João Miranda, um osso duro de roer e pessoa que considero muito, conta uma parábola, que transcrevo:
"Aqui há uns anos o ministro de um país moderno decidiu dinamizar as exportações. Foi ter com um fabricante de frigoríficos com quem travou o seguinte diálogo:
Ministro: Olhe lá, o governo tem um projecto para dinamizar as exportações. Verificamos que não exportámos para o Pólo Norte, verificámos ainda que o Pólo Norte tem a menor quantidade de frigoríficos do mundo. Vai daí surgiu uma ideia: vamos exportar frigoríficos para o Pólo Norte. Quer ser o nosso parceiro?
Fabricante de frigoríficos: Depende. Dão-me umas cláusulas leoninas no contrato?
Ministro: Não pode ser. Temos que defender o interesse público.
Fabricante de frigoríficos: Então não estou interessado.
Ministro: Ok. Dou-lhe 2 cláusulas leoninas.
Fabricante de frigoríficos: 4
Ministro: 3
Fabricante de frigoríficos: Ok. De acordo.
Ministro: Negócio fechado?
Fabricante de frigoríficos: Ainda não. Só uma perguntinha: quem fica com o risco de os frigoríficos não se venderem?
Ministro: Você, claro. Você é que é o empreendedor.
Fabricante de frigoríficos: Bem, então não me interessa.
Ministro: Ok. Nós ficámos com o risco.
Fabricante de frigoríficos: Negócio fechado."
A parábola de João Miranda acaba aqui. Porém, acho que não devia. E continuo-a, por minha conta e risco:
Fabricante de frigoríficos: Ei, Ministro, espere lá. E nos próximos governos, que garantias tenho eu de que os novos ministros sejam assim gente com visão, e respeitem o nosso acordo?
Ministro: Ó homem, você não vai fazer um contrato comigo, mas sim com o Estado. E quem o vai redigir é quem nós sabemos - fica uma coisa à prova de bala. E não se aflija: o negócio vai correr bem, era preciso que o País ficasse à beira da bancarrota para o Amigo arriscar realmente alguma coisa. E isso não vai suceder, pois não?
Fabricante de frigoríficos: Claro que não. Negócio fechado.