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Forte Apache

Fumar uma caneta

José Meireles Graça, 22.03.13

 

 

No início de Fevereiro, contei como fui impedido de fumar uma caneta. A história teve seguimento. No dia 18 de Março, recebi da TAP, por email, a seguinte informação:

 

"Exmo. Senhor José Graça,

 

Fazemos referência ao comentário de bordo que preencheu por ocasião da sua viagem entre Lisboa e Praga no voo TP532 do dia 14 de Abril, a cujo conteúdo dedicámos a nossa melhor atenção.

 

Agradecemos o facto de nos ter comunicado as suas observações e apresentamos o nosso pedido de desculpas pelos possíveis transtornos que tal situação lhe possa ter causado, pois a opinião dos nossos Clientes é fundamental para a aferição da qualidade de serviço que pretendemos disponibilizar, a todos os níveis.

 

Apesar de os cigarros electrónicos não serem proibidos por lei, o seu uso a bordo pode causar problemas e o seu consumo não é permitido a bordo dos aviões da TAP. No entanto, podem ser transportados na bagagem de mão. Para mais informações poderá consultar o site da TAP, www.flytap.pt, através do link: http://www.flytap.com/Portugal/pt/planear-reservar/preparar-viagem/bagagem/bagagem-proibida.

 

Mais informamos que na TAP Portugal é proibida a utilização do cigarro electrónico por razões de segurança. É um dispositivo que poderá induzir em erro outros passageiros e levar à utilização indevida do consumo de tabaco. Como alternativa, existem pastilhas de nicotina que poderão ser solicitadas à tripulação.

 

Uma vez que um dos nossos mais importantes objectivos consiste em satisfazer, ou mesmo antecipar, as expectativas dos nossos Passageiros, solicitamos-lhe que não hesite em contactar-nos noutras situações.

 

Esperando que um próximo voo com a TAP Portugal venha a ser totalmente satisfatório, aproveitamos esta ocasião para lhe apresentar os nossos melhores cumprimentos.

 

Tânia Chuvas*"

 

Primeiro respondi:

 

"Exma. Senhora Tânia Chuvas*,

 

Acuso a recepção do e-mail de V. Exª de 18 de Março corrente.

 

Diz V. Exª que "Apesar de os cigarros electrónicos não serem proibidos por lei, o seu uso a bordo pode causar problemas e o seu consumo não é permitido a bordo dos aviões da TAP". Esta afirmação é extraordinária: mudei para os "cigarros electrónicos" a sugestão de um passageiro frequente de várias companhias aéreas que, por causa da proibição do fumo nos aviões e a conselho do pessoal de bordo da KLM, recorreu a esse expediente. Passageiro, aliás, que viajou recentemente na TAP, de Copenhague para Lisboa, "fumando" alegremente sem ser incomodado.

 

A asneira, infelizmente, também não é proibida por lei, pelo que ocorre lamentar que a TAP não corrija o descuido do legislador, proibindo-se a si mesma de abundar nos dislates. Como abaixo se verá:

 

Diz V. Exª que "na TAP Portugal é proibida a utilização do cigarro electrónico por razões de segurança. É um dispositivo que poderá induzir em erro outros passageiros e levar à utilização indevida do consumo de tabaco. Como alternativa, existem pastilhas de nicotina que poderão ser solicitadas à tripulação". O cigarro em questão liberta apenas vapor de água, que se dissipa imediatamente em razão da extrema secura do ar ambiente; não se parece com um cigarro, antes com uma esferográfica, pelo que o único comportamento que pode induzir nos outros passageiros é um desejo irreprimível de escrever artigos de jornal, novelas, ou listagens de proibições da TAP, estas nos voos mais longos.

 

Sobram duas perguntas: De onde vem a legitimidade da TAP para proibir comportamentos que não ofendem nem a lei nem o senso? E donde provém a autoridade para declarar com naturalidade que os clientes (melhor: contribuintes) da TAP são uma colecção de crianças inimputáveis que, se a TAP não velar por elas, imediatamente desatam a macaquear o vizinho do lado?

 

Finalmente, V. Exª assina com nome, mas invoca normas da TAP que alguém aprovou. Seria possível informar-me dos respectivos nomes? Não é para satisfazer uma curiosidade indevida; é para lhes manifestar a minha opinião, preto no branco, sobre as respectivas capacidades cognitivas e comerciais.

 

José Meireles Graça"

 

A seguir fui jantar.

 

__________

 

* Rebaptizada por mim

 

A imagem do vício

José Meireles Graça, 02.02.13

De regresso ao terrunho, num voo de três horas, vou de quando em vez aspirando a minha caneta electrónica. Chamo-lhe assim, e não cigarro electrónico, porque não acende uma luzinha a fingir a brasa do cigarro, tem um depósito onde está a mistura com nicotina (escolha minha, pode não ter) e parece uma caneta.

 

As aeromoças (agora, no geral, aerobalzaquianas) ignoram-me, como é normal. Excepto uma, já a viagem adiantada, que me aborda para dizer que tinha reparado no "fumo", ao passar, e que não é permitido fumar. Significo-lhe que não é "fumo", mas sim vapor de água. Para exemplificar, tiro uma baforada, que rapidamente se dissipa -  dentro dos aviões o ar é, parece-me, seco.

 

A cordata mas firme senhora insiste, esclarecendo que o pessoal tinha instruções da TAP Portugal para proibir o uso daqueles instrumentos.

 

Respondi que, salvo melhor opinião, a TAP não tem competência para proibir comportamentos que não sejam perigosos nem afectem ou incomodem terceiros, ao que a senhora retorquiu que poderia apresentar reclamação, existindo um impresso para o efeito.

 

Preenchi a papeleta, onde contei esta história. Conto com três reacções possíveis, por ordem decrescente de probabilidade: Não respondem; invocam uma disposição qualquer da UE, da IATA ou doutro organismo metediço; argumentam especiosamente a defender a bondade da "proibição".

 

Tentarei, quando tiver que voltar a usar a TAP, ser mais discreto. E creio que terei no futuro que preencher umas quantas papeletas. Escrever não é para mim grande sacrifício; aturar palermices sim.

Mais uma do Relvas (em inglês técnico)

jfd, 18.12.12
TAP is the “Best Airline in Europe” and was honoured with the respective award in Los Angeles last December 13. A few hours earlier, the airline was also recognised as “World’s Leading Airline to South America” in New Delhi. These awards – two of the most important in the travel and tourism industry – recognise TAP’s prestige and international reputation. (...)

I wonder why, senhores pilotos...

jfd, 19.09.12

Os mais recentes desenvolvimentos na privatização da TAP estão a deixar os pilotos preocupados. Para estes trabalhadores, que reclamam ter direito a uma participação no capital da transportadora aérea, as desistências do grupo IAG e da colombiana Avianca Taoa mostram que a companhia nacional "tem mais problemas do que aqueles que são dados a conhecer aos portugueses". Restam três investidores na corrida à compra da TAP, que o Governo quer fechar este ano.

Importa-se de repetir? (X)

Sérgio Azevedo, 04.08.12

António José Seguro afirmou hoje, a propósito da possível privatização da TAP, que "a TAP não é do Governo, a TAP é do país". O que me leva a perguntar:

 

De quem eram os 454 milhões de euros atribuídos, entre 2008 e 2010, à Fundação para as Comunicações Móveis?

De quem eram os 16.800 milhões de euros de divída do sector dos transportes?

De quem eram os milhares de euros gastos em inaugurações de troços de estradas negociadas sob a forma de PPP que depois deram no que deram?

 

Do Governo ou do país?

 

De braços abertos!

jfd, 03.08.12
E foi aprovada em CM a privatização da nossa empresa de aviação de bandeira:

O Conselho de Ministros aprovou a operação de reprivatização da TAP Transportes Aéreos Portugueses, S.A., (TAP) através da reprivatização do capital social da TAP - Transportes Aéreos Portugueses, SGPS, S.A. (TAP - SGPS, S.A.).

Neste processo de reprivatização está em causa uma empresa que apresenta forte ligação ao país, ligação essa que importa manter, afigurando-se por isso relevante privilegiar a manutenção do seu pendor característico enquanto "companhia bandeira".
Esta operação, ao incidir sobre o capital social da própria sociedade gestora de participações sociais do Grupo TAP, assenta numa estratégia integrada de alienação, que se considera especialmente adequada a potenciar a maximização do valor da TAP.

O modelo adotado para esta operação de reprivatização visa potenciar a participação e o investimento de um ou mais interessados que venham a tornar-se acionistas de referência no capital social da TAP - SGPS, S.A.

O processo de reprivatização do capital social da TAP - SGPS, S.A., integra duas fases:

- A reprivatização, constituída por uma ou mais operações de aumento de capital da TAP- SGPS, S.A., a subscrever por um ou mais investidores, bem como pela alienação de ações representativas do capital social da TAP - SGPS, S.A., a um ou mais investidores;

- A reprivatização constituída por uma oferta pública de venda de ações representativas do capital social da TAP - SGPS, S.A.
As operações previstas nas duas fases podem ser efetuadas total ou parcialmente, numa ou mais vezes, simultaneamente ou em momento anterior ou posterior entre si.

As operações realizadas no âmbito da fase de reprivatização referida em primeiro lugar seguem a modalidade de venda direta a um ou mais investidores que, em resultado da mesma, venham a tornar-se acionistas de referência da TAP- SGPS, S.A..

A fase de reprivatização referida em segundo lugar realiza-se mediante oferta pública de venda de ações representativas do capital social da TAP - SGPS, S.A., reservadas para aquisição por parte dos trabalhadores.

Privatização da TAP

Ricardo Vicente, 16.12.11

A propósito deste post de JFD...

 

Esta coisa de os pilotos quererem uma parte na privatização tem muito que se lhe diga. Estão dispostos a pagar mais do que os outros potenciais investidores? Se não, como é que é isso de terem "direito" a 20% da empresa? Então se eu quiser comprar acções da TAP na futura privatização vou defrontar-me com 20% das acções previamente bloqueadas e isto mesmo que eu esteja disposto a oferecer mais pelas mesmas? Há aqui um problema qualquer de igualdade: uma empresa pública, que é portanto "de todos", aquando da sua privatização, vai parar às mãos de alguns pré-determinados e sem que mereçam (isto é, sem que paguem mais)? Estamos na Rússia do Boris Yeltsin ou quê?

 

E não é só de igualdade, também o problema de defender os interesses do Estado, isto é, mais uma vez, de todos: uma privatização deve maximizar as receitas para o Estado ou, então, devem garantir outro tipo de contrapartidas de igual valor. Estabelecer que 20% de uma empresa estão à partida vendidos a determinado grupo, independentemente de este pagar o preço mais elevado, é lesivo para o Estado.

Existe alguma lei que diga que os trabalhadores têm um direito preferencial na privatização de uma empresa pública? E isso mesmo que se trate de um sector de actividade pouco concorrencial?

Ainda um problema económico de promover os incentivos errados: numa empresa que serve mercados com pouca concorrência (viagens para as ilhas, por exemplo) e em que importa reduzir custos - fará sentido haver confusão entre parte dos accionistas e uma parte importante - e cara - dos trabalhadores?

 

Já não basta aos pilotos da TAP o exercício abusivo que fazem do direito à greve e exigem ainda "direitos" que não existem e, claramente, não devem existir?

TAP 2

jfd, 15.12.11

No seguimento deste meu post, o que se seguiu nos dias seguintes foi interessante.

Fernando Pinto fez o seguinte comunicado:

Extremamente sóbrio e correcto a meu ver.
Perto da greve soubemos que a mesma tinha sido desconvocada pelos senhores pilotos. Sem antes a TAP ter perdido cerca de 10 milhões de euros. Foi o preço da birra.
No comentário seguinte, o sempre altivo Miguel Sousa Tavares exigiu saber no que teria cedido o Governo para que aqueles tivessem recuado na contestação, pois na sua compreensão nenhum outro cenário se lhe proporcionaria.
Ora ontem, preto no branco, o jornal i, relata que o Governo de facto encostou o sindicato dos pilotos à parede. Não conseguiu evitar o pré-aviso, mas evitou a greve o que foi uma grande vitória. Fica esclarecido MST e também ficam os Portugueses de que claramente a este Governo interessam os desígnios nacionais e não os de corporativismos infantis e inconsequentes.
Agora o comunicado do sindicato terá várias leituras, mas tenho para mim que apenas salvaram a face. Esperemos que também o segundo período de greve seja desconvocado o quanto antes pois não há espaço nem lugar na sociedade do agora para este tipo de reivindicações sem sentido.
Afinal de contas, os senhores descontentes poderiam ter recentemente seguido os seus colegas mais sanguinários rumo ao Médio-Oriente. Parece que o dinheiro fala horrores por aqueles lados.