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Forte Apache

O país está salvo

Pedro Correia, 11.07.13

Escutei hoje com atenção a Antena Aberta, da RTP N. Escutei hoje com atenção a Opinião Pública, da SIC Notícias. Foi quanto bastou: adquiri a certeza de que o país está salvo.

Ouvi frases de esclarecidos "populares" como esta: "Um país tão pequeno com tantos deputados é um caos total." Ou esta: "Depois do 25 de Abril os políticos venderam o País completamente." Ou ainda esta: "É preciso um governo que faça recolher os partidos e os sindicatos às cavernas durante vinte anos!"

Com tal caldo de cultura - abençoado por uma certa intelectualidade lisboeta que não esconde o seu imeeeeenso horrrrrrror pela existência de estruturas partidárias - não admira que se multipliquem ocorrências deste género, sem encontrarem a resposta adequada dos que deviam figurar na primeira linha da defesa das instituições democráticas.

Quem grita "fascismo nunca mais" na Assembleia da República parece desconhecer que o primeiro passo de todos os fascismos é descredibilizar os parlamentos. O segundo é encerrá-los.

 

Nos fóruns da "democracia televisiva", os "populares" foram designando sem rodeios nomes de putativos chefes de um governo de "salvação nacional", correspondendo ao aparente desígnio do Presidente da República.

Fui anotando esses nomes, com minuciosa reverência: Bagão Felix, Adriano Moreira, Jorge Miranda, Vital Moreira, Silva Peneda, Guilherme Oliveira Martins, Rui Rio, Marcelo Rebelo de Sousa.

Pelo menos estes foram mencionados. Mas admito que haja muitos outros. Freitas do Amaral, que também poderia figurar nesta lista, aludiu num recente serão televisivo a "pelo menos quinze ou vinte".

 

Ditosa pátria que tantos salvadores tem.

 

Juízo!

Fernando Moreira de Sá, 06.04.13

O país político e a imprensa parecem dominadas pelo vírus da bola.


Todos os dias temos um novo grande tema a debate, uma espécie de discussão se foi fora de jogo ou se o jogador A ou B vai ser transferido ou não. No meio de tudo isto, para surpresa minha, veio o Presidente da República dizer o óbvio: o governo terá de cumprir as decisões do TC; o governo nem a meio do seu mandato chegou; o governo acabou de ver chumbada uma moção de censura. Logo, naturalmente, vai ter de continuar a governar e a procurar resolver os problemas. Em suma, Cavaco Silva, afirmando o óbvio, procura serenar algumas mentes mais dadas a conspirações. A agenda mediática está completamente a leste da realidade.


Eleições??? O que a malta quer é viver, melhor, sobreviver a esta tempestade. Juízo!

Factos

Fernando Moreira de Sá, 02.04.13

 

A Região Norte é a mais pobre de Portugal e uma das mais pobres da Europa. O seu PIB "per capita" situa-se nos 80% da média nacional e nos 60% da média europeia. Sendo, reparem, a mais especializada na produção de bens e serviços transacionáveis e a de maior orientação exportadora a nível nacional. Algo verdadeiramente espantoso.

 

Além disso, para piorar o cenário e contrariar algumas ideias erradas, é a região mais penalizada pela aplicação dos fundos estruturais. Agora reparem: a Região Norte apresenta persistentes excedentes da sua balança de bens e serviços (e esses excedentes são os maiores, em termos absolutos: 5 milhões de euros em 2012). Factos.

 

Por fim, a Região Norte continua a aguardar que o governo nomeie um presidente para a CCDRN (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte). É verdade. O anterior presidente faleceu a 14 de fevereiro.

 

Factos. Apenas factos...

A Encruzilhada

Fernando Moreira de Sá, 01.04.13

Nos últimos dias muito se escreveu sobre o putativo cenário de eleições antecipadas (ou um governo de iniciativa presidencial). Pensando com a máxima frieza e o distanciamento possível, aqui ficam as minhas dúvidas.

 

Temos cinco partidos (PSD, PS, CDS, PCP e BE) com votos e "máquinas partidárias" suficientes para elegerem deputados. Cinco. Desses, três defendem o caminho imposto pelos credores, a troika. São eles o PSD, o PS e o CDS. Os outros dois, PCP e BE dizem defender o caminho oposto. Os primeiros, independentemente de uma ou outra nuance (mais estratégica que outra coisa qualquer), entendem que Portugal deve permanecer no euro, na União Europeia e cumprir os seus compromissos com os credores. Os segundos, defendem a imediata saída do euro, em matéria de UE são suficientemente vagos para não se ter certezas e quanto aos compromissos com os credores... bem, entre renegociar, um perdão e o mais radical "não pagar" vai um pulinho. Isto, da forma mais reduzida e simplista possível. Bloco e PCP representam, a acreditar nas sondagens, menos de 20% dos eleitores. Pelo menos, por agora.

 

A receita que a troika nos prescreveu, como se está a ver, não resultou. Na minha opinião, a solução apresentada pelo Bloco e pelo PCP seria um desastre. Assim sendo, seria natural, perante o actual estado da nossa economia, que existisse uma alternativa. E que qualquer um dos três restantes partidos, a solo ou em conjunto, fossem os primeiros a apresentar um caminho alternativo. Mas não. As suas agendas estão desfocadas da realidade. As deles e as nossas. Aqui nossas significa: comentadores, bloggers, jornalistas e outros que tais (pedindo desde já desculpa pela generalização, algo sempre injusto). Por estes dias, com os números da economia profundamente negros, com a tragédia do crescimento constante do desemprego e as notícias aterradoras vindas do Chipre, o "planeta mediático nacional" discute o renascimento do comentador Sócrates, as palavras do CDS sobre a remodelação e as inacreditáveis fugas de informação do Tribunal Constitucional. Ou seja, estamos a falar uns para os outros, em circuito fechado. No Portugal "profundo" a discussão é outra: os que ainda guardam algumas poupanças nos bancos, perguntam a quem sabe (ou a quem julgam que sabe) o que fazer ao dinheiro (tirar do banco e meter em casa? Abrir conta no estrangeiro?). Boa parte dos jovens discute com os pais se partem já para Angola, Brasil, Moçambique ou qualquer outro país. Os mais velhos procuram sobreviver e os empresários evitam fechar perante semelhante esbulho fiscal. A esperança, essa, fugiu para parte incerta e o Portugal mediático transformou-se numa caricatura.

 

Uma verdadeira encruzilhada...

 

 

Nota: Aqui ao lado, em Espanha, fruto de mais uma bronca com dinheiros públicos, os ERE - Expediente de Regulación de Empleo, envolvendo políticos, empresários e sindicalistas (UGT e CCOO) colocou na agenda a questão da transparência dos dinheiros dos sindicatos. A UGT e a CCOO (a CGTP espanhola) receberam mais de 30 milhões de euros de dinheiros públicos sem terem realizado nenhum trabalho. Os números são incríveis: o governo da Andaluzia entregou aos sindicatos (a troco de garantir a paz social) mais de mil milhões de euros entre 2001 e 2010. As duas centrais sindicais receberam, só em 2011 e 2012, mais de 220 milhões de euros de dinheiros públicos sem qualquer controlo. A prisão de um sindicalista nos últimos dias, fez acordar a sociedade  civil espanhola para esta realidade. É caso para perguntar: e em Portugal, tudo normal??? 

O que é nacional é bom

Joana Nave, 04.03.13

Há uma mania bem portuguesa de desvalorizar o que é nacional. Este enviesamento começa logo quando achamos que somos um país pequenino, que não temos pessoas capazes de almejar lugares de topo, porque erguemos a bandeira da dor e do sofrimento, em vez de nos focarmos nas características únicas que possuímos e que nos colocam a par dos grandes conquistadores do mundo.

Desde miúda que gosto de cantar e a música popular portuguesa foi aquela que sempre me soou melhor ao ouvido, por ser tão simples reproduzir as estrofes cantadas em bom português. Porém, sempre senti uma grande discriminação por parte das pessoas ditas cultas, que menosprezavam a música portuguesa em detrimento da estrangeira, que enalteciam pela sua melodia e letras tão profundas e sentidas. Claro que se alguém traduzisse uma dessas letras iria compreender que nada fazia sentido, mas ainda assim a justificação estava no facto de em português não soar tão bem.

Ao fim de três décadas de existência continuo a defender a língua portuguesa como a mais rica, mais vasta e mais bonita de todas as línguas, a sexta mais falada no mundo. Assim sendo, defendo que se escreva em português e, se da escrita se fizer música, ainda melhor. Na realidade, há músicos portugueses que escrevem letras lindíssimas e que entram facilmente no ouvido pela harmonia da música que lhes dá vida. Não é fácil agradar ao povo e, por isso, quem quer ter retorno monetário pelo seu trabalho tem de agradar às massas e criar músicas que encham as festinhas da aldeia, assim como participar nos programas da manhã e da tarde, que ocupam a vasta população de reformados e das muitas donas de casa que há por esse país fora.  Contudo, eu ainda defendo aqueles músicos que se dedicam a escrever letras elaboradas e consistentes, que agradam a um nicho com pouco potencial de vendas, mas que representa a boa música que é feita no nosso país.

Um exemplo bem recente de coisas interessantes que se fazem na nossa língua é a música “A Chata” dos Ultraleve. Com uma letra extremamente divertida, uma melodia que lhe confere ritmo e cor, pode muito bem funcionar como um ícone da música portuguesa, que não é só fado e bailarico, mas também bandas rock e pop e tudo o que faz furor lá fora, onde não se cultiva a história do desgraçadinho popularucho, tão tipicamente português.

Perceber os sinais III

Fernando Moreira de Sá, 03.03.13

Ontem Portugal gritou.

 

Desta vez não foi um silêncio ensurdecedor.

Ontem, no Porto, em Braga, em Vila Real, em Coimbra, em Faro, Portimão, Castelo Branco, Évora, Lisboa e outras mais, os portugueses e as portuguesas desceram ruas e juntaram-se nas suas praças.

Para muitos comentadores e outros tantos desconhecedores da realidade em que Portugal e os portugueses mergulharam, foi uma manifestação contra a troika, o Governo e o Presidente da República.  Não foi tão redutor.

 

Os portugueses foram para a rua pelo desespero em que estão mergulhados. Vidas interrompidas. Os mais velhos por se verem espoliados de parte substancial da sua reforma a que tinham e continuam a ter direito. Os mais jovens por se terem apercebido de que não passou de uma miragem a oportunidade que lhes foi vendida pelo canudo obtido. A geração da minha irmã pela angústia de não saberem que futuro dar aos filhos e como sustentar o dia a dia. As crianças pelo desespero que sentem nos olhares dos seus progenitores. Os pequenos e médios empresários por estarem em pânico perante o esbulho fiscal que lhes retira qualquer esperança de recuperação. A minha geração por não saber, na realidade, se fica ou parte.

 

Todos estes portugueses, a esmagadora maioria dos portugueses, olha para a realidade quotidiana e ficam mudos de espanto: o ministro das finanças, na sua frieza imperturbável, não acerta numa previsão, num número que seja. Várias vozes o avisaram, publicamente, que quanto mais se sobe os impostos, mais diminuiu a receita. Nada. O resultado está à vista.  O completo desastre.

Gaspar faz-me recordar aqueles professores universitários, apelidados de génios deste mundo e do outro que, quando numa sala de aulas, falam para os alunos do alto da sua soberba e os estudantes, atónitos, não percebem palavra do que o homem diz. Metade desiste e a outra metade faz um enorme esforço. No final, a taxa de reprovação é esmagadora e a culpa, obviamente, não é do génio. São os alunos que não se esforçaram por aprender. O problema é que Portugal não é uma cadeira de uma qualquer licenciatura nem os portugueses uma mera turma de universitários.

 

Ao princípio pensei que o problema do Governo era a comunicação. Hoje, sinceramente e sem meias palavras, percebo o erro. A questão é outra. Temos um Governo, legitimamente eleito pela maioria dos portugueses que expressaram a sua vontade votando no PSD e no CDS, completamente refém de um ministro das finanças e sua “tropa de elite técnica” desfasados da realidade. Não conhecem o país, não conhecem os portugueses e do pouco que não ignoram, detestam profundamente. No fundo, no fundo, nós metemos-lhes asco. Para eles, somos nós que estamos mal, que estamos errados, que somos umas nulidades.

 

A maioria dos portugueses acreditou em Pedro Passos Coelho. Na suas ideias, na sua forma de estar e na esperança que transmitia. Foi nele que os portugueses votaram. Não foi em nenhum Gaspar. Foi nele que depositámos o nosso futuro. A esmagadora maioria dos portugueses sabia, perfeitamente, quem foram os culpados da situação em que Portugal se encontrava em 2010 e disso deram a devida nota nessas eleições. Os portugueses sabiam, que ninguém se iluda, que a situação que Pedro Passos Coelho iria encontrar seria bem pior do que aquilo que nos fora contado. Sabiam, não façam dos portugueses nem burros nem tolos. Até podem aparentar, fruto de cedo terem aprendido que, em relação a certas espécies, é conveniente alguma dose de manha. A Pedro Passos Coelho só se pedia seriedade e competência. Não era pouco. Era o necessário para salvar os dedos.

 

Por isso mesmo, a maioria dos portugueses que ontem foi para a rua, fizeram-no como um aviso. Um último aviso. A quem? À troika? Não, essa é menor nesta equação. Ao Governo? Não, esse não conta para este campeonato. Ao Presidente da República? Não, esse, para mal de todos nós, deixou de existir no dia em que se lamentou da sua reforma. Não, a maioria dos portugueses foi para a rua dar um último aviso a quem pode, ainda, resolver: Pedro Passos Coelho.

 

Os portugueses, a maioria, não quer eleições. Não acredita que Seguro seja solução e teme soluções radicais. Estamos mal, muito mal mas, felizmente, ainda estamos vivos.

 

Desta vez, foram pacificamente para a rua por ainda lhes restar um mínimo de esperança. A esperança de que Pedro Passos Coelho assuma que é ele o Primeiro-ministro de Portugal, que é ele que comanda a Nação e é dele a responsabilidade primeira. A ele cabe escolher ministros políticos para fazer política e técnicos competentes para auxiliar os políticos a executar as medidas necessárias para recuperar a economia e, com ela, a criação de postos de trabalho, de riqueza. Só dessa forma se pagam dívidas. E só dessa forma, quem nos emprestou volta a ter esperança de receber. O pior para os credores é o incumprimentos ou os perdões de dívida...

 

Caso contrário está tudo perdido. O Governo irá cair, Portugal mergulhará numa das piores crises políticas e económicas da sua história. Os portugueses não iriam perdoar nem ao PSD nem ao CDS e o castigo nas urnas, já em outubro, seria exemplar. Será o princípio do fim. Sem perdão.