Navegações (perguntas difíceis)
O debate intelectual português é frágil e, numa conversa, depressa estala o verniz. Entre nós, fazer perguntas é difícil e contém elevados custos, sobretudo quando as perguntas são pertinentes.
Um grupo de deputados da JSD colocou uma questão e houve um coro imediato de indignações. A pergunta é política. Os deputados questionaram a origem do financiamento dos sindicatos dos professores e foram de imediato comparados com Hitler e classificados de fascistas. E, no entanto, faz todo o sentido questionar a origem dos financiamentos (dos sindicatos, dos partidos, da JSD).
No caso do sindicalismo, é conhecido o financiamento público, já que as quotizações têm vindo a baixar de forma sistemática. Ele pode até ter vantagens, mas o que espanta é alguém considerar o tema tabu. Veja-se esta reacção de Filipe Nunes Vicente ou esta de Ana Cristina Leonardo, dois autores da blogosfera que se destacam pelo pensamento heterodoxo e pela coragem de dizerem o que pensam. Neste caso, usando a ironia, mesmo o sarcasmo, os dois autores recusam que a pergunta dos deputados seja formulada.
Há outros temas da nossa realidade onde se pára pouco para pensar. Um dos autores mais lúcidos da blogosfera portuguesa, conhecido por mr. Brown, escreve o óbvio neste post, mostrando como é estéril e artificial a polémica em torno do pagamento dos subsídios em Novembro. Infelizmente, a sua opinião será devidamente ignorada pelos mais apressados.
E, no entanto, isto é algo que se pensa em cinco segundos: se as pessoas já estão a receber um subsídio em duodécimos, em Junho terão metade de um subsídio pago, pelo que se o outro subsídio fosse pago também em Junho, então receberiam, a meio do ano, 1,5 subsídios, o que obviamente não está previsto na lei. O argumento da oposição, ‘há dinheiro, pague-se’ não era possível em nenhum outro país civilizado. Será que o Estado só paga salários?