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editado por Pedro Correia às 20:34
Tinha gravado a versão condensada dos Óscares e, embora já estivesse devidamente a par dos laureados, só agora consegui ver.
Aconteceu mais uma vez um fenómeno para o qual não encontro explicação. Diria que é mais ou menos assumido para a comunidade cinematográfica que, salvo honrosas excepções como O Artista no ano passado, os Óscares visam premiar filmes de origem anglo-saxónica, ressalvando a existência de uma estatueta para o Melhor Filme Estrangeiro. Fair enough.
O que baralha o sistema e vem trazer situações de desconforto perfeitamente evitáveis são as nomeações de actores em filmes estrangeiros para as categorias de melhor performance que são depois, invariavelmente, preteridos a favor de gente que ainda tem muita sopa para comer nas cantinas do ofício.
Lembro-me do exemplo gritante da nomeação de Fernanda Montenegro, em 1999, pela actuação em Central do Brasil. Dora é, para qualquer actriz, a personagem de uma vida e Fernanda Montenegro fá-la crescer pelo filme fora. Logo aos primeiros dez minutos deixamos de reconhecer a senhora que nos entrava pela casa em historietas de novela e somos apresentados a uma mulher amargurada pela vida que desenvolve uma improvável amizade com uma criança de dez anos.
O Óscar foi parar às mãos de Gwyneth Paltrow, por Shakespeare in Love. A rapariga não ia mal, mas não são actuações comparáveis e se não era para oferecer o galardão a Fernanda Montenegro, mais valia nem a terem nomeado, que até era uma coisa de que ninguém estava à espera. Poupava-se o constrangimento de ver uma grande senhora a ser injustamente ultrapassada.
Este ano, o fenómeno bisou de forma igualmente gritante. Se era para dar o Óscar a Jacki Weaver, por que cargas de água resolveram meter Emmanuelle Riva na lista das candidatas? Quem viu Amour assistiu a uma actuação de excelência num papel impossível. O filme ganhou o prémio de Melhor Filme Estrangeiro e estava muito bem assim, não era preciso expor uma digna octagenária a um tal carnaval.
Um estrangeiro ser nomeado para um Óscar é uma honra. Mas perder o prémio para um americano que está vários furos abaixo pode ter um efeito perverso.
Desde há meia dúzia de anos que o governo permite que cada contribuinte possa doar 0,5% do seu IRS a uma instituição de solidariedade social que conste desta lista.
Assim:
- 99,5% irão para o Estado (em vez dos habituais 100%)
- 0,5% irão para a instituição escolhida
Para o fazer, basta escrever o número de contribuinte da instituição no Quadro 9 do Anexo H do Modelo 3. Desta forma, estarão automaticamente a oferecer 0,5% do valor do vosso imposto à instituição por vós seleccionada.
Do meu lado, porque é uma causa que me é querida, já tenho o donativo destinado à Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21 (NIF 502 465 298). Mas, seja para esta ou para qualquer outra instituição, importa não deixar de o fazer. Porque é fácil e pode fazer toda a diferença.
7.50 da manhã, Rita Prieto no seu melhor. "Ó mãe, ainda foi há pouco tempo que tu eras jovem, não foi?", "Ó Rita, eu ainda sou jovem", "Não mãe, a sério".
Estreia amanhã no Brasil o filme “Colegas”. Tive o privilégio de o ver em primeira mão, há um par de meses, no decorrer do Festival de Cinema de São Paulo, com direito a intervenção do realizador no final da fita.
Ganhou o Grande Prémio do Público.
Optei por não colocar aqui o trailer por me parecer que é redutor na medida em que se limita a apresentar um grupo de adolescentes com Síndrome de Down a fazerem palermices.
Marcelo Galvão, provavelmente por ser sobrinho de um portador da síndrome, conseguiu construir uma divertidíssima história com o olho e o par de ventrículos que só está acessível a quem convive de perto com estas pessoas. Chegou lá, à desarmante ironia e ao refinado sentido de humor, à pretensa ingenuidade que, por ser subestimada, raramente é tomada por inteligência pura.
Para nós, portugueses, há uma cereja inesperada a esborrachar-se no topo do bolo: o Rui Unas (actor com quem nem simpatizo particularmente) apresenta-se de forma hilariante a fazer de detective português.
Aplaudo a estreia do filme, como aplaudi de pé a sua apresentação, no meio de uma plateia de adolescentes trissómicos brasileiros, bonitos, espertos, bem arranjados e divertidos. E fico à espera que passe por cá.
Mãe ajuda Manuel Prieto a estudar para teste de inglês, sabendo de antemão que será necessário proceder a retrato físico e psicológico de uma personagem. “Olha lá para o teu irmão e diz-me como é que ele é”. Rapaz apressa-se a responder num inglês irrepreensível “he is ugly”. Segue-se a réplica “Ai é? And you are stupid and...loser”.
Mãe felicíssima por vocabulário ainda não se ter sofisticado ao ponto de incluir adjectivos do tipo “asshole” ou “duchebag”.
Há determinadas palavras que, depois da geração dos nossos pais, só terão lugar na literatura. Vide REPOSTEIRO.
Estou capaz de apostar que a expressão "assapar" tem origem etimológica na abreviatura anglo-saxónica "asap".
Espero sinceramente que no Brasil a palavra tenha um significado mais gourmet do que cá pelas nossas bandas.
(Nordeste Brasileiro, a alguns quilómetros de Ilhéus. Abril de 1999)