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editado por Pedro Correia a 8/9/12 às 23:18
Ouvi num noticiário o melhor exemplo do que foi e ainda é a estratégia socialista para Portugal, através da crítica de um autarca socialista à suspensão da autoestrada do Baixo Alentejo com a seguinte fundamentação:
A autoestrada do Baixo Alentejo é estruturante por fazer a ligação ao aeroporto de Beja.
Em resumo: depois de um elefante branco, há que lhe fazer um pedestal.
Mesmo assim, muitos ficam felizes com a esta estratégia suicida.
editado por Pedro Correia às 17:27
Os mercados foram malvados. "Foram": no passado. A maldade dos mercados foi não terem estabelecido diferenças entre as taxas de juro da dívida alemã e as da dívida portuguesa (e grega e irlandesa e... e tantos "e"s) há muito mais tempo. Os mercados foram demasiado permissivos durante muitos anos e isso foi mau. Agora que estão pela primeira vez a funcionar com um módico de discernimento, impondo disciplina mínima aos países é que as pessoas começaram a queixar-se deles e a dizer que são maus! As gentes não poderiam ser mais injustas para com os mercados. Estes permitiram o financiamento de Estados sociais e socialistas sobredimensionados, suportaram todos os populismos eleitoralistas e todos os mega-projectos que visavam exclusivamente os cofres das empresas amigalhaças (nomeadamente as da construção civil) e pagaram ainda todos os "direitos sociais" exigidos e imagináveis. E agora quando a farra social-socialista-populista chega ao fim é que as pessoas se queixam!
Quanto menos um país tem, mais se faz com esforço e mérito. Atente-se no exemplo de Cabo Verde. Portugal é um caso estranho, porque embora uma boa parte dos seus recursos não sejam próprios (os fundos da Europa, o endividamento internacional, as remessas dos emigrantes, "o ouro do Brasil"), comportou-se sempre como se fosse rico. Não é e esta triste verdade só agora está a ser revelada - pela força e à bruta.
Mas ainda há muitos que não querem ver e nem à bruta aceitam a realidade. Chamam-se "socialistas".
É interessante que o partido português mais à direita do parlamento nacional consiga um dos seus melhores resultados (segundo lugar) precisamente na região portuguesa mais influenciada pelo "socialismo" enquanto multiplicação dos factores despesismo, endividamento e favoritismo aos amigalhaços.
Será caso para o cliché "os extremos atraem-se"? É possível.
Nos primeiros dois dias de congresso, virados para o partido, o PS tinha o palco dominado pelo vermelho vivo. Hoje, dia em que António José Seguro promete "falar para o País", o vermelho deu lugar ao verde. É uma simbologia muito reveladora: os socialistas, quando saem dos círculos concêntricos do debate interno, são forçados a pôr de lado a retórica "antiliberalismo" e "antimercados", adoptando as receitas de governação da direita liberal neste tempo em que o nosso destino está intimamente ligado ao do conjunto da Europa. Repare-se no que tem sucedido além-fronteiras: todos os maiores países europeus são hoje governados por partidos do centro ou da direita. A excepção, até agora, tem sido a Espanha. Mas é uma excepção já com fim anunciado: 20 de Novembro, data em que o Partido Popular, de Mariano Rajoy, sairá como vencedor mais que provável das legislativas.
Manuel Alegre fez neste congresso de Braga a mais estimulante intervenção de todas quantas pude escutar, questionando por que motivo, em tempos de grave crise económica, os eleitores europeus preferem dar o poder à direita. Para obter uma resposta a esta pergunta basta analisar o que foi dito pelos congressistas em Braga contra o Governo PSD/CDS: na esmagadora maioria dos casos essas críticas poderiam ter sido dirigidas com razão acrescida ao anterior Executivo, liderado por José Sócrates, que conduziu o País a uma situação de emergência financeira. Acontece que no anterior congresso socialista, realizado apenas há cinco meses, quase ninguém proferiu o menor reparo, como se vivêssemos no melhor dos mundos - o que retira autoridade moral às actuais vozes críticas.
Comparemos com Espanha: quase tudo quando os socialistas criticam agora em Portugal tem vindo a ser aplicado no país vizinho, começando pela eventual imposição de limites ao défice na Constituição: esta medida, que o PS contesta, foi já adoptada entre os espanhóis por iniciativa de Zapatero. E já nem falo do caso grego, onde o Executivo socialista aplica hoje as mais draconianas medidas de contenção orçamental de que há memória - aliás sem evidentes resultados práticos.
Isto, de algum modo, responde à perplexidade de Alegre: entre o original e a cópia, os eleitores europeus preferem o original. Os socialistas precisarão de novas receitas governativas para liderarem futuros ciclos de poder. O problema é que nenhum deles as inventou ainda.
Imagem: cartaz do Partido Socialista Italiano (1890)