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Forte Apache

O direito a saber tudo ou em boca fechada não entram moscas

José Meireles Graça, 22.02.12

Estive quase, quase a concordar com este texto de Daniel Oliveira.


Primeiro porque o pano de fundo destas coisas deve ser que os abusos de liberdade de imprensa e de opinião são sempre menos perigosos do que os controles a priori de uma e outra; depois porque o excesso de zêlo de uma ignota funcionária que dá pelo nome de Maria Rui Fonseca me desperta o horror nato à autoridade prepotente; e finalmente porque o ministro Schaueble, não sendo um cidadão comum, deveria talvez olhar em volta antes de soltar a franga das conversas intempestivas.


Dar o dito por não dito seria para mim uma maçada: não estou habituado, porque não preciso de estar, mas já me aconteceu mudar de opinião, o que acontece a toda a gente, e reconhecê-lo, o que acontece a muito menos.


O próprio Daniel, porém, oferece-me a salvação, quando diz: "... E eles (os jornalistas) recolhem as boas e as más imagens, e não apenas aquelas que os políticos querem que os seus eleitores vejam".


Declarações no âmbito de conversas desejadas inocentemente como privadas, mesmo entre políticos, não são a mesma coisa que imagens, mesmo que estas sejam por vezes eloquentes: se amanhã o Daniel confidenciar a um dos seus colegas do Eixo do Mal alguma coisa que não diria publicamente, não se apercebendo que os microfones estavam ligados, acharia bem a divulgação?


Eu não.

O hemorroidal

José Meireles Graça, 10.02.12

Dois políticos eleitos têm ou não têm direito a manterem conversas privadas, mesmo que sobre assuntos de interesse público?


Eu acho que têm, salvo havendo indícios da prática de crimes; e entendo que o wikileaks desbragado em que se está progressivamente a transformar o espaço público vai levar a que os políticos e diplomatas tenham que ter formação de agentes secretos para poderem desempenhar o seu papel.


Fosse eu mais coerente e recusar-me-ia a comentar uma conversa cuja gravação foi, a meu ver, ilegítima.

Mas já percebi que dizer isto é cuspir contra o vento: espreitar pela fechadura cabe, parece, no direito a informar; e tempos virão em que estaremos ao corrente da marca e feitio da roupa interior dos nossos representantes, se é que não seremos inteirados da possível influência do hemorroidal nesta ou naquela decisão política.


A conversa vai ser glosada - já está a ser - da forma previsível consoante o alinhamento pró ou anti-governo de cada um.


Por mim, por ora, sinto apenas compreensão solidária e vergonha: compreensão por quem, no nosso interesse, se sujeita a um papel que não pode ser descrito de outra maneira senão como humilhante; e vergonha pelo negócio abjecto que foi praticado em tantas eleições e que nos trouxe até aqui - comprar votos com dívida.