Amanhã, dia 20 de Dezembro, os trabalhadores da RTP Porto realizam uma vigília em frente às instalações da RTP no Monte da Virgem, pelas 19h. Infelizmente, a essa hora, estou em Vigo e não posso estar presente. Nem adiar. Caso contrário estaria presente, com a família e amigos.
O Alexandre, aqui no Forte Apache, escreveu sobre o tema com algum sarcasmo. O mesmo que encontrei nalguns outros poisos das redes sociais. Poucos, é certo. Como tenho enorme respeito pelo Alexandre e sempre defendi a liberdade de expressão, não vou criticar o seu escrito. Vou, isso sim, explicar o que está em causa. Mesmo depois de já ter escrito sobre o tema, também no Forte Apache.
A questão do "Praça da Alegria" não se coloca no âmbito da maior ou menor qualidade do programa. Nem a comparação com o "Câmara Clara" é aqui chamada. Não. A verdadeira questão é outra. O esvaziamento, constante, do Centro de Produção do Porto (e aqui Porto deveria ser substituído por Norte). Em termos de produção, retirar o "Praça da Alegria" é o mesmo que decapitar o CPP. Numa altura em que se discute tanto economia, esta decisão é estranha (e estou a ser simpático). Basta ler o estudo publicado a 6 de Setembro no Jornal de Negócios. Permite-me, Alexandre, que cite uma parte fundamental do mesmo:
O entretenimento é deficitário", um artigo do Jornal de Negócios de 6 de Setembro deste ano, fazendo contas à rentabilidade dos programas da RTP, apontava dois formatos-chave produzidos na RTP Porto (Jornal da Tarde e Praça da Alegria) como estando no "top três" dos mais rentáveis do serviço público de televisão.
Em 2011, o Jornal da Tarde gerou um lucro de 8.58 milhões de euros de lucro enquanto a Praça da Alegria gerou 3.88 milhões de euros (no total de ambos, a RTP Porto gerou um balanço positivo de mais de 13 milhões de euros).
Note-se que, no caso da Praça da Alegria, o programa surge mesmo em claro contraciclo relativamente aos formatos de entretenimento.
Além disso, vamos a outros factos. Ao longo dos últimos meses, a Administração da RTP tem vindo a encerrar várias delegações, sejam elas referentes a televisão ou a rádio (outro caso de lógica duvidosa foi o encerramento da delegação da RDP em Braga). Já para não falar no esvaziamento do CPP, ao longo dos últimos anos, contrariando a lógica financeira - aqui tanto na área da programação como na da informação. É todo este somatório de atitudes, de decisões, que leva a este "levantamento" na questão do "Praça da Alegria" e, aqui chegados, somos confrontados com algo que o Alexandre bem conhece, fruto da sua actividade profissional (onde é um dos melhores): o spin.
Quando a Administração da RTP decide retirar do CPP o citado programa, faz algo extraordinário: justifica-se afirmando que o vai substituir por um "grande projecto". Na nossa linguagem profissional a coisa pode traduzir-se assim: "vamos retirar o programa mas.....mas....não vamos decapitar a RTP Porto, não, que ninguém pense semelhante pois até temos um grande projecto para a RTP Porto". Sobre o mau spin nem preciso de me repetir, já disse tudo o que tinha para dizer no meu outro post. Tretas. Só não vê quem não quer.
O que não esperava a Administração da RTP, pensando que atirar para o ar a ideia desse "grande projecto" era bastante, foi a reacção da sociedade civil do Norte. Confesso, até eu, quando escrevi sobre o tema, estava irritado com o silêncio de muitos responsáveis da Região. Foi com agrado e alívio que logo no início desta semana assisti à posição do PSD Cidade do Porto, de Braga 2012, do Carlos Abreu Amorim, do Presidente do Grupo Parlamentar do PSD. Eles juntaram-se às vozes de Luís Filipe Menezes, do Vice-presidente da Câmara de Santa Maria da Feira, dos deputados do PS do Porto, entre outros. Até a Distrital do Porto do PSD se envolveu. Um após outro, fizeram ouvir a sua voz. Chamo a atenção para a reacção dentro do PSD por ser o principal partido do Governo, o que valoriza a "causa".
Pensar, Alexandre, que tudo isto se resume ao "Praça da Alegria" é um erro de análise. Não, é apenas simbólico. O que aqui está em causa é o CPP, é existir serviço público de televisão a Norte (ainda por cima quando fica mais barato ao Estado); é ser sempre o Norte. Sempre. É, igualmente, o quererem fazer de nós parvos com tiradas como a do "grande projecto". De falsos "grandes projectos" já nós estamos vacinados. Olha, Alexandre, é tão simbólico como foi, naquele tempo, o Coliseu do Porto. O que estava em causa não era o Coliseu passar a ser local de culto de uma qualquer igreja. Era aquilo que representava a "instituição Coliseu do Porto" para todos nós. Como agora, o que está em causa não é o "Praça da Alegria", é o que representa o CPP para o Norte.
Termino, fazendo minhas as palavras do insuspeito Nuno Gouveia:
Ainda ninguém percebeu o que vai acontecer à RTP. Tantos foram os modelos apresentados que é difícil tentar adivinhar qual o rumo que o governo pretende implementar. Se há processo mal gerido (e haverá outros), o caso da RTP afigura-se um exemplo da má estratégia de comunicação e de falta de clareza de posições. Pior, as últimas notícias sobre o possível comprador dos 49% (e que me parece um péssimo modelo) não são nada simpáticas para isto tudo. Mesmo quem é a favor da privatização da RTP só pode torcer o nariz a esta confusão toda. Resta esperar que no fim o governo surpreenda. Confesso que não tenho grandes expectativas.
Se, pessoas como o Nuno Gouveia, o Ricardo Almeida, o Luís Montenegro, o Carlos Abreu Amorim ou eu, que sempre temos estado na primeira linha de apoio ao Governo na maioria das matérias, estamos agora a defender o CPP da RTP, não é por mero capricho ou por uma qualquer "paixão assolapada" pelo "Praça da Alegria". Não. É para evitar um erro. Um grave erro.