Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Forte Apache

O Polvo

José Meireles Graça, 17.07.13

Desconhecia até hoje a existência de um parceiro social designado por Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas e não faço ideia de quem seja João Pedro Soares - no Google há vários e não tenho vagar para espiolhar.

 

No site informa-se que a CPPME está "no terreno" há três décadas e exibe-se a fotografia de um stand nas Festas da Rã, em Cascais, ao que se segue informação vária, cuja natureza não pude apurar por de momento me apetecer ir à cozinha comer cerejas.

 

Pois esta, não duvido, prestimosa organização, "apresentou ao secretário-geral da CGTP as suas propostas para o sector empresarial e para a reanimação da economia nacional".

 

Isto é realmente moderno: uma federação das federações das associações dos empresários anões, medianos e crescidinhos, "apresenta" coisas a um comunista que dirige uma feroz confederação cujo propósito é eliminar os grandes empresários, após os quais os médios, que entretanto passariam a ser os grandes, após os quais os pequenos, que seria exagero designar como grandes mas são tão exploradores como os outros, e finalmente os micros, que se empregarem nem que seja dois sobrinhos e um amigo de um filho estão-se apropriando de mais-valias e não sei quê.

 

"No final da reunião tanto a CPPME como a CGTP mostraram-se favoráveis a que se realizem eleições o mais depressa possível, por entenderem que a crise política e económica actual só pode ser superada se for dada 'a voz ao povo', houver 'um novo Governo' e se puserem em prática novas políticas".

 

Tiro o meu chapéu ao PCP: tem dois partidos políticos na AR mais outro que se imagina que não é compagnon de route; tem uma central sindical, uma nuvem de comentadores e uma presença tão vasta quanto enjoativa na comunicação social; tem uma quinta, uma Festa justamente celebrada e sabe Deus que mais.

 

Não tinha os empresários. Mas está a trabalhar nisso - parece.

Orgulhosamente (e sempre) comunistas!

Francisco Castelo Branco, 01.02.13

Fico estupefacto com esta atitude por parte dos partidos da esquerda radical. Eu não entendo como é que 40 anos depois do 25 de Abril ainda não se enterrou o passado. Se PCP, BE, PEV são partidos democráticos deviam agir com respeito perante aqueles que ajudaram a construir o regime em que vivemos. Custa-me aceitar que politicos com responsabilidades parlamentar e que têm de se sujeitar ao escrutínio populalar tenham este tipo de comportamento. Ao menos sejam coerentes e abandonem de vez o jogo parlamentar, cingindo a sua acção política às manifestações e greves. 

Jerónimo!!!!!!!!!!!!*

jfd, 12.01.13


 

O líder do Partido Socialista, António José Seguro, prevê visitar a China em 2013, a convite do Partido Comunista Chinês (PCC), confirmando as “relações amigas” entre as duas organizações, revelou esta sexta-feira a presidente do PS, Maria de Belém Roseira. (...)

 

* o post poder-se-ia ter intitulado também de "Notícias sem interesse".

 

O abraço improvável

José Meireles Graça, 03.12.12

Agostinho Lopes é um conhecido carroceiro do PCP. Não é grave, a espécie é transversal ao espectro partidário: num partido geralmente cordato como o PSD, repleto de gente circunspecta e engravatada, é possível um Odorico Paraguaçu ter granjeado votos, sucesso e prestígio ao longo de décadas. É certo que o preço fica para os sucessores pagarem, mas no resto do País, governado por gente com muito mais gravitas, a coisa não foi diferente. Porém, não é realmente disso que quero falar - as palavras são como as cerejas.

 

Agostinho, em pleno Congresso, disse o seguinte: "Há duas ilusões a evitar, a que é possível uma política alternativa com a manutenção do euro e mais federalismo como querem o PS e o Bloco de Esquerda e a ideia de que tudo se resolve com uma saída pura e simples do euro, qualquer que seja a forma como se sai e as condições de saída." Para Agostinho Lopes, um governo "patriótico e de esquerda" deve, no entanto, preparar o país para "a reconfiguração da zona euro, nomeadamente a saída da união económica e monetária, por decisão própria ou crise na União Europeia, salvaguardando os interesses de Portugal."

 

Isto é muito embaraçoso: porque, no essencial e com apenas duas correcções, não tenho nenhum problema em subscrever a tirada.

 

A primeira é que com a manutenção do Euro seria possível uma política alternativa, consistindo em privilegiar cortes na despesa e não aumentos de receita. A diferença teria sido um efeito menos depressivo, menos conflitualidade (aproveitando um estado de graça agora finado), e criação de condições para, se e quando o crescimento recomeçasse, o governo do dia, presumivelmente do PS, partisse de uma base muito mais baixa para restaurar o despesismo público - que é na prática o que o PS sabe fazer. Esse corte vai agora acentuar-se, ainda que em parte: quando tudo o mais falha, nomeadamente a cobrança de impostos, o único caminho possível para atingir o fugitivo equilíbrio é cortar na despesa.

 

A segunda é que o patriotismo não é património da Esquerda. No caso do PCP, aliás, os textos sagrados recomendam o internacionalismo proletário: alguém duvida que o PCP seria federalista, se uns Estados Unidos Europeus pudessem ser comunistas? Não é património da Esquerda nem será, a meu ver, a melhor luz à qual devem ser vistas quaisquer mudanças.

 

A luz necessária é a do realismo: o Euro falhou; os mesmos que o engendraram dizem agora que, para o corrigir, são necessárias mais instituições "comunitárias", designem-se ou não por federais; e países diferentes têm interesses diferentes, que podem ser convergentes, embora não sempre. Pode-se acreditar que é possível o governo de uma manta de retalhos feita de povos diferentes, com línguas diferentes, economias diferentes  e diferentes percursos históricos, sem nenhum cimento que não seja uma ideia abstracta de engenharia de pátrias e um interesse comum que todos os dias é desmentido. Mas isso requer um tal esforço de fé que só a mesmerização de toda uma geração e o medo do desconhecido, agora que desfazer a feira parece imensamente mais difícil que a ter levantado - pode explicar.

 

As razões não serão as mesmas, e os objectivos menos ainda, mas, hoje por hoje, um abraço, camarada Agostinho.

O peso das minorias

João Espinho, 22.03.12

Hoje é um dia particularmente feliz para as minorias.  Com os seus 8% (expressão eleitoral do PCP/CGTP) impõem ao país os devaneios e as consequências daquilo a que chamam justa luta. Pouco interessados em tirar o País do buraco, tudo farão para que o desemprego aumente pois só assim  sobreviverão para apregoar a cartilha  da luta de classes e de outras coisas que, felizmente, não criram muitas raízes nas sociedades livres e democráticas.
À noite estaremos atentos à divulgação dos números e do peso das minorias. E do pesadelo para uma larga maioria  de portugueses.

(também aqui )

O homem duplicado

Pedro Correia, 30.01.12

 

Há oito anos, escrevi no Diário de Notícias que Arménio Carlos seria o sucessor de Manuel Carvalho da Silva na CGTP. Lembro-me de que na altura não foi fácil encontrar fotografia do obscuro coordenador da União dos Sindicatos de Lisboa, então totalmente desconhecido da opinião pública. Sabia-se, isso sim, que a cúpula comunista estava irritada com as contínuas fugas à ortodoxia de Carvalho da Silva e pretendia substituí-lo por um homem aparentemente mais duro mas afinal muito mais dócil no cumprimento das directivas partidárias. Por um motivo fácil de explicar: a CGTP é o mais poderoso instrumento de acção estratégica do Partido Comunista, que após ter perdido os seus bastiões operários e autárquicos recuou com a tenacidade de sempre -- um passo atrás, dois passos à frente, recomendava Lenine -- para o seu derradeiro reduto, o do sindicalismo nas áreas da administração pública e das empresas públicas, designadamente na área dos transportes. Quanto mais Estado, tanto mais a CGTP se robustece. E quem diz CGTP diz PCP. Não faz qualquer sentido a actual correlação de forças -- firmada durante os anos do "processo revolucionário" -- na cúpula da central sindical onde os comunistas estão em larga maioria, remetendo independentes, socialistas, católicos e bloquistas para posições minoritárias. Algo sem paralelo na sociedade portuguesa.

Essa foi talvez a cacha mais fácil da minha carreira jornalística, à semelhança de outra -- que escrevi com meses de antecedência -- em que garantia, também no DN, que Jerónimo de Sousa seria o sucessor de Carlos Carvalhas como secretário-geral dos comunistas. Porque não há nada mais previsível do que o ritmo "lento" e "vertical" -- sem qualquer traço revolucionário -- em que ocorre o processo de tomada de decisão no PCP. E se a ascensão de Arménio Carlos acabou por ficar quase uma década no congelador isso deveu-se apenas à fortíssima popularidade de Carvalho da Silva na sociedade portuguesa, alcançada não por causa da sua ligação enquanto militante de base aos comunistas mas apesar dela.

 

Virada a página, reforça-se a ligação orgânica da central ao partido com a promoção a dirigente máximo de um membro (desde 1988) do Comité Central do PCP, vinculado às rígidas normas de disciplina interna impostas pelo "centralismo democrático". Esta subordinação -- que Carvalho da Silva nunca aceitou na integridade -- torna agora mais nítido o controlo comunista da CGTP, onde o direito de tendência é rigorosamente interdito e as "minorias" (largamente maioritárias na sociedade) servem apenas para conferir um vago verniz pluralista a uma organização que o PCP passa a tutelar de forma ainda mais inflexível.

Era isto que eu gostaria de ter visto dissecado e debatido nos dias que precederam a entronização de Arménio Carlos, o homem que se prepara para duplicar sem deslizes o discurso sindical de Jerónimo de Sousa em todos os telejornais, tal como o PEV duplica a retórica comunista na frente parlamentar. Mas isso seria talvez exigir demasiado de um certo jornalismo e de uma certa "opinião" que se esgotam na poeira do instantâneo sem repararem no essencial.

Publicado também aqui