Regresso ao Futuro
A reflexão por parte de Pedro Santana Lopes sobre o modelo mais adequado de regime político para Portugal não é de hoje, e vários foram os espaços de intervenção onde nos últimos anos os conteúdos essenciais deste "Pecado Original" - amanhã apresentado publicamente - surgiram explicitados, embora com menor detalhe.
O ponto fulcral em que assenta a reflexão do autor é este: "Qual o equilíbrio desejável de poder fáctico entre um Governo, o Presidente da República e a Assembleia? Colocada por outro político com um passado similar de altas responsabilidades de Estado, a questão já seria em si mesma interessante. Mas a circunstância de ser Santana Lopes torna a leitura duplamente mais estimulante.
Em primeiro lugar, porque o autor vivenciou como muito poucos o que significa liderar um Executivo tendo o próprio PR como activo antagonista, terminando Jorge Sampaio - como bem sabemos - por demiti-lo num acto inédito no período constitucional. Esta é, digamos, a face de Janus que encara o passado. Mas, em segundo lugar, também porque é impossível retirar o nome de Santana Lopes da lista de possíveis candidatos nas próximas eleições presidenciais, temos a face do mesmo Janus que olha para o futuro. Não sou, aliás, o primeiro a prever que a disputa entre PSL e António Costa que ocorreu nas últimas autárquicas em Lisboa pode replicar-se nessas mesmas eleições.
Entender Santana Lopes como político ambicioso tout court é não o entender de todo. O que o move não é o poder pelo poder, mas o poder pela capacidade de fazer. E nesse aspecto, a análise que faz sobre a capacidade interventiva do PR é um trabalho operativo, não especulativo.
PSL aprendeu a ser mais paciente, a deixar o tempo correr a seu favor, a permitir aos adversários políticos - os internos e os externos - que ocupem o palco que sabe hoje ser fugaz, porque montado e desmontado de acordo com a lógica do espectáculo. Este não é um livro sobre a relação institucional entre Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho, embora seja mediaticamente oportuno o timing da sua publicação. É um manual de procedimentos para o exercício do poder e não um repositório de teorias de ciência política. É, em suma, uma explanação de reflexões pragmáticas. O futuro comprovará para que serviram.