplomas e diplomas. A Católica ou Coimbra não são a Lusófona ou o Instituto de Estudos Superiores de Fafe.


E como o Estado, que deve certificar o ensino obrigatório, não deve certificar o ensino superior se quiser preservar a liberdade das universidades, fica o mercado para fazer a destrinça.


O mercado é muito imperfeito: o próprio Estado não distingue, para prover os seus quadros, a universidade A da B. Mas devia - nas empresas já isso se faz, diz-me em que te formaste e onde.


Depois há as doutorices: um perfeito imbecil pode não apenas licenciar-se mas inclusive dar aulas. Sempre assim foi - a diferença actual não é qualitativamente muita, ainda que em casos extremos se possa falar de pura e simples vigarice. Que a opinião pública se habitue a ligar mais aos argumentos per se, e menos aos de autoridade, é uma coisa boa.


Quanto ao bom do Relvas, é claro que se devia ter demitido há muito, no interesse próprio, no do Governo e no do País. Se o tivesse feito a tempo, perderia a auctoritas mas não a dignitas.

 

Mas o incidente tem um valor pedagógico, e esse vai ficar; a trapalhada esquecerá, como foram esquecidas as várias dúzias que há décadas alimentam o espaço público do nosso entretém.

O ruído é como a areia. É para quem quer.

jfd, 17.07.12

Sempre disse que um político, eleito pelo povo para a causa pública, deveria ser escrutinado até ao tutano pela comunicação social.

Sempre disse que esta se deveria assumir. Dizendo ao que vem e quem defende. Desvirtuando-se de imparcialidades fabricadas e mantidas com fios de algodão.

Sempre disse também que a esses políticos atacados e acossados pela comunicação social lhes caberia responder quando assim o entendessem. Pois não são por ela governados, nem para ela deveriam governar.

Ora este meu último pensamento terá ficado ligeiramente pervertido pela existência do primeiro e real manipulador da comunicação social em causa própria: José Sócrates. As teias foram profundas. Os exércitos bem mantidos e motivados. As manobras bem calculadas. E as tácticas bem bellow the belt; quando não ia de encontro ao seu desígnio, a fera-tornada-cordeiro-e-depois-fera-de-novo lá mostrava as garras e tudo voltava ao lugar.

 

Ora agora temos um outro, dito, caso. Enquanto antes a diversão para com a comunicação social serviria de distracção daquilo que nos levou à beira do fim, agora temos esta utilizada como distracção daquilo que está a ser tomado como medidas sem as quais não nos poderemos afastar do mesmo abismo.

Reformas corajosas e que influenciam; de norte a sul, da direita à esquerda - com os poderes instalados. As forças do deixa andar e do status quo.

 

Manifestações convocadas por elites intelectuais que encontram no Estado financiamento para suas aventuras.

Manifestações de desdém para com um Processo de Bolonha por parte dos que até agora estavam de boca calada.

Manifestações que exigem dignidade e transparência mas que em legislaturas anteriores nada reclamaram.

Manifestações de células sindicais que vão acordando à passagem de caravanas governamentais e com tácticas pouco democráticas.

Fogo amigo de pessoas que legitimamente se deixam manipular pelas capas, opinadores e outros que tais. E fogo amigo que de amigo apenas tem a origem - encerrando em si um rancor que muito tem de irresponsável tendo em conta os desígnios do País, e muito mais de desejo pessoal de protagonismo e de vingança.

 

Faz-se neste momento pelo futuro de Portugal.

Pouco interessa a eloquência abundante e estéril de bispos, opinadores, amigos e pouco amigos.

Já grave e interessante é quem, não respondendo directamente por quem escreve ou fala no órgão A ou B, se refugia editorialmente nas opiniões desses protagonistas como sendo suas e não dos meios que dirigem. Limpando cobardemente as mãos e permitindo que ataques ad hominem passem em branco manchando cada vez mais o bom nome de certas publicações e programas. Vistos e ouvidos.

 

O que já me interessa é que está um Governo no leme de Portugal. Com um plano. Em um ano ganhou a confiança do exterior. Graças aos sacrifícios de todos nós. Estamos a penar. Num caminho de pedras. Mas se antes tínhamos um caminho de rosas cujo final era uma queda para o nada sem fim, agora temos uma luz no fundo do túnel. E não uma luz utópica ou retórica. É tão real como o sangue que temos nos pés que caminham sobre as pedras da austeridade.

 

Sei que o Governo está empenhado. Todo ele. E no que toca ao Ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, nem que veja o fim da sua carreira política, levará a água ao seu moinho - as reformas serão feitas. Gostem ou não gostem os que serão afectados.

E estranho o povo que não entende que o ruído criado apenas serve para que não lhe chegue a mensagem do que realmente está em causa. Daquilo que alguns querem defender. 

 

Não há conspirações nem campanhas negras. Existem factos. E esses estão na presença de quem os quiser abanar, retirar-lhes o ruído e areia, e constatar.

 

Tudo o resto é conversa. Tudo o resto é treta.